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Cuba: estudantes se revoltam com dolarização do uso de internet em celulares

As novas tarifas de internet para celulares em Cuba desencadearam uma onda de protestos estudantis sem precedentes desde a revolução castrista de 1959, refletindo a crescente frustração da população diante da dolarização da economia e do aumento das desigualdades sociais. Um grupo de diálogo foi criado nesta quarta-feira (11) entre a estatal de telecomunicações e alunos e professores universitários.

12 jun 2025 - 10h38
(atualizado em 12/6/2025 às 10h29)
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Desde que as novas tarifas entraram em vigor em 30 de maio — limitando o consumo de gigabytes em pesos e favorecendo a compra de recargas em dólares, inacessíveis para a grande maioria da população — os estudantes passaram a divulgar várias mensagens de protesto. Alguns chegaram a convocar uma greve das aulas. Após uma semana de manifestações, foi anunciada a criação, a partir desta quarta-feira, de um "grupo multidisciplinar" de diálogo entre representantes da companhia nacional de telecomunicações, Etecsa, e estudantes e professores de cerca de dez faculdades de Havana. Paralelamente, estudantes denunciaram nas redes sociais estarem sofrendo pressões por parte da segurança do Estado para recuar. Protestos vão mais longe Embora o estopim tenha sido a nova tarifação telefônica, a mobilização em várias faculdades do país também critica a condução da economia pelo governo nos últimos anos. Estudantes da Faculdade de Direito de Holguín, no leste do país, classificaram a medida como "excludente, elitista", e afirmaram que "todos os cidadãos deveriam gozar dos mesmos direitos (...), o que está sendo flagrantemente violado pela dolarização manifesta e crescente da economia cubana". "O dólar está se tornando cada vez mais a moeda principal deste país", indignou-se uma estudante de medicina durante um debate público em sua universidade, cujo trecho viralizou nas redes sociais. Segundo o opositor Manuel Cuesta Morua, a mobilização conecta os estudantes à tradição dos movimentos estudantis cubanos dos anos 1950, dos quais participou o ex-líder Fidel Castro. Eles estariam conduzindo "uma revolução dentro da revolução", e "resgatando o discurso original de uma revolução que se militarizou e se tornou conservadora" ao longo do tempo, afirma o dissidente. Leia tambémProtestos em Cuba podem perder aliados com avanço das detenções e cortes na internet Desvalorização vertiginosa Em um "Manifesto Estudantil", membros de várias faculdades da capital destacaram que "não se opõem ao governo, nem à Revolução, mas a políticas específicas que traem o ideal" socialista de equidade. Enquanto Cuba enfrenta sua pior crise econômica em mais de 30 anos, multiplicam-se os sinais de uma sociedade dividida: carros de luxo circulam pelas ruas de Havana, bares, restaurantes e lojas privadas exibem preços exorbitantes para o cubano comum. A causa é o acesso desigual ao tão cobiçado dólar. A grande maioria dos cubanos recebe salários em pesos, cuja desvalorização nos últimos anos foi vertiginosa. Isso alimentou uma inflação fora de controle e mergulhou muitas famílias em uma situação de precariedade inédita. Segundo o Centro de Estudos da Economia Cubana, ligado à Universidade de Havana, entre 2018 e 2023, a inflação acumulada foi de 190%, chegando a 470% no caso dos alimentos. O peso perdeu mais de 1.000% de seu valor. Diante da crise — agravada pelo endurecimento do embargo dos EUA, uma economia centralizada ineficiente e uma fracassada reforma monetária — o governo do presidente Miguel Díaz-Canel tenta, por todos os meios, captar moeda estrangeira. Dolarização da economia Com isso, acelerou a dolarização dos setores de alimentação, combustíveis e agora da telefonia móvel, marginalizando ainda mais quem não tem apoio financeiro do exterior. Para os estudantes, a nova tarifação — justificada pela Etecsa como necessária para manutenção dos serviços e novos investimentos — foi "a gota d'água". Segundo a economista Tamarys Bahamonde, da Universidade de Washington, nos EUA, isso revela o "nível de desconexão entre quem toma as decisões e o sentimento dos cidadãos cubanos". A Etecsa, como monopólio estatal, "deveria prestar contas à população há muitos anos sobre os problemas de capitalização e infraestrutura", acrescenta. As medidas corretivas anunciadas em favor dos estudantes não apaziguaram de imediato os protestos, pois os estudantes exigem políticas que beneficiem toda a população. Manuel Cuesta Morua observa "que o discurso sobre as necessidades gerais da população foi transferido do governo para os estudantes" e vê nessa mobilização "um alerta" para o poder. (com AFP)

Rapaz usa celular em Havana em 4/6/2025.
Rapaz usa celular em Havana em 4/6/2025.
Foto: AFP - YAMIL LAGE / RFI
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