Conflitos em Gaza e na Ucrânia alavancam venda de armas, mostra relatório de instituto sueco
As vendas dos 100 maiores fabricantes de armas do mundo atingiram um novo recorde em 2024, impulsionadas pelas guerras na Ucrânia e em Gaza, segundo relatório publicado nesta segunda-feira (1°) pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri).
No ano passado, as vendas totalizaram US$ 679 bilhões (R$ 3,53 trilhões), o que representa aumento de 5,9% em relação a 2023. Entre 2015 e 2024, a receita dos 100 maiores fornecedores cresceu 26%, segundo o documento.
"No ano passado, as receitas globais dos fornecedores de armas atingiram o nível mais alto já registrado pelo instituto, com os produtores aproveitando a forte demanda", declarou Lorenzo Scarazzato, do programa de Gastos Militares e Produção de Armas do instituto.
Jade Guiberteau Ricard, representante do instituto que atua no mesmo programa, explicou que "isso se deve principalmente à Europa", embora "todas as regiões tenham aumentado, exceto Ásia e Oceania". De acordo com ela, o aumento da demanda na Europa está ligado à guerra na Ucrânia e "à percepção da ameaça da Rússia pelos Estados europeus".
Essa evolução se deve às necessidades da própria Ucrânia e às dos países que enviaram material ao país e precisam reconstituir seus estoques. Em vários países europeus, "vemos muitos planos de modernização em andamento que representarão uma nova fonte de demanda", acrescentou Guiberteau Ricard.
Problemas de abastecimento
Trinta e nove dos 100 principais fornecedores de armas são americanos, incluindo as empresas Lockheed Martin, RTX (antiga Raytheon Technologies) e Northrop Grumman, que ocupam as primeiras posições. No geral, os fabricantes americanos registraram faturamento combinado em alta de 3,8%, chegando a US$ 334 bilhões (R$ 1,74 trilhão), quase metade do total mundial.
No entanto, atrasos afetam vários programas importantes nos Estados Unidos, como o caça F-35 e o submarino da classe Columbia. Na Europa, o faturamento agregado das 26 maiores empresas de armamento aumentou 13%, para US$ 151 bilhões (R$ 785,2 bilhões).
A empresa tcheca Czechoslovak Group, beneficiada pela Iniciativa Tcheca de Munições, que fornece projéteis de artilharia à Ucrânia, viu sua receita crescer 193%, chegando a US$ 3,6 bilhões (R$ 18,7 bilhões). Este foi o maior aumento registrado, segundo o documento.
Os fabricantes europeus também enfrentam dificuldades para atender ao crescimento da demanda. As francesas Airbus e Safran, que antes de 2022 obtinham metade do titânio na Rússia, tiveram de buscar novos fornecedores.
As restrições à exportação de minerais críticos impostas pela China também levaram empresas como Thales, na França, e Rheinmetall, na Alemanha, a custos mais altos devido à reestruturação da cadeia de suprimentos.
Dois fabricantes russos também figuram entre os 100 principais fornecedores. Rostec e United Shipbuilding Corporation viram suas receitas combinadas aumentar 23%, para US$ 31,2 bilhões (R$ 162,2 bilhões), apesar da falta de componentes causada pelas sanções internacionais, com a demanda interna compensando amplamente a queda das exportações.
A indústria russa de armamentos tem dificuldade para encontrar mão de obra qualificada "para sustentar as taxas de produção projetadas necessárias para atingir os objetivos de guerra da Rússia", observa o relatório.
Armas israelenses
A região Ásia e Oceania foi a única a registrar queda nas receitas globais das empresas sediadas ali, 23 no total, com recuo de 1,2%, para US$ 130 bilhões (R$ 676 bilhões). Para o instituto, a situação na Ásia não é homogênea: as empresas chinesas venderam menos armas, enquanto a receita dos fabricantes japoneses e sul-coreanos cresceram, impulsionadas pela demanda europeia.
"Uma série de alegações de corrupção nas compras de armas na China levou ao adiamento ou cancelamento de contratos importantes em 2024", declarou Nan Tian, diretor do programa de Gastos Militares e Produção de Armas. Essa queda acentuou "a incerteza" em torno dos esforços da China para modernizar seu Exército, acrescentou.
Nove das cem principais empresas de armamento estão sediadas no Oriente Médio, com receitas combinadas de US$ 31 bilhões (R$ 161,2 bilhões). Três delas são israelenses e representam mais da metade desse montante (+16%, para US$ 16,2 bilhões - R$ 84,2 bilhões). "O crescente contencioso contra as ações de Israel em Gaza parece ter tido pouco impacto no interesse por armas israelenses", destacou a pesquisadora Zubaida Karim, citada em comunicado.