PUBLICIDADE

Mundo

Brics menciona crises internacionais, mas deixa de fora Venezuela e Bolívia

14 nov 2019 - 15h36
(atualizado às 15h39)
Compartilhar
Exibir comentários

A declaração de Brasília que encerrou a cúpula dos Brics nesta quinta-feira tratou de problemas humanitários internacionais em oito diferentes países, como Iêmen e Coreia do Norte, mas deixou de fora as violentas crises na Venezuela e na Bolívia e todos os temas da América Latina de um modo geral.

 14/11/2019 Pavel Golovkin/Pool via REUTERS
14/11/2019 Pavel Golovkin/Pool via REUTERS
Foto: Reuters

Questionado sobre por que temas que envolvem diretamente as fronteiras brasileiras não estão relacionados no capítulo de conjunturas regionais, um dos diplomatas envolvidos nas negociações dos Brics afirmou que a declaração costuma tratar apenas de temas de "envergadura internacional".

De acordo com informações levantadas pela Reuters com fontes brasileiras e sul-africanas, havia uma expectativa inicial de levar o assunto Venezuela à plenária dos presidentes, mas nem isso chegou a ser feito, assim como o Brasil desistiu até mesmo de levar à mesa de negociações uma menção ao país por concluir que não haveria chance de um acordo por "divergências ideológicas".

O Brasil chegou a fazer uma sondagem inicial sobre os termos que poderiam ser usados para incluir uma condenação à crise venezuelana, mas detectou-se que não haveria possibilidade de acordo. Aliados do governo de Nicolás Maduro, China e Índia têm posições opostas ao governo brasileiro da situação venezuelana.

"Venezuela não está na agenda, não é um assunto para esta cúpula. Até onde lembro isso não foi discutido pelos líderes na sessão fechada e nem na plenária", disse Wang Xiaolong, enviado especial ao Brics do Ministério das Relações Exteriores da China.

Com uma crise que já chega a 4 milhões de refugiados, a Venezuela tem sido tema de discussões em outros organismos internacionais como as Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos (OEA). Nos nove parágrafos estão citadas crises como a questão do Iêmen, Israel e Palestina, Líbia e Coréia do Norte.

O esforço de negociação brasileiro conseguiu incluir na declaração uma questão cara à bancada evangélica, tradicional apoiadora do presidente Jair Bolsonaro, a de uma defesa das minorias étnico-religiosas na Síria, fundamentalmente as de origem cristã. O assunto foi tratado em diversas reuniões entre o chanceler Ernesto Araújo e a bancada evangélica. "É um tema muito caro ao governo", confirmou a fonte.

A declaração deixou de fora dessa vez a defesa do trabalho da Agência de Assistência aos Refugiados Palestinos no Oriente Médio (UNRWA), incluída em 2018 depois que os Estados Unidos cortaram praticamente todo o seu financiamento ao organismo.

Dessa vez, ao adotar um discurso alinhado ao americano e ao israelense, que diz cobrar transparência no uso de recursos, o Brasil inviabilizou a defesa feita pelos Brics do trabalho da agência, do qual depende uma parte considerável dos palestinos.

"Não houve um consenso. O Brasil apoia o trabalho da agência, continua apoiando, mas defende que seu trabalho avance com absoluta transparência. É accountability", disse o diplomata, que não quis ser identificado.

Isolado em sua posição, o governo brasileiro terminou por impedir que a menção à UNRWA entrasse no texto final.

Apesar de pontos comuns na defesa do multilateralismo e do incremento na cooperação entre os cinco países que compõe o bloco, a primeira cúpula do grupo tocada pelo governo Jair Bolsonaro revelou divergências políticas com seus parceiros de blocos, centradas basicamente em questões ideológicas.

O alinhamento automático do atual governo brasileiro com os Estados Unidos opõe o país a China e Rússia, tradicional rivais políticos e econômicos dos americanos.

Reuters Reuters - Esta publicação inclusive informação e dados são de propriedade intelectual de Reuters. Fica expresamente proibido seu uso ou de seu nome sem a prévia autorização de Reuters. Todos os direitos reservados.
Compartilhar
Publicidade
Publicidade