'Estamos mal, mas estamos unidos': manifestantes protestam contra presidente interino no Peru
Os protestos contra o novo governo no Peru nesta quarta-feira (15) deixaram um morto e mais de 100 feridos, entre manifestantes e policiais. A crise de segurança no país precipitou a destituição da presidente Dina Boluarte, na sexta-feira (10) e gerou novas manifestações após o presidente do Parlamento, José Jerí, assumir o comando do país em julho.
Os protestos contra o novo governo no Peru nesta quarta-feira (15) deixaram um morto e mais de 100 feridos, entre manifestantes e policiais. A crise de segurança no país precipitou a destituição da presidente Dina Boluarte, na sexta-feira (10) e gerou novas manifestações após o presidente do Parlamento, José Jerí, assumir o comando do país em julho.
Carlos Noriega e Martin Chabal, correspondentes da RFI em Lima, com agências
Diversos grupos e organizações, incluindo jovens da geração Z, convocaram um protesto nacional nesta quarta-feira (15) contra o presidente interino, exigindo ações concretas para enfrentar a crescente insegurança, corrupção e crise política no país.
Milhares de pessoas se manifestaram pelas ruas do centro de Lima e em outras cidades do interior. Segundo a Coordenação Nacional de Direitos Humanos, principal ONG peruana, "a vítima teria sido atingida por um disparo que pode ter sido feito por um policial à paisana".
O presidente do Parlamento peruano, José Jerí, assumiu interinamente a presidência do país em julho, apesar de estar sendo investigado por estupro. A denúncia, aberta em janeiro de 2025, foi arquivada em agosto pelo Ministério Público por falta de provas. Ele sempre negou as acusações.
Os protestos que pressionaram o Congresso a destituir a ex-presidente Dina Boluarte agora visam a saída de Jerí, que enfrenta rejeição de mais de 90% da população. Apesar da destituição da ex-presidente, a situação política continua bloqueada, ressalta a historiadora Lissell Quiroz, da Universidade Cergy Paris Université, na região parisiense.
"Não há um grupo político que encarne a renovação e gere confiança sobre as possibilidades de sair desta crise, que já dura dez anos. A eleição presidencial acontece em 12 de abril de 2026 e restam alguns meses para prepará-la, mas por enquanto não há nenhuma força política que se destaque", analisa.
A juventude peruana, que está em peso nas ruas, já conheceu seu sétimo presidente da República em oito anos. Sebastian tem apenas 20 anos e diz que está nas ruas pelo "seu país", mas também porque está sempre "preocupado com o pai", motorista de ônibus - pelo menos 47 motoristas de ônibus assassinados desde janeiro. "Ligo sempre para saber se está tudo bem, se vai voltar para casa", conta.
Já Daniel responsabiliza uma "classe política que parece não reagir", apesar da desaprovação generalizada. "Gostaríamos que anulassem todas as leis sobre o desmatamento. Somos contra todas essas leis que beneficiam organizações criminosas."
Nas próximas eleições presidenciais, um de cada quatro eleitores tem menos de 30 anos e o apoio dos jovens é fundamental. "Obviamente não me orgulho de ver todos esses manifestantes, porque isso mostra o quanto estamos mal, mas fico feliz por termos conseguido reunir tanta gente, porque isso prova que estamos unidos como povo", diz Christian, outro jovem que esteve nos protestos.
"Estamos fartos da corrupção", explicou outro manifestante. Jerí, que também enfrenta acusações de corrupção, é visto por muitos como uma "nova" Boluarte. "Quero um país no qual eu seja livre e possa fazer justiça a tantas mortes", afirmou outro participante. O recém-nomeado gabinete ministerial, liderado por um jurista de extrema direita que chamou os manifestantes de "subversivos", aumentou a indignação contra o novo governo.
Violência
A manifestação pacífica terminou em repressão quando a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes.
O presidente Jerí denunciou a infiltração de "delinquentes que vieram semear o caos" e garantiu que "toda a força da lei será aplicada contra eles. A expressão nas ruas é um direito. No entanto, não permitiremos a violência como meio de ação", escreveu.
Os confrontos de quinta-feira elevam para pelo menos 176 o número de feridos nas manifestações das últimas semanas, entre policiais, manifestantes e jornalistas, segundo autoridades e fontes independentes.