Em Bonn, países buscam consenso em metas climáticas antes da COP30 em Belém
Nesta segunda-feira (16), começa em Bonn, na Alemanha, a SB 62, como é chamada a reunião de junho das Nações Unidas para o clima. Este é o último grande encontro para que as mais de 190 delegações presentes obtenham consenso na busca de soluções viáveis para a crise climática durante a COP30, em novembro. Não há previsão de divulgação de adoção de documentos formais.
Vivian Oswald, correspondente da RFI no Rio de Janeiro Nos próximos dez dias, os países têm a oportunidade de acelerar a agenda climática, caso queiram obter resultados concretos até a COP30, em Belém. Estão em discussão as metas dos indicadores de adaptação e as pendências da COP29, realizada no ano passado, em Baku, no Azerbaijão. Outro ponto-chave é definir um roteiro para viabilizar os US$ 1,3 trilhão necessários ao financiamento de medidas que evitem que o aquecimento global ultrapasse 1,5°C. A transição energética deve ganhar destaque. A presidência da COP30 ainda divulgará sua quarta carta, documento que apresentará a agenda de ação. Há grande expectativa da presidência brasileira da COP30 de avançar com a pauta. A intenção é sair de Bonn com pontos importantes acordados, para que não se perca tempo em Belém. O risco é que atrasos comprometam os resultados esperados. A COP30 ocorrerá em um contexto geopolítico complexo. A expectativa é que, durante o evento em Belém, em novembro, seja divulgado o chamado "mapa do caminho para US$ 1,3 trilhão". O documento está sendo elaborado em conjunto pela presidência brasileira da COP e pela COP29, do Azerbaijão. O valor foi definido na última conferência, em Baku, como necessário para financiar ações contra a mudança do clima, mas não se trata de uma meta formal, o que dificulta os compromissos. A meta estabelecida no fim da COP29 é de US$ 300 bilhões por ano até 2035. Mesmo essa meta enfrenta incertezas, diante da falta de consenso entre países desenvolvidos e em desenvolvimento sobre a divisão dos custos e a participação de recursos públicos e privados. Vale lembrar que a meta de US$ 100 bilhões anuais, acertada no Acordo de Paris, não foi cumprida pelos países ricos. Em Bonn, os termômetros registram temperaturas acima da média para a estação. No rio Reno, que passa atrás do prédio da ONU onde ocorre o evento, navios carregando carvão e gás são visíveis — sinal de que a demanda por energia de grandes emissores segue elevada. Nesse cenário, os países tentam encontrar soluções para as emissões e definir posições sobre o futuro dos combustíveis fósseis, buscando reduzir seu uso de forma gradual, sem penalizar as nações mais pobres. Trata-se de um jogo de xadrez diplomático. Agenda de ação A presidência da COP30 deve divulgar nesta semana sua quarta carta. O documento apresentará os tópicos da agenda de ação, com os pilares do mutirão global proposto pelo presidente da conferência, o embaixador André Corrêa do Lago. A Secretaria Extraordinária para a COP30, vinculada à Casa Civil, também pretende aproveitar o momento para divulgar avanços na logística do evento em Belém. Uma das principais preocupações dos participantes é a falta de quartos de hotel e a infraestrutura da cidade. Em Bonn, também serão discutidas as metas de adaptação. A Meta Global de Adaptação (Global Goal on Adaptation, ou GGA, na sigla em inglês) busca proteger as populações dos efeitos da mudança do clima, especialmente as mais vulneráveis. Segundo a diretora da COP30, Ana Toni, apenas a tragédia no Rio Grande do Sul deve custar R$ 100 bilhões aos cofres públicos. A GGA orientará os planos e políticas de adaptação em curso. Poucos avanços foram registrados até agora. Na COP28, os países concordaram com uma base sólida, com objetivos globais e áreas-chave para ação. No entanto, não foram definidas metas quantificáveis nem iniciativas para mobilizar financiamento, tecnologia e capacitação. Os negociadores terão de resolver essas questões até 2025. Financiamento O financiamento é um dos temas centrais até o fim do ano. A presidência da COP30 segue tratando do assunto com os chefes das delegações. O mesmo ocorre no âmbito do Círculo de Ministros de Finanças da COP30, lançado em abril e liderado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. As discussões envolvem desde a reforma do sistema financeiro multilateral até melhorias no acesso ao financiamento climático e na liberação de investimentos em larga escala. Também estão em pauta instrumentos financeiros inovadores para atrair capital privado e marcos regulatórios — como os mercados de carbono. Esses elementos devem compor o documento-base do Mapa do Caminho Baku-Belém.