Cúpula do Mercosul evidencia divergências entre Lula e Milei sobre o papel do bloco
O presidente da Argentina, Javier Milei, fez um apelo firme nesta quinta-feira (3) aos países do Mercosul, pedindo reformas que promovam maior liberdade comercial. Caso contrário, advertiu, a Argentina seguirá seu próprio caminho, pois "não pode esperar". Já o líder brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a importância do bloco regional.
O presidente da Argentina, Javier Milei, fez um apelo firme nesta quinta-feira (3) aos países do Mercosul, pedindo reformas que promovam maior liberdade comercial. Caso contrário, advertiu, a Argentina seguirá seu próprio caminho, pois "não pode esperar". Já o líder brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a importância do bloco regional.
"Temos uma necessidade urgente de mais comércio, mais atividade econômica, mais investimentos e mais empregos. Portanto, temos uma necessidade urgente de mais liberdade", declarou Milei durante a cúpula do Mercosul, realizada em Buenos Aires, com a presença dos chefes de Estado do Brasil, Uruguai, Paraguai, Bolívia e da própria Argentina.
"Seguiremos o caminho da liberdade, acompanhados ou sozinhos, porque a Argentina não pode esperar", reforçou o presidente argentino, que ao final do encontro passou a presidência rotativa do bloco ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Milei disse esperar que a próxima presidência do bloco "acompanhe as medidas" voltadas à ampliação da liberdade comercial.
Não é a primeira vez que o argentino critica o Mercosul, que considera um entrave — uma "cortina de ferro", como voltou a afirmar na quarta-feira. Ele já ameaçou deixar o bloco, caso necessário, para buscar um acordo de livre-comércio com os Estados Unidos, especialmente se Donald Trump retornasse à presidência. Em março, o líder argentino chegou a afirmar que "a única coisa que o Mercosul conseguiu desde a sua criação foi enriquecer os grandes industriais brasileiros às custas do empobrecimento dos argentinos".
Durante o seu discurso, o presidente argentino destacou avanços obtidos sob a sua liderança no bloco, como a conclusão de um acordo com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), que reúne Noruega, Islândia, Liechtenstein e Suíça — países que não integram a União Europeia. A finalização do acordo foi anunciada na quarta-feira (2), e a assinatura está prevista para os próximos meses. Milei também se mostrou otimista sobre a conclusão, ainda este ano, das negociações para um acordo comercial com os Emirados Árabes Unidos, além de citar tratativas em andamento com El Salvador e, futuramente, com o Panamá.
Por fim, reafirmou o que chamou de "oportunidade histórica" representada pelo acordo de livre-comércio com a União Europeia — assinado no fim de 2024 após 25 anos de negociações, mas ainda pendente de ratificação pelos países europeus, especialmente diante da resistência da França.
Lula também defende acordos do Mercosul com outros blocos
Na sequência, em seu discurso de posse como presidente do Mercosul, Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a importância do bloco regional e destacou sua solidez institucional.
"Ao longo de mais de três décadas, erguemos uma casa com bases sólidas, capaz de resistir à força das intempéries. Conseguimos criar uma rede de acordos que se estendeu aos Estados associados. Toda a América do Sul se tornou uma área de livre comércio, baseada em regras claras e equilibradas", disse Lula. "Estar no Mercosul nos protege. Nossa tarifa externa comum nos blinda contra guerras comerciais alheias. Nossa robustez institucional nos credencia perante o mundo como parceiros confiáveis", defendeu.
O presidente brasileiro também demonstrou otimismo quanto à assinatura de acordos comerciais com a União Europeia e com a EFTA até o fim deste ano, "criando uma das maiores áreas de livre comércio do mundo". Lula também garantiu que, sob sua liderança à frente do bloco, o Mercosul "avançará igualmente nas negociações com o Canadá e com os Emirados Árabes Unidos" com vistas à celebração de acordos comerciais, além de se abrir para outros horizontes. "É hora de o Mercosul olhar para a Ásia", afirmou, ressaltando os benefícios de uma aproximação com países como Japão, China, Coreia do Sul, Índia, Vietnã e Indonésia.
(Com AFP)