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América Latina

Capriles não reconhece vitória de Maduro e exige recontagem de votos

15 abr 2013 - 02h04
(atualizado às 07h31)
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O candidato derrotado Henrique Capriles fala com jornalistas após a divulgação dos resultados oficiais
O candidato derrotado Henrique Capriles fala com jornalistas após a divulgação dos resultados oficiais
Foto: AP

O candidato da oposição à presidência da Venezuela, Henrique Capriles, não reconhece a vitória do candidato do governo, Nicolás Maduro, e exige a recontagem do total de votos. "Não vamos reconhecer o resultado até a recontagem de cada um dos votos dos venezuelanos, um por um. Exigimos do CNE (Conselho Nacional Eleitoral) que abram todas as urnas e que cada voto seja recontado", afirmou Capriles em entrevista coletiva.

Segundo o CNE, Maduro venceu com 50,66%, contra 49,07% para Capriles, uma diferença de 235 mil votos. Na Venezuela, o voto é feito em uma máquina que o transmite eletronicamente à sede do CNE em Caracas, que por sua vez emite um comprovante físico. Capriles pediu a contagem destes últimos.

"O derrotado de hoje é você (Maduro), e digo isto com toda firmeza", declarou Capriles, que tinha nas mãos uma lista de mais de 3,2 mil irregularidades detectadas neste domingo "no processo eleitoral".

O governador licenciado do estado de Miranda afirmou que entre irregularidades, votos no exterior e votos fraudados em várias seções eleitorais é possível somar mais "300 mil votos" para a oposição. "Se você somar tudo isto, estamos falando de um processo distinto". "Esta luta não terminou. Aqui vamos insistir até que se conheça a verdade".

Antes das declarações de Capriles, o candidato chavista já havia solicitado ao CNE uma auditoria sobre todas as urnas. "Solicito oficialmente ao Conselho Nacional Eleitoral a realização de uma auditoria (...) para que não fique dúvida sobre os resultados eleitorais", disse Maduro a uma multidão de chavistas reunida diante do Palácio Presidencial de Miraflores.

O pedido de Maduro e a exigência de Capriles vão no sentido da solicitação do reitor do CNE Vicente Díaz, que também defende uma auditoria sobre 100% das urnas, diante da vitória por margem mínima.

"Este resultado tão ajustado me obriga a solicitar ao Conselho Nacional Eleitoral a decretação de uma auditoria cidadã. Peço que se analisem 100% das urnas no país", disse Díaz. "Estamos vivendo uma situação de um país altamente polarizado e para garantir a tranquilidade das famílias venezuelanas e afastar qualquer dúvida sobre os resultados solicito que se abram 100% das urnas e se faça uma auditoria para determinar a consistência entre os comprovantes de voto e os resultados lançados no sistema", propôs Díaz.

Apesar do pedido de auditoria, Maduro reivindicou uma "vitória eleitoral justa" e "legal" na Venezuela. "A este povo hoje podemos dizer que tivemos uma vitória eleitoral justa. Foi um processo eleitoral justo". "Fiz um grande esforço percorrendo cada povoado desta terra bolivariana, esforço físico, emocional, moral, com dor na alma enfrentando a perda do nosso comandante" Chávez.

Maduro venceu com 7.505.338 votos, e Henrique Capriles obteve 7.270.403 votos, informou a presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Tibisay Lucena. A participação foi de 78,71% dos 19 milhões de eleitores habilitados

O resultado foi precedido pela troca de acusações entre governo e oposição envolvendo o processo eleitoral. "Alertamos o país e o mundo sobre a intenção de mudar a vontade expressada pelo povo" venezuelano, escreveu Capriles no Twitter. "Exigimos da reitora Tibisay Lucena o fechamento das seções eleitorais. Estão tratando de votar com as seções fechadas!" denunciou Capriles.

O secretário-executivo da coalizão opositora MUD, Ramón Guillermo Aveledo, advertiu o governo: "sabemos perfeitamente o que ocorre e eles também sabem, de modo que o chefe da campanha governista tem consciência de que engana o povo".

O vice-presidente venezuelano, Jorge Arreaza, reagiu advertindo que Capriles e a oposição devem ter "muito cuidado" com as denúncias. "Vamos ter consciência e respeitar o povo, nossos filhos e filhas, nosso futuro".

"Se vocês têm algum tipo de denúncia, aqui há instituições, há o Conselho Nacional Eleitoral. Oxalá isto seja (a denúncia) porque 'hackearam' a conta de Capriles como 'hackearam' a do presidente Nicolás Maduro", disse o vice-presidente.

O chefe da campanha chavista, Jorge Rodríguez, qualificou a denúncia de Capriles de "provocação" e "expressão da permanente agressão contra a institucionalidade democrática venezuelana".

Mais cedo, Rodríguez havia denunciado um ataque de hackers "à conta do nosso presidente (interino), candidato da pátria e filho de (Hugo) Chávez, Nicolás Maduro, e à conta do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV)".

A ação "é mais uma amostra do grande desespero (da oposição) e queremos fazer um apelo ao comando antichavista para que conserve a calma, que na democracia se ganha e não se perde", disse Rodríguez, atribuindo o ataque a "inescrupulosos e promotores da guerra suja elaborada a partir de Bogotá".

No sábado, Maduro denunciou uma "guerra suja que fazem a partir de Bogotá contra a paz na Venezuela, contra minha pessoa e contra o presidente".

Maduro acusou o assessor político venezuelano Juan José Rendón de dirigir um "grupo de guerra suja para envenenar o clima eleitoral e inocular ódio que provoque violência na Venezuela". J.J Rendón, como é mais conhecido, assessorou os presidentes venezuelanos Carlos Andrés Pérez e Rafael Caldera durante suas campanhas vitoriosas para as eleições de 1987 e 1993.

Capriles e Maduro mantiveram um discurso agressivo durante a campanha e esse tom mais elevado evidenciou a divisão social que reina no país, alimentada nos últimos anos pelo discurso polarizador de Chávez, que traçou uma linha divisória entre ricos e pobres e decidiu que quem não estava com ele, estava contra ele.

Quase 170 organizações internacionais acompanharam o processo eleitoral na Venezuela, entre elas o Centro Carter.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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