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América Latina

Atentado obriga elite a encarar tensão política no Chile

Apenas neste ano foram registrados cerca de 29 atentados no Chile, mas o episódio desta segunda-feira foi considerado "grave" e "diferente" dos anteriores

9 set 2014 - 12h07
(atualizado às 12h07)
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<p>Incidente aconteceu próximo à estação de metrô Escuela Militar, no bairro de classe média alta Las Condes</p>
Incidente aconteceu próximo à estação de metrô Escuela Militar, no bairro de classe média alta Las Condes
Foto: BBC News Brasil

A explosão ocorrida nesta segunda-feira em uma área nobre de Santiago, no Chile, surpreendeu os chilenos e foi interpretada por analistas ouvidos pela BBC Brasil como um 'alerta' para a elite chilena sobre a tensão política vivida no país.

O incidente, classificado como "atentado terrorista" pelo governo do país, ocorreu próximo à estação de metrô Escuela Militar, no bairro de classe média alta Las Condes, e deixou pelo menos dez pessoas feridas, duas delas em estado grave.

As primeiras informações apontam que a bomba teria sido deixada em uma caçamba de lixo perto de um restaurante na área de lojas da estação.

Em julho, um artefato explodiu dentro de um vagão do metrô em outra estação, a Los Dominicos, mas não houve feridos.

Apenas neste ano foram registrados cerca de 29 atentados no Chile, mas o episódio desta segunda-feira foi considerado "grave" e "diferente" dos anteriores.

Bomba que explodiu em metrô foi feita com extintor no Chile:

Autoridades do governo e analistas afirmaram que o atentado foi realizado "para deixar feridos" e "não para abrir caminho para roubos ou uma simples advertência" como em casos anteriores.

"Eu entendo que pelo lugar do atentado, onde mora a elite chilena, o objetivo era fazer um alerta. Pode ser a extrema direita dizendo à elite, reaja, reaja contra as reformas que estão sendo feitas pelo governo", disse à BBC Brasil a analista política Marta Lagos, diretora do Latinobarómetro, falando pelo telefone de Santiago.

Na avaliação de Lagos, existe uma "polarização inédita" no Chile com a "crescente insatisfação da extrema direita".

Segundo ela, setores políticos estariam insatisfeitos com o governo mais à esquerda da presidente socialista Michelle Bachelet, pela segunda vez à frente do país. Dessa vez, Bachelet incluiu o Partido Comunista em sua coalizão de governo.

A analista lembrou que o Partido Comunista estava fora da base governista desde a queda do presidente socialista Salvador Allende em 11 de setembro de 1973.

Lagos acrescentou que atentados como estes "não ocorriam" desde a gestão de Augusto Pinochet (1973-1990).

Tradicionalmente, por marcar o início da ditadura militar, setembro costuma ser um mês politicamente mais agitado no Chile, com protestos ou bombas isoladas por parte de grupos anarquistas.

Autoria

Para o analista político Guillermo Holzmann, professor de ciências políticas da Universidade de Valparaíso, "tudo leva a crer" que o atentado tenha sido obra de algum grupo anarquista.

"Os atentado anteriores foram praticados por anarquistas. Mas este ano, e especialmente no caso desta segunda, os ataques tiveram como objetivo afetar os transeuntes e o público em geral nos horários de grande movimento", disse Holzmann.

Para ele, a forma de atuar destes grupos, neste ano, sugere a intenção de deixar pessoas feridas e mortas.

"Os dois atentados, o de Los Dominicos, em julho, e esse agora, (em Las Condes), ocorreram em bairros de classe alta de Santiago, mas por onde transitam empregados e trabalhadores em geral que caminham por estas áreas", observou Holzmann.

Segundo ele, o desafio agora será evitar outro atentado, com maior policiamento e inteligência policial.

Ele lembrou que os anarquistas chilenos defendem um discurso 'geral de luta contra o imperialismo', mas salientou que nenhum grupo assumiu a autoria até a noite desta segunda.

"O que ocorreu é absolutamente anormal no Chile e por isso a preocupação de todos", afirmou.

Já Lagos acredita que o ataque possa ter vindo de opositores das reformas – tributária e educacional - realizadas pelo atual governo.

"São reformas que afetam interesses de anos no país, especialmente o setor empresarial", avaliou.

Reação

O episódio foi classificado por ministros do governo nacional como "atentado terrorista".

Já a presidente, Michelle Bachelet, prometeu aplicar a polêmica "lei antiterrorista" contra os autores do ataque.

Bachelet suspendeu a agenda desta segunda e também desta terça-feira.

"O que aconteceu foi horrível", disse a presidente à imprensa chilena.

Bachelet também afirmou que o Chile é um país "seguro" e que o governo espera aprovar uma nova lei antiterrorismo que vai aumentar o rigor contra atentados no país.

Com cerca de 17 milhões de habitantes, o Chile costuma ser apontado como exemplo na América do Sul por seus avanços econômicos e sociais.

No entanto, como destacaram Lagos e Holzmann, o país "ainda não resolveu" a desigualdade social.

Na opinião de Lagos, a desigualdade é também um motivo de insatisfação dos chilenos com os políticos, o que não estaria relacionado especificamente ao atentado desta segunda, segundo se especula até o momento.

O 'bombazo' – como o atentado é chamado no Chile – dominou o noticiário das emissoras de rádio e de televisão do Chile, onde apresentadores alertaram para o "temor" dos chilenos de embarcar no metrô depois do incidente.

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