Após condenação de Uribe, direita questiona Justiça e acentua polarização na Colômbia
A condenação do ex-presidente Álvaro Uribe a 12 anos de prisão por suborno de testemunhas e fraude processual acentua ainda mais a polarização da sociedade colombiana. A decisão da Justiça é extremamente contestada por seus apoiadores e por setores da direita, que alegam que o julgamento foi politicamente instrumentalizado.
A condenação do ex-presidente Álvaro Uribe a 12 anos de prisão por suborno de testemunhas e fraude processual acentua ainda mais a polarização da sociedade colombiana. A decisão da Justiça é extremamente contestada por seus apoiadores e por setores da direita, que alegam que o julgamento foi politicamente instrumentalizado.
Com informações de Najet Benrabaa, correspondente daRFI em Medellín,e agências
A sentença histórica, que tornou Uribe o primeiro ex-presidente condenado à prisão na Colômbia, foi anunciada na sexta-feira (1°) pela juíza Sandra Heresia. A magistrada também determinou uma aplicação imediata da decisão para impedir que o ex-líder de direita de 73 anos fuja do país.
Uribe, que governou a Colômbia de 2002 a 2010, indicou que vai recorrer da decisão. A juíza lhe deu prazo até 13 de agosto para apresentar seus argumentos por escrito.
Após a apelação formal, o caso seguirá para o Tribunal Superior de Bogotá, que tem até 16 de outubro para ratificar a condenação ou revogá-la.
Caso a condenação seja ratificada, Uribe poderá cumprir os 12 anos em prisão domiciliar. O ex-presidente também deverá pagar uma multa equivalente a R$ 4,63 milhões. Além disso, ele ficará inelegível para cargos públicos por oito anos e três meses.
Decisão contestada
A sentença foi extremamente contestada pela classe política de direita e simpatizantes do campo conservador. No entanto, foi aplaudida pela oposição e partidários da esquerda.
Diante do Tribunal Superior de Bogotá, dezenas de pessoas se reuniram para protestar contra a decisão de Sandra Heresia. "Justiça ajoelhada!", "Juíza corrupta!", bradaram manifestantes.
No começo da audiência, a magistrada se queixou de que o veredicto teria sido vazado para a imprensa antecipadamente. Segundo Heresia, um dos filhos do ex-presidente Uribe ajudou a divulgar a decisão, incitando os ataques contra a Justiça colombiana.
Entre os apoiadores do ex-presidente, se consolida o discurso de que o processo faz parte de uma estratégia da oposição para abalar a credibilidade de Uribe. Político popular entre o eleitorado conservador, ele conta com opiniões positivas acima dos 50%, apontam pesquisas.
Em entrevista à RFI, a advogada Tatiana Otalvaro avalia que o governo de esquerda do atual presidente Gustavo Petro se beneficia com a situação. "Só o fato de dizer que ele foi condenado e que é culpado gera uma confusão entre seu trabalho e sua gestão do país como presidente, e a própria condenação", avalia.
No entanto, a sentença é celebrada por setores progressistas como um marco no combate à impunidade na Colômbia. O professor de Filosofia Andrés Contreras diz à RFI que a condenação de Uribe devolve poder à justiça do país. "Acredito que se trata de uma grande decisão judicial, que mostra o quanto a separação dos poderes é importante e o quanto é essencial respeitar a independência da lei.
Dez anos de investigações
O caso teve início em 2012, quando o ex-presidente processou o senador de esquerda Iván Cepeda perante a Suprema Corte de Justiça, acusando-o de buscar depoimentos de paramilitares presos que o ligavam a grupos armados ilegais. Em uma reviravolta em 2018, a corte começou a investigar o político conservador por suspeitas de manipulações de testemunhas para prejudicar Cepeda.
Dois anos depois, na época em que Uribe era senador, ele renunciou ao mandato em uma manobra que o fez perder o foro privilegiado. Com isso, o caso foi transferido para a justiça comum. O processo contra Uribe foi retomado com força em 2024, após a nomeação da procuradora-geral Luz Camargo pelo presidente de esquerda Gustavo Petro.
Os dois rivais frequentemente entram em choque sobre o caso. A defesa do ex-presidente chegou a apresentar uma denúncia contra o atual presidente por "assédio e calúnia" perante uma comissão da câmara baixa do Parlamento colombiano, que tem poderes para investigar presidentes.
A decisão histórica de condenar um ex-presidente à prisão marca a corrida para as eleições presidenciais de 2026 na Colômbia, em que a direita tentará recuperar o poder. Já os progressistas têm a missão de encontrar um novo líder para manter a esquerda na presidência.
Ainda que até o momento não haja um sucessor claro para Petro, o senador Iván Cepeda vem atraindo os holofotes. Em entrevista ao canal do YouTube do jornalista Daniel Coronell nesta semana, esta célebre figura da esquerda colombiana afirmou que sempre foi "relutante" a ser candidato à presidência, mas ponderou que os últimos acontecimentos o "obrigam a pensar nisso".