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África

Violência contra mulheres egípcias não melhorou depois da revolução

25 jan 2013 - 06h04
(atualizado às 07h28)
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A revolução que derrubou o presidente egípcio Hosni Mubarak completa dois anos marcados por expectativas descumpridas, principalmente as que afetam as mulheres, que segundo os ativistas seguem indefesas perante a violência e o assédio sexual.

A Praça Tahrir do Cairo, que tantas manifestações abrigou nos últimos tempos, também se tornou conhecida por ter sido o local no qual algumas egípcias e estrangeiras foram atacadas e até violentadas, em um ambiente que em muitas ocasiões reage com passividade.

Mariam Kirollos, de 22 anos, contou à Agência Efe que sofreu assédio dentro e fora de Tahrir, o que a levou inclusive a gritar para advertir às demais pessoas do que estava acontecendo e evitar males maiores.

Sua condição de mulher e seu sentimento de "cidadã de segunda classe" foram o que levou Mariam a envolver-se no ativismo social para defender seus direitos, farta de ser vista como um "objeto sexual" e marginalizada da política.

"Nada mudou desde a revolução", lamentou a jovem, destacando que participa dos protestos na praça sem tomar nenhuma medida de prevenção especial porque "de nada adiantaria".

O medo do assédio sexual impulsionou distintos movimentos a organizar grupos de voluntários que vigiam a praça para proteger as manifestantes.

A chamada Operação contra o Assédio Sexual, da Iniciativa Egípcia para os Direitos Pessoais, recebe várias denúncias e sai em ajuda das vítimas, às quais depois se oferece para acompanhar a hospitais para que recebam tratamento médico e psicológico, ou à delegacia para fazer uma denúncia.

Cerca de 150 pessoas formam este grupo criado em novembro passado, segundo uma de suas integrantes, Dalia Abdel Hamid, que explicou à Efe que suas ações vão além e pretendem conscientizar os egípcios do problema através de campanhas midiáticas.

Já não é raro encontrar grupos de voluntários que, com coletes fluorescentes, sobem em torres e plataformas improvisadas para controlar uma Tahrir esvaziada de policiais e que apenas nos 18 dias da revolução em 2011 parecia estar livre do assédio sexual.

Atualmente, os ativistas têm pela frente o desafio de transmitir segurança nas manifestações desta sexta-feira, quando será comemorado o segundo aniversário da revolução.

Uma fundadora do movimento Tahrir BodyGuard, que prefere permanecer anônima, teme que se repitam os casos de assédio sexual e, por isso, seu grupo mobilizou seus seguidores pelas redes sociais para evitar que isso ocorra.

"Caso aconteça algum incidente, nossos voluntários, todos homens, intervirão tirando a manifestante da praça e levando-a a um lugar seguro. Evitamos qualquer tipo de violência contra o agressor, mas nem sempre é possível", comentou à Efe.

Em sua opinião, a iniciativa tenta minimizar esses incidentes, mas - ressaltou - são necessários projetos de longa duração e não só temporários como uma reforma da lei penal e uma maior educação.

Esta última necessidade se percebe quando as ruas do país se inundam de menores decididos a atacar mulheres em celebrações como a do Eid ul-Fitr, que marca o final do mês sagrado do Ramadã, o que motivou o Governo a anunciar no ano passado um projeto de lei para endurecer as penas aos culpados.

Apenas no Cairo foram registrados no ano passado 462 casos de assédio sexual durante essa festividade, segundo um recente relatório do Centro Egípcio para os Direitos das Mulheres.

Seus dados, recolhidos de uma pesquisa do Conselho Nacional da Mulher, são eloquentes: enquanto 51,6% das consultadas admitiram terem sido acossadas verbalmente, 32% disse ter sido vítima de atos físicos, enquanto 12% sofreu sequestros e estupros.

À pergunta de por que ocorrem estes fatos, a quarta parte das consultados o atribuiu à forma como elas mesmas têm de vestir-se e 17% à maneira de caminhar, mas 70% mencionou a falta de educação.

A sociedade começou a ser "mais ativa" contra o assédio, consideram os integrantes desse centro, que só em 2012 contabilizou mais de 50 passeatas contra a crescente discriminação das egípcias.

EFE   
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