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África

África do Sul: oposição 'branca' elege primeiro líder negro

Mmusi Maimane tem a missão de promover uma imagem acima de estereótipos raciais para a Aliança Democrática

10 mai 2015 - 21h53
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A Aliança Democrática, principal partido de oposição na África do Sul, elegeu neste domingo o primeiro líder negro de sua história. E a ascensão de Mmusi Maimane, de 34 anos, tem um simbolismo ainda maior pela ligação da legenda ao passado de segregação racial no país.

Maimane é um dos principais críticos do presidente sul-africano, Jacob Zuma
Maimane é um dos principais críticos do presidente sul-africano, Jacob Zuma
Foto: Gianluigi Guercia / AFP

Embora tenha sido fundada em 2000, a AD se originou dos grupos políticos que em 1948 instituíram o apartheid na África do Sul, regime que foi oficialmente abolido em 1994, com a eleição de Nelson Mandela.

Desde então, o Congresso Nacional Africano (CNA) venceu todas as eleições sul-africanas, contando com os votos da maioria negra do país - 79% da população total.

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E também com a percepção de que a AD representa os interesses da minoria branca. Na última eleição-geral, por exemplo, o CNA obteve 62% dos votos válidos, contra 22% da DA, apesar da impopularidade do presidente Jacob Zuma.

'Fantoche'

No mês passado, a líder da AD, Helen Zille, renunciou de forma inesperada. E deu entrevistas sugerindo que o partido precisava de um líder negro se quisesse realmente lutar mais seriamente contra o domínio do CNA.

Maimane, nascido em Soweto, bairro de Johannesburgo em que Mandela viveu nos tempos de militância política e armada contra a segregação, filiou-se à AD em 2009 e teve subida meteórica no partido. Formado em psicologia e teologia, ele fala seis línguas e ainda trabalha como pastor nos fins de semana. Por sinal, foi na igreja que conheceu a esposa, Natalie, que é branca - casamentos inter-raciais entre brancos e negros ainda são raros na África do Sul.

Embora críticos digam que Maimane carece de experiência política para enfrentar o CNA, ele ganhou notoriedade na África do Sul pelas acusações de corrupção ao presidente Zuma, em especial o escândalo em torno dos gastos de US$ 23 milhões em sua residência particular.

Jovem e carismático, ele já foi comparado ao presidente dos EUA, Barack Obama. E seu partido vai precisar desse prestígio para atrair votos. Maimane, porém, terá também de enfrentar o que já desponta como uma campanha de descrédito por parte do CNA. O político já foi chamado de "fantoche dos brancos" e um porta-voz do partido do governo disse que a Aliança Democrática está usando o novo líder para "esconder esconder seu racismo".

No entanto, mesmo a votação expressiva no ano passado não esconde o desencanto do eleitorado com o CNA, sobretudo junto à população mais pobre.

Durante a convenção da AD em Port Elizabeth, durante o fim de semana, Maimane afirmou ser importante que o partido se concentre em políticas mais focadas no bem-estar geral do que em discussões raciais.

Seu primeiro grande teste nas urnas serão as eleições municipais do ano que vem, em que o partido quer tirar do controle CNA cidades icônicas da África do Sul, como Johannesburgo e Pretória.

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