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"Mundo deve se preparar para conflito armado entre EUA e Irã"

14 jun 2019 - 16h32
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Após explosões em dois petroleiros no Estreito de Ormuz, especialista alemão alerta que acirramento militar pode ocorrer ainda sob o governo Trump. Para ele, há sinais claros de que Teerã está por trás dos ataques.O mundo deve se preparar para um conflito armado entre Estados Unidos e Irã, afirmou, em entrevista à DW, o especialista alemão em Oriente Médio Guido Steinberg, após dois navios petroleiros terem sido supostamente atacados nesta quinta-feira (13/06) no Estreito de Ormuz.

"Se a situação continuar como nos últimos dois meses, veremos um acirramento militar antes do fim da administração [de Donald] Trump", afirma Steinberg, que é um dos maiores analistas da Alemanha em terrorismo e assuntos do Oriente Médio.

Reforçando a teoria defendida por Washington, ele diz estar convencido de que Teerã está por trás das explosões na região, por onde passa diariamente um terço de todo o petróleo transportado por mar.

A afirmação vem após os Estados Unidos terem divulgado imagens que seriam de um navio iraniano removendo uma mina não detonada de um dos petroleiros atingidos. O Irã, por sua vez, nega ter atacado as embarcações e insiste que apenas ajudou nas operações de resgate.

DW: Os EUA estão claramente acusando o Irã.

Guido Steinberg: Eu estou convencido não pela argumentação dos EUA, mas simplesmente pela coincidência. É um modus operandi iraniano usar minas marítimas para mostrar aos americanos que eles conseguem atacar o fluxo de petróleo no Golfo Pérsico e no Estreito de Ormuz. Mas, ao mesmo tempo, eles não estão realizando um ataque direto. Eu acredito que há sinais claros de que os iranianos são os responsáveis.

O pano de fundo é o aumento das tensões entre EUA e Irã. A Quinta Frota da Marinha dos EUA está agora na região. Aonde pode chegar esse acirramento militar?

Ainda não sei. Depois da última tensão entre os países no mês passado [quando os EUA acusaram o Irã de responsabilidade no ataque a outros quatro petroleiros na região], houve um medo generalizado de que pudesse haver um acirramento militar. Mas houve uma distensão porque o presidente Donald Trump disse que, pessoalmente, não estava interessado [em um acirramento].

Seus assessores Mike Pompeo [secretário de Estado americano] e John Bolton [conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca], podem estar interessados num acirramento militar, mas Trump, não. E é por isso que penso que o perigo não é tão concreto como era há cerca de seis semanas. Mas ele continua existindo, porque a Guarda Revolucionária do Irã, que penso ser responsável pelos ataques, está claramente acirrando as tensões.

Esses ataques foram muito mais graves do que os realizados há quatro semanas porque eles estão sob constante pressão americana e, de acordo com sua visão de mundo e mentalidade, têm de mostrar que não cederão à pressão.

Esses são os elementos mais radicais da elite militar iraniana e lutam há quase 15 anos contra israelenses, sauditas e outras forças na região. E eles querem simplesmente mostrar o seguinte: estamos aqui e, caso vocês queiram nos atacar, EUA, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, nós podemos deter o transporte de petróleo que passa pelo Estreito de Ormuz. Essa é a mensagem clara desses eventos.

É uma área crítica porque por lá passa um terço do petróleo do mundo.

Sim. É simplesmente a região energética do planeta. Alguns dos maiores produtores de petróleo e gás estão localizados no Golfo Pérsico, entre eles a Arábia Saudita, Kuwait e o Catar, como exportador de gás. E o Estreito de Ormuz é uma passagem muito estreita.

Os iranianos, ao usarem minas marítimas, torpedos e outros armamentos, seriam capazes de impedir a passagem de muitos navios. E é por isso que esses eventos são tão arriscados. Se a situação continuar como nos últimos dois meses, veremos um acirramento militar antes do fim da administração Trump.

Deveríamos nos preparar para um conflito armado entre Irã e EUA?

Sim, deveríamos. Pode ser por coincidência, porque algo assim acontece no Golfo de Omã, Golfo Pérsico ou Estreito de Ormuz. Mas há outro ponto: os iranianos deram um ultimato aos europeus. Se os europeus não lhes oferecerem oportunidades para melhorar sua situação econômica, eles voltarão a enriquecer urânio após 7 de julho. Então nós teremos não somente a Marinha americana nos planos [de ataque], mas também a Força Aérea de Israel.

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