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Juan Guaidó, o líder oposicionista que desafiou Maduro

24 jan 2019 - 19h10
(atualizado às 19h19)
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Engenheiro de 35 anos que iniciou carreira política como dirigente estudantil chegou à chefia da oposição na Venezuela quase por acaso. Ascensão veio graças ao vácuo deixado pelas lideranças perseguidas pelo regime.Ao se autoproclamar "chefe de Estado interino" da Venezuela na quarta-feira (23/01), Juan Guaidó desafiou o homem mais forte da nação caribenha, Nicolás Maduro, como nenhum outro político opositor. Até 4 de janeiro de 2019, véspera de assumir a presidência rotatória do Parlamento, nada deixava entrever que o engenheiro industrial de 35 anos estivesse disposto a chegar tão longe.

Líder oposicionista Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente da Venezuela
Líder oposicionista Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente da Venezuela
Foto: DW / Deutsche Welle

Sua condição de integrante do Vontade Popular - tido como o mais radical dos partidos antichavistas - permitia prever uma gestão legislativa assertiva, mas sua breve biografia não dava base para se imaginar um cenário como o que atualmente protagoniza: de golpe. Sequer os próprios venezuelanos conhecem bem Guaidó.

Descrito como "centrista" por aqueles que o conhecem, apesar de seu partido ser membro da organização Internacional Socialista (IS), Juan Guaidó começou sua carreira política como dirigente estudantil social-democrata na Universidade Católica Andrés Bello, na capital venezuelana, Caracas. Pouco depois, seu nome apareceria entre os dos que fundaram o Vontade Popular em 2009.

Foi como representante da legenda que obteve seu primeiro cargo. Guaidó foi designado deputado suplente para o período entre 2010 e 2015. Em 2015, participou de uma greve de fome exigindo que as autoridades eleitorais - alinhadas com o governo - marcassem eleições parlamentares.

Seu sacrifício parece ter valido a pena: nas eleições legislativas de 6 de dezembro daquele ano, a oposição arrebatou do chavismo a maioria dos lugares no Parlamento, e Guaidó foi nomeado deputado pelo estado de Vargas, com mais de 97 mil votos, para o período de 2016 a 2021. Em seu caso, o resto é história em pleno desenvolvimento.

Salto na hierarquia

"Juan Guaidó chegou à presidência do Parlamento por acaso. E com isso não estou insinuando que ele não tenha os méritos requeridos para exercer o cargo", ressalta o sociólogo venezuelano Héctor Briceño, professor visitante da Universidade de Rostock. "O que quero dizer é que, na hierarquia de seu partido, existem dirigentes de maior peso que foram sendo inabilitados um a um. Isso abriu caminho para Guaidó chegar ao posto que hoje ocupa."

Leopoldo López, o líder do Vontade Popular, está preso em regime domiciliar; Freddy Guevara, ex-vice-presidente do Parlamento, está refugiado na residência do embaixador chileno em Caracas desde que o regime de Maduro o acusou de orquestrar os protestos contra o governo de 2017; e Carlos Vecchio, ex-coordenador do partido, optou pelo exílio quando foi acusado de responsabilidade pelas mortes ocorridas nas manifestações de 2014.

"Em todo caso, Guaidó dá a impressão de poder chegar a ser o líder ideal da oposição", destaca Briceño, que também é professor do Centro de Estudos de Desenvolvimento da Universidade Central da Venezuela. Para o sociólogo, o jovem engenheiro tem qualidades que lhe permitem ganhar a simpatia da elite política nacional e das ruas.

"Como ele não é uma figura dominante, Guaidó pode jogar o papel de mediador convincentemente. Ele não tem posturas estáticas, ele tenta escutar seus interlocutores e tem se mostrado disposto a representar setores muito díspares da oposição", afirma. "Por outro lado, sua juventude e o fato de não ter passado pela administração pública fazem com que ele inspire a confiança da sociedade civil."

Além disso, "nota-se em Guaidó que ele caminhou muito, que tem raízes em sua própria comunidade, que tem conhecimentos com setores que não são nem de classe média nem de classe alta e sabe como falar para elas. Isso o diferencia dos ocupantes anteriores da presidência da Assembleia Nacional", comenta Briceño, se referindo a Henry Ramos Allup, Julio Borges e Omar Barboza.

Quando ganharam juntos as últimas eleições legislativas, em dezembro de 2015, os membros da Mesa da Unidade Democrática (MUD) - a aliança de partidos de maior sucesso do antichavismo - concordaram em ocupar a presidência do Parlamento de forma rotativa: o Ação Democrática assumiu em 2016, o Primeiro Justiça, em 2017, e Um Novo Tempo, em 2018.

Ano desastroso para a oposição

"O ano de 2018 foi o mais desastroso para os adversários do regime chavista", diz o cientista político Fernando Mires. "Foi o momento em que a oposição se atomizou, em que a MUD se dissolveu em si mesma e em que foi fundada uma 'frente ampla' absolutamente inútil", explica o professor emérito da Universidade de Oldenburg.

Ele atribui a ambiguidade dos primeiros discursos de Guaidó como presidente do Parlamento a seu desejo de não alienar prematuramente nenhuma das facções antichavistas em discórdia.

"Naquele instante, Guaidó se dirigia à bancada aventureira, que exigia que ele se proclamasse chefe de Estado interino e instaurasse um governo de transição, e à bancada mais sensata, que o desaconselhou a tomar esse caminho", sustenta Mires.

Neste 23 de janeiro ficou claro a que grupo de opositores Guaidó falava com franqueza. "Ao se declarar 'chefe de Estado interino', acho que Guaidó cede ante a pressão interna do Vontade Popular, um partido propenso às posturas extremas, e ante a Casa Branca, que disse que o reconhece como presidente legítimo", afirma o especialista.

"Essas são pressões enormes e ninguém sabe o que vai acontecer agora. Se Guaidó está em contato com as Forças Armadas venezuelanas e está convencido de que o vão apoiar, seu passo é correto. Mas se não tem essa certeza, ele é um grande irresponsável, porque podem ocorrer coisas terríveis na Venezuela", conclui Mires.

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