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Joias ganham significados mais profundos

Símbolos de status e poder, elas aparecem como espécies de talismãs

28 jun 2020 - 05h12
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As joias como sinônimo de objeto valioso que se carrega não só como adorno, mas como símbolos de status e poder fazem parte da história da humanidade. Em tempos de pandemia e recessão global, qual o sentido em comprar joias? É claro que o mercado de luxo continuará existindo, talvez menor por algum tempo, mas a questão aqui não é o poder comprar e, sim, o porquê de comprar e de onde nascerá esse desejo.

Joias são normalmente usadas para sair, encontrar pessoas em festas, eventos, jantares, ocasiões em que mostramos quem somos e o que representamos na sociedade. Mesmo com o fim da quarentena, no "novo normal", ostentar, inclusive na moda, não é tendência. Fomos, então, em busca dessa razão ou justificativa para explicar um mercado que sobreviveu a todas as crises.

Existem entre as joalherias brasileiras artesãos que traduzem emoções e valores por meio de sua arte. É o caso da artista Paola Vilas, jovem carioca de 27 anos que lançou sua marca em 2016. Ilustradora, Paola via restrições no que se propunha a transmitir com desenhos e, assim, começou a esculpir. Suas peças são miniesculturas, nas quais a artista adiciona elementos de joalheria. "Todo o meu trabalho é baseado na tomada de consciência do feminino, em honrar o feminino, que é a força da criação em mulheres e homens", diz.

Em seu último trabalho, uma figura humana "cavalga" em um peixe voador, tema que vemos em colares, anéis e pulseiras. Em meio a tantos desafios a que temos sido submetidos, a arte tem o poder transformador, e entender a simbologia das peças de Paola cria a ponte necessária para que a compra faça sentido - transformando o supérfluo em essencial. "Estudei os peixes voadores (peixes com barbatanas peitorais que chegam a fazer voos rasantes de até 50 metros) e descobri que essa adaptação foi necessária para fugir de predadores. Me inspirar na natureza para criar peças que podem ser usadas como símbolos de força e rompimento de nossas crenças limitadoras é uma missão." A joia arte de Paola foi descoberta primeiro fora do País, como ocorre com muitos talentos nacionais.

Outro caso bem-sucedido, onde a tradição encontra um novo sentido para as joias no novo mundo, é o da Sauer. Tradicional joalheria carioca com mais de 80 anos, a Amsterdam Sauer passou os últimos anos pelo olhar atento e único de sua diretora criativa Stephanie Wenk e ressurgiu trazendo o melhor entre passado e futuro. "As pedras e o trabalho artesanal de lapidação são uma herança que a Sauer carrega. Hoje, entender a energia de cada gema traz as conexões que buscamos, uma energia que, às vezes, nos falta e pode ser equilibrada de fora para dentro", explica Wenk. "Meu trabalho é perceber o zeitgest, o espírito de uma época, e, através de símbolos e design, trazer a intenção para joias que tocam a alma."

O momento se mostra oposto ao fast, a compra rápida, por impulso. A relação humana com a joia é sempre de uma compra com maior compromisso, algo que passa de geração em geração - é expressão de um consumo mais consciente. Um nome novo que representa a visão de uma geração, Anthony Garcia, à frente da L/Dana, tem na criação de uma joia sob encomenda o momento de encontro com o DNA de cada um. "Não existe réplica nesse tipo de construção e essa joia age como um talismã", explica. Segundo o artista, a joia de 2020 não deve só enfeitar, é importante que a mensagem que a peça carrega seja clara para que a narrativa possa ser usada como plataforma; para que encontremos um sentido e, assim, possamos ressignificar a nossa própria vida por meio de histórias que as joias contam. Em sua mais recente coleção, chamada 'Entrelaços', o fio condutor foi um pedido de aproximação e entendimento: pessoas entrelaçadas em harmonia como deveria ser, em contraponto ao mundo polarizado em que vivemos.

Estadão
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