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Conversa com Moro sobre 2022 irrita aliados de Huck

Reunião com ex-ministro foi vista com ressalvas por articuladores do seu projeto político

8 nov 2020 - 23h31
(atualizado em 9/11/2020 às 11h09)
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Enquanto a eleição de 2022 não chega, o apresentador de TV Luciano Huck intensifica movimentos em busca de articulação para uma eventual candidatura à Presidência da República. O encontro mais recente ocorreu com o ex-ministro da Justiça e ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, e foi visto com ressalvas pelos conselheiros e articuladores do projeto eleitoral de Huck.

A aproximação entre Luciano Huck e o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, visando a uma possível chapa presidencial para 2022, irritou aliados do apresentador, que consideram o movimento prematuro. Huck vem fazendo encontros tanto com a direita quanto com a esquerda nos últimos meses. Para Flávio Dino, com quem o apresentador havia se reunido no início do ano, Huck "explode pontes" com a esquerda ao se aproximar do ex-ministro.

O núcleo que acompanha os movimentos do apresentador vê Moro como um nome ainda muito ligado à direita. Embora tenha rompido com o presidente Jair Bolsonaro, sua passagem recente pelo governo federal poderia tirar o caráter centrista que os apoiadores de Huck gostariam de dar a uma eventual candidatura. O encontro entre os dois, que ocorreu no último dia 30 no apartamento de Moro, em Curitiba, foi revelado ontem pelo jornal Folha de S.Paulo. O Estadão confirmou que eles almoçaram juntos.

Presidente do Cidadania, o ex-deputado Roberto Freire, que já abriu as portas do partido para Huck e tem atraído líderes de movimentos de renovação, disse ao Estadão que já sabia que Huck se encontraria com Moro. Ele defendeu o diálogo, apesar das diferenças políticas que tem com o ex-juiz, e afirmou que a prioridade para 2022 deve ser combater Bolsonaro.

Nem todos os políticos que têm tido contato com Huck pensam desse jeito. Também defensor de uma frente democrática para enfrentar o bolsonarismo em 2022, Flávio Dino disse que Huck "explode pontes" ao se aproximar de Moro. "Existe uma rejeição profunda a Moro na política e no mundo jurídico. É visto como extremista e mau caráter. Quem com ele se junta explode pontes e abre mão de ser um aglutinador", disse.

Neste domingo, 8, antes de comentar o encontro entre Huck e Moro, Dino postou no Twitter uma crítica ao ex-ministro por ter gravado vídeo em defesa de Capitão Wagner (PROS), candidato a prefeito de Fortaleza, acusado pelo governador Camilo Santana (PT) de ter incentivado o motim de policiais em fevereiro. "Moro grava vídeo para um extremista líder de motim. Começou muito mal sua tentativa de se reinventar como referência do 'centro'", escreveu. Wagner nega ter incentivado o motim e diz ter atuado pelo fim da paralisação.

O governador do Maranhão é um dos principais interlocutores de Huck na esquerda, já foi apontado como possível vice em uma chapa com o apresentador e defendeu publicamente a aproximação entre o global e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem é aliado.

O encontro entre Huck e Moro também repercutiu negativamente entre integrantes de movimentos de renovação política, como o RenovaBR e o Agora!, que foram pegos de surpresa. Apadrinhados por Huck, esses grupos tentam manter um caráter apartidário, recebendo integrantes de diferentes espectros políticos. Para integrantes desses grupos ouvidos reservadamente pelo Estadão, a identificação de Moro com a direita pode atrapalhar a divulgação desta bandeira.

A posição oficial do RenovaBR, que tem Huck no Conselho Consultivo, é de que "questões políticas particulares" do apresentador "não dizem respeito ou afetam o trabalho" do grupo. Procurados, Moro, Huck e o movimento Agora! não responderam até a conclusão desta edição.

Em setembro, o Estadão mostrou que, durante a pandemia, Huck intensificou conversas com políticos mirando 2022. Em evento na Associação Comercial de São Paulo no dia 22 daquele mês, ele foi questionado se tinha "coragem" de ser candidato a presidente. "Estou aqui", respondeu. A declaração destoou de comentários anteriores em que o apresentador evitava sinalizar de forma objetiva se pretende ser candidato.

O apresentador tem conversado com várias correntes políticas, mas tem evitado ser assertivo sobre seu futuro político. Aliados de Huck temem que, uma vez que a pré-candidatura seja oficializada e ele se filie a uma sigla, o apresentador perca espaço na TV e entre grupos da sociedade que não querem se associar a um determinado grupo político.

Há, no entorno do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, preocupação com a divulgação de seus passos. Moro tem adotado "perfil baixo" ao investir sobre o mundo político, por causa de recursos judiciais que o acusam de ser parcial para tentar anular ações condenatórias. A defesa do ex-presidente Lula é uma das que busca reverter casos por com base na "suspeição" do ex-juiz.

Quando demitiu-se do governo Bolsonaro, em abril, Moro disse que "sempre estaria à disposição do País". Moro é cortejado por partidos de centro-direita como o Podemos, que empunhou a bandeira da Operação Lava Jato no Congresso, embora abrigue políticos simpáticos a Bolsonaro.

"Todo mundo conversa com todo mundo", disse o senador Álvaro Dias (Podemos-PR), líder do partido no Senado e aliado de Moro. O senador paranaense disse que foi avisado do encontro, mas que o melhor caminho é a discrição. "Não sei se eles conversaram sobre o Caldeirão do Huck ou as sentenças do Moro", ironizou. / Colaborou Felipe Frazão, de Brasíla

Estadão
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