Estudo aponta presença de ultraprocessados em cardápios de creches de Porto Alegre
O trabalho avaliou aproximadamente 400 cardápios destinados a crianças de 0 a 3 anos, fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação (SMED)
Um estudo desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) aponta que produtos ultraprocessados seguem presentes nos cardápios de instituições de educação infantil conveniadas à rede pública de Porto Alegre, em desacordo com as normas do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
A constatação faz parte da dissertação de mestrado da pesquisadora Muriele Betencourt, apresentada ao Programa de Pós-graduação em Alimentação, Nutrição e Saúde. O trabalho avaliou aproximadamente 400 cardápios destinados a crianças de 0 a 3 anos, fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação (SMED), com o objetivo de analisar a qualidade nutricional das refeições e sua aderência às orientações do PNAE, que priorizam alimentos in natura, regionais e da sociobiodiversidade, além de restringirem ultraprocessados.
Os resultados indicam que apenas uma pequena parcela dos cardápios — 15,3% — atingiu o padrão considerado adequado pelo Índice de Qualidade da Coordenação de Segurança Alimentar e Nutricional (IQ COSAN). A maioria, 68,8%, apresentou necessidade de ajustes, enquanto 16% foi classificada como inadequada. Embora nutrientes importantes para a infância, como ferro heme e vitamina A, apareçam com frequência, a presença recorrente de alimentos industrializados foi apontada como um dos principais problemas.
Para a pesquisadora, o impacto vai além do aspecto nutricional. A alimentação oferecida nas escolas, especialmente na primeira infância, desempenha papel central na formação de hábitos alimentares. "A alimentação escolar é uma das primeiras experiências coletivas de cuidado e de educação alimentar que a criança vivencia. Por isso, é essencial que os cardápios reflitam as diretrizes do PNAE e promovam hábitos saudáveis desde cedo", destaca Muriele.
Criado há quase sete décadas, o PNAE é reconhecido internacionalmente por assegurar o direito à alimentação adequada a estudantes da rede pública. O programa também incentiva a compra de alimentos da agricultura familiar e valoriza ingredientes regionais como estratégia de promoção da segurança alimentar.