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RS: para Sartori, "governo é pluralidade democrática"

Aos 56 anos, Sartori entrou na disputa ao governo após permanecer pouco mais de um ano sem mandato

1 set 2014 - 12h00
(atualizado às 16h41)
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<p>Candidato do PMDB ao governo ga&uacute;cho apoia PSB na corrida presidencial</p>
Candidato do PMDB ao governo gaúcho apoia PSB na corrida presidencial
Foto: Luiz Chaves / Divulgação

A candidatura do peemedebista José Ivo Sartori ao governo do Rio Grande do Sul foi a mais atingida pelas alterações na corrida presidencial. No Estado, o PMDB está aliado ao PSB, que havia preenchido a chapa majoritária com o nome de Beto Albuquerque para a vaga do Senado. Sartori e o senador Pedro Simon, padrinho de sua candidatura, apoiavam Eduardo Campos (PSB) e mantiveram o apoio a Marina Silva após a morte do ex-governador pernambucano.

Simon assumiu o lugar de Beto na chapa. Mas o PMDB gaúcho, que antes de Marina já se dividia em três alas: a do alinhamento com o diretório nacional e o apoio a Dilma, a da campanha discreta pelo senador tucano Aécio Neves e a do trabalho pelo PSB; segue fragmentado.

O comando de campanha de Sartori aposta no crescimento acentuado de Marina para atrair mais adeptos tanto à ex-senadora como ao voto no peemedebista, que também calca o discurso na 'pluralidade democrática'.

Desde o início das sondagens eleitorais Sartori tem aparecido nas pesquisas como o preferido de uma parcela de cerca de 5% da população. Os adversários costumam dizer que “o PMDB é bem maior que isso”. Ainda não foram publicadas pesquisas depois do ingresso de Simon na chapa.

Aos 56 anos, Sartori entrou na disputa ao governo após permanecer pouco mais de um ano sem mandato. Ele, que já havia ocupado cadeira na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados, foi prefeito reeleito de Caxias do Sul (a segunda maior cidade do Estado) e, nas eleições de 2012, fez o sucessor. Abaixo, a entrevista que concedeu com exclusividade ao Terra.

Terra: Para a sua candidatura e para o PMDB gaúcho, quais as consequências da substituição de Eduardo Campos (PSB) por Marina Silva, da indicação do deputado Beto Albuquerque (PSB) para vice de Marina e da substituição de Beto pelo senador Pedro Simon (PMDB) na corrida ao Senado?

Sartori: Para o Rio Grande do Sul, para a Marina, para a história do Beto, esta indicação foi muito importante. O desastre político e familiar que se abateu sobre o Eduardo Campos conduziu o processo naturalmente para a Marina. O Beto já havia desempenhado papel fundamental nas nossas articulações, foi um condutor da nossa coligação no Estado. Para o RS é um orgulho tê-lo como vice na chapa de Marina. Ele terá um papel importante, o de equilibrar a chapa no processo.

Terra: No Rio Grande do Sul, a Marina, para os setores que a sua candidatura representa, é ou não um problema?

Sartori: No Rio Grande do Sul vamos seguir no mesmo caminho, na mesma toada. Se há uma coligação entre o PMDB, o PSB, o PSD, o PPS e mais os quatro partidos vinculados ao PPS, se mantém a normalidade.

Terra: Não há resistências do PMDB gaúcho e também de outros partidos da coligação ao nome de Marina e às posições que ela defende em relação a setores como o agronegócio e o da agricultura familiar?

Sartori: Qualquer um vai ter resistência, seja quem for. Com todo mundo sempre vai haver resistências. É o somatório de toda a unidade. Alguns setores enxergam a Marina como se ela fosse aquela candidata da eleição de 2010. Não é. Ela é a candidata da eleição de 2014, de outra conjuntura. Outro acerto nosso foi escolher o senador Pedro Simon para ingressar na disputa pelo Senado. Ele tem muita clareza neste processo de mudanças. Ajuda a coligação e o processo político brasileiro, porque foi fiador da composição Marina/Eduardo Campos. Além disso, agora a composição Marina/Beto tem um papel muito importante no que se refere às relações do Rio Grande do Sul com o governo federal, em especial no que diz respeito à questão da renegociação da dívida do Estado com a União. Já mantínhamos conversas com o Eduardo neste sentido, e a Marina vai manter os compromissos assumidos por ele.

Terra: É muito repetido, e o senhor tratou disto agora, que Eduardo Campos e Marina Silva representam o mesmo projeto, e que os apoios se dão em função do projeto, e não das pessoas. Só que este discurso se altera conforme a necessidade política. No caso de Campos, se fala no ‘legado’ de uma pessoa, não de um projeto. Mas quando a candidata é Marina, a justificativa para o apoio é o projeto, e não a pessoa.

Sartori: Houve momentos em que o País viveu determinadas situações. Na democratização, com o colégio eleitoral, apareceu um Tancredo. Era uma fase. Depois veio o Collor, depois veio o Fernando Henrique, que foi outra fase, de abertura a determinadas situações, uma situação nova na vida do País. Teve o Lula. E com certeza este processo que foi construído entre o Eduardo Campos e a Marina consolidou uma nova etapa da vida nacional, e politicamente. São questões que evoluem com naturalidade. É uma alternativa econômica e política que se apresentou para a vida do País. O que mais eu posso dizer? É a alternativa. Foi uma situação espontânea. Ela tem muita presença. Hoje a desilusão é crescente e espero que o fato ocorrido ali na frente não signifique desestímulo à atividade política. O que não pode ser é um processo individual. Temos é que resgatar o aspecto coletivo da vida nacional, e da vida política brasileira, para que todos assumamos com responsabilidade, com respeito, e com a pluralidade que é necessária. Sem preconceito. Estamos muito tranquilos em relação à Marina. Há uma animação muito grande e por isso acredito que esta evolução que ela apresenta será cada vez maior. Há um desejo latente por mudanças na sociedade brasileira que começa a se tornar presente.

Terra: Na eleição estadual o governador, que disputa um segundo mandato, enfrenta três adversários principais, entre eles o senhor. Os três têm dado prioridade aos questionamentos sobre a situação financeira do Estado. O governador responde aos questionamentos. Os adversários fazem muitas críticas à política do governo, mas evitam detalhar como, na prática, vão sanar as dificuldades. Como o senhor pretende resolver os problemas financeiros do Estado?

Sartori: É que vocês jornalistas querem sempre saber outras coisas. Eu tenho a responsabilidade política de 36 anos de vida pública. Fui vereador, deputado estadual, federal, presidente da Assembleia, secretário de Estado, duas vezes prefeito de Caxias do Sul. O Rio Grande do Sul merece um pouco de unidade. Sou daqueles que têm a cautela de achar que é preciso um mínimo de pacto em todas as referências dos pontos essenciais, que vão da dívida pública e da situação financeira, da infraestrutura, até as questões sociais mais sentidas pela população. Vou instalar um governo que seja capaz de governar o próprio governo, que seja capaz de prestar um bom serviço público e que possa recolocar o Rio Grande no lugar que ele merece no cenário nacional.

Terra: Como o senhor pretende viabilizar isso?

Sartori: Se eu for governador, espero ter o apoio da população, eu não vou governar para um partido. Vou governar para todas as regiões, todos os gaúchos e todos os setores da sociedade. Instalar um governo plural e democrático, comprometido com uma boa perspectiva política. Chega de Gre-Nal, de Ca-Ju, de Bra-Pel, de Ave-Cruz. E outra questão é a gestão. É preciso fazer gestão em todas as áreas do governo.

Terra: Há uma concordância no sentido de que as dificuldades financeiras do Estado se arrastam há décadas. E seu partido, o PMDB, é a sigla que mais esteve à frente do governo estadual desde a redemocratização. Foram três governadores, além da participação na gestão de Yeda Crusius (PSDB). O governo é mal gerido?

Sartori: Tenho a tranquilidade de olhar para esta realidade que está aí e não buscar culpados. Evidente que existem críticas que a própria população faz. Não se pode, por exemplo, praticar endividamento em cima de endividamento. Vamos entrar na luta. Governante é para assumir sua posição e enfrentar. Já foi demonstrado que o alinhamento das estrelas que foi prometido pelo atual governo trouxe menos recursos para o Rio Grande do Sul do que para Santa Catarina, que não tinha nada a ver com o governo Dilma.

Terra: Há uma guerra de números, entre os argumentos do governo e os dos adversários. Isto não confunde o eleitor?

Sartori: O que a população quer? Quer serviços públicos de qualidade. Isso vale para a saúde, para a infraestrutura, para a segurança. A educação, por exemplo. O piso do magistério. O governador atual criou o piso nacional do magistério. E quando os outros mostravam que não tinham condição de pagar, eles criticaram. Depois cometeram a mesma coisa. É mais grave ainda. Por isso que não dá para prometer o que não vai acontecer. Mas tem que negociar. É lei. Eu fui professor, conheço a realidade do magistério desde 1979. Dou o meu exemplo de Caxias do Sul. Se há algo que me agrada muito nos oito anos do nosso governo foi que em 2010 recebemos do Ministério da Educação o certificado de cidade livre do analfabetismo. E com condições avançadas de realmente produzir uma gestão na área da educação, inclusive com preparação para os diretores administrarem as escolas. Outra questão: estamos na época do mundo moderno, na digitalização avançada. E continuamos com ferramentas do século passado no serviço público, inclusive para a educação, a segurança e a saúde. A saúde, por exemplo, tem que ser mais descentralizada e mais regionalizada. Nós seremos os parceiros dos municípios porque não tem nenhum município no RS que hoje aplique na educação menos de 25% do seu orçamento. Como agente político, como governante, tem que ir lá buscar a descentralização dos recursos nacionais.

Terra: Para isso é necessário força política...

Sartori: Sim, mas é preciso se movimentar. Se ninguém tomar peito para fazer gestão, montar uma boa equipe, organizar as contas, não gastar indevidamente, gastar naquilo que é necessário, com metas, com resultado, com planejamento, evidentemente que não vamos modernizar o papel do poder público para a sociedade, que é o papel do governante.

Terra: É possível fazer isso em quatro anos?

Sartori: A gente tem que fazer aquilo que pode fazer. Por isso é que eu evito falar dos outros. Para quê? Acho que todos procuraram fazer o melhor que podiam. Agora, nós, temos a nossa maneira.

Terra: Então o senhor avalia como bom o atual governo?

Sartori: Isso é interpretação tua. Acho que ninguém deseja fazer o mal.

Terra: O senhor poderá lançar mão de empréstimos e depósitos judiciais para manter as contas?

Sartori: Não tem mais... Rasparam o tacho.

Terra: O senhor trabalha ou não com a possibilidade de usar os recursos dos depósitos judiciais?

Sartori: Eu acho que é preciso ter responsabilidade. Parar com o endividamento em cima de endividamento.  Quem quer fazer mudanças na gestão do Estado não vai fazer sem alguma dor. Reestruturação financeira, equilíbrio financeiro, não vai ser feito sem atitude, sem uma governança que realmente respeite os caminhos, a oportunidade de prestar um bom serviço e ter atitude política de mudar a relação com o governo federal. Isto (o atual governo) provou que quem é amigo do rei não consegue nada.

Coligações e tempo de TV Coligações e tempo de TV

Terra: O governo atual está fazendo um movimento no sentido de, a partir da votação da renegociação da dívida, aumentar o espaço fiscal para a obtenção de novos empréstimos. O senhor diz que não é possível aumentar o endividamento. Então onde pretende buscar recursos?

Sartori: Enquanto não houver um mínimo de unidade entre todos os setores da sociedade não ocorrerão mudanças. Isso significa, primeiro, um novo pacto federativo, resgatar as questões da Lei Kandir. E acho que deve ser feita uma reavaliação da dívida, inclusive, fazer um levantamento. Eu, em Caxias, tive coisas de precatórios do município que nós reavaliamos e não deu a metade do valor que tinha que se pagar. Reavaliar, fazer um levantamento de toda a dívida.

Terra: O PSol propõe uma auditoria da dívida. É esta a sua proposta?

Sartori: Não é bem auditoria. Isso é outra etapa, porque primeiro deve-se fazer o levantamento normal e estudar as questões que estão aí. As questões da dívida não podem ficar do jeito que estão. Do jeito que está (sendo negociado) há um alongamento, um alívio. Mas, na verdade, é preciso mudar a parcela. E outra coisa, um governo que tenha um mínimo de austeridade, de franqueza, de transparência. Para mostrar a realidade para todo mundo. E procurar o que é o princípio de uma gestão: integrar todas as secretarias. Uma gestão tem que ter metas, princípios, valores. E tem que ter inclusive resultados. A sociedade conhece a realidade financeira. Não adianta alguém ficar dizendo toda a hora que é isso, isso e isso, que ele está enxergando lá na rua dele, lá na estrada dele, está enxergando nas ações da segurança, da saúde, da educação, que a qualidade está diminuindo todo o dia. O Estado do RS na educação foi um dos mais bem avaliados do País durante muito tempo. É preciso treinar as pessoas, prepará-las, dar oportunidade, melhorar os projetos pedagógicos, e os equipamentos necessários nas escolas.

Terra: O pagamento da folha de servidores de carreira consome uma fatia para lá de generosa do orçamento. O senhor fala em equipar as escolas e em tecnologia. De onde virão os recursos?

Sartori: Tem 25%. Tem que ser bem gasto. Tem que ter gestão. Na segurança é a mesma coisa. Fazer aquilo que for fazer bem feito.

Terra: O senhor destaca sempre a unidade. Sendo eleito, chamará todos os partidos para discutir? O PT também?

Sartori: Vou chamar todo mundo e não vou dispensar ninguém.  O Rio Grande do Sul merece a unidade de todos nós. Um mínimo de pacto, unidade e convergência em cima de algumas questões básicas e de políticas públicas que devem ser aplicadas para superarmos esta fase.

Terra: Em termos de projeto político, o que lhe diferencia dos outros concorrentes?

Sartori: O que tem de diferente é que na composição da nossa aliança não temos todos a mesma orientação política e ideológica. Temos muitas diferenças entre nós. Como diferentes são todos os gaúchos. Em todas as regiões. Temos que procurar o equilíbrio entre estas diferentes regiões. Atender as vocações regionais, que sejam fortalecidas. E que não haja tanto desequilíbrio. Somos diferentes entre nós também: na cor, na cultura, na religiosidade, no folclore, na formação, na idade. Só que temos que entender que o Estado é maior do que todas as nossas diferenças. Alguém já afirmou isso. Não estou sendo em nenhum momento original.

Terra: Por que motivos o eleitor pode se identificar mais com o senhor do que com um de seus concorrentes?

Sartori: Nós estamos transitando em uma diversidade, em um leque de opções que consubstanciam o PMDB como um partido que está organizado em praticamente todo o Rio Grande do Sul. Com uma capilaridade político-social que vai desde o agronegócio até o envolvimento do pequeno agricultor, da agricultura familiar e também dos operários da área urbana e das camadas mais sentidas, mais vulneráveis da sociedade gaúcha. Não achamos que o governo é o Palácio. União. Pluralidade democrática. Foi o que fizemos também em Caxias do Sul, que alguns não entenderam. Mas a população entendeu.

Terra: O senhor acredita que com esta pluralidade poderá quebrar a polarização que existe na eleição estadual?

Terra entrevistou o candidato ao governo do Rio Grande do Sul
Terra entrevistou o candidato ao governo do Rio Grande do Sul
Foto: Divulgação
Sartori: Não nos preocupamos com isso. Nossa preocupação é trabalhar muito, correr, andar e não ter receio de fazer o trabalho que tem que ser feito. Nós temos aí quase 300 candidatos a deputado estadual ou federal. Entre prefeitos e vices temos quase 300 também, quase dois mil vereadores. E quando esse exército entrar em campo ou sair da caserna, com certeza obteremos os resultados que vão demonstrar que há um caminho diferenciado, uma postura diferente. Tivemos três governadores do PMDB. Todos eles foram protagonistas. Conhecemos as realidades que temos. O Simon, o Rigotto e o próprio Antônio Britto tiveram capacidade de formulação e de mudança muito significativas.

Terra: Houve mais diferenças ou semelhanças entre eles?

Sartori: Cada um teve o seu estilo e é isso que temos que respeitar. O Simon teve as questões das estradas, da energia elétrica. O Antônio Britto teve lá a sua presença na atração de investimentos muito fortes e com outras ações positivas. E o Rigotto teve aquela questão que, vamos dizer, também abriu caminho para a atração de investimentos. E ainda uma capacidade, as vezes não entendida, de pacificação da sociedade. Isto também é uma marca. E a soma de todos vai fazer esta caminhada ser diferente.

Terra: O senhor se considera mais semelhante a qual deles?

Sartori: Eu sou mais parecido com o José Ivo Sartori, ex- prefeito de Caxias.

Fonte: Terra
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