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Em São Paulo, 90% dos deputados vão participar das eleições 2018

Tendência aponta para menor renovação de parlamentares da história na Assembleia; em 2014, total de reeleitos chegou a 62

12 ago 2018 - 05h12
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Quase 90% dos deputados estaduais de São Paulo vão concorrer à reeleição ou a uma vaga na Câmara nas eleições 2018. Levantamento feito pelo Estado mostra que 77 parlamentares vão tentar continuar na Assembleia Legislativa de São Paulo, enquanto sete buscam um mandato de deputado federal e outros dez optaram por não participar do processo eleitoral. A quantidade de candidaturas à reeleição indica a possibilidade de que este seja o ano com o menor índice de renovação da história da Alesp, superando 2014, quando 62 deputados foram reeleitos - ou 69,1% da Casa.

O número de deputados estaduais reeleitos em São Paulo só aumenta desde 1990, quando 20 dos 84 parlamentares da Legislatura anterior foram reconduzidos à Casa. Em 1994, foram 24 reeleitos. Quatro anos mais tarde, quando a Alesp já tinha 94 deputados, o número de reeleitos quase dobrou - foram 44. Em 2002, 47 conseguiram permanecer na Casa; 49 em 2006 e, em 2010, o número de reeleitos chegou a 60.

"Vivemos um momento de não renovação", afirma a cientista política Vera Chaia, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). "Na Assembleia, acontece uma acomodação do parlamentar, já que é mais fácil se reeleger do que se candidatar a outro cargo. É uma segurança para ele, que já tem um cargo eletivo, tem conhecimento da Casa, é reconhecido pelos eleitores", diz.

Na avaliação do diretor da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Murilo Gaspardo, o "governismo" é uma prática inerente à Assembleia. "Quem já tem mandato está dentro desta rede, fazendo a intermediação entre prefeitos e governador. Acaba sendo um trunfo eleitoral. Assim, é mais fácil encaminhar-se para uma reeleição", afirma.

Após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de impedir que empresas doem para as campanhas, o Congresso Nacional definiu novas regras de financiamento para candidatos. Uma das novidades é o teto de gastos de R$ 1 milhão para campanhas de candidatos a deputado estadual, o que deve enfraquecer novas candidaturas.

"Isso com certeza favorece quem já tem mandato, o que justifica a reeleição. Sem ser conhecido e com pouco dinheiro, fica difícil quebrar a barreira do anonimato", afirma Marcelo Mingrone, professor do Complexo Educacional FMU. Para ele, um candidato nestas condições e filiado a um partido pequeno dificilmente conseguiria se eleger. "A renovação fica mais distante."

Gaspardo, da Unesp, aponta que a falta de dinheiro para financiamento das campanhas favorece também as celebridades. No Rio de Janeiro, por exemplo, a cantora de funk MC Carol deve registrar sua candidatura a deputada estadual pelo PCdoB. Nas eleições de 2014, o mesmo partido elegeu a cantora Leci Brandão para um mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo, com 71.136 votos.

"Os famosos costumam contar com autofinanciamento. É bom para ele e para o partido. O fato de ser famoso, por si só, já impulsiona essa candidatura", diz Gaspardo. Ele também cita candidatos vinculados a igrejas e sindicatos como outros beneficiados na corrida.

Militares

Na mesma lógica, a categoria dos militares também deve levar vantagem, afirma Vera Chaia, da PUC-SP. "Ao lado do religiosos, é o grupo que mais se beneficia porque possui a corporação por trás e são referendados por seus companheiros de farda", afirma. Estima-se que mais de cem militares das Forças Armadas são pré-candidatos a disputar algum cargo nas eleições.

A deputada Beth Sahão (PT) vê dificuldades para conseguir uma reeleição neste ano por conta da restrição de recursos e do menor tempo de campanha. "Estarei mentindo se disser que será fácil. As mudanças favorecem quem tem dinheiro e causam desequilíbrio na disputa", diz. A candidata acredita que os deputados estaduais devem ser os mais afetados dentro da estrutura partidária.

Na outra ponta, há uma minoria que preferiu afastar-se da Assembleia. O tucano Celino Cardoso abriu mão da candidatura após seis mandatos consecutivos - entrou na Alesp em 1995, junto com o PSDB no governo do Estado - para se dedicar à vida empresarial. "Foi uma decisão pensada com a família, de que chegou a hora de descansar e cuidar melhor das minhas empresas", afirma Cardoso, que atua no ramo hoteleiro e da construção civil.

Como é de costume entre caciques políticos, Cardoso tentará fazer um sucessor, no caso, sua ex-chefe de gabinete Sandra Santana, que tentará uma cadeira na Alesp pela primeira vez pelo PSDB. Em 2016, ele já ajudou a eleger a filha Aline Cardoso (PSDB) vereadora da capital - hoje ela é secretária de Trabalho da gestão Bruno Covas. (Colaboraram Fábio Leite e Ana Beatriz Assam)

Estadão
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