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Feliciano: se ensinam Darwin, que ensinem Moisés nas escolas

Deputado Marco Feliciano é autor do projeto de Lei que propõe o criacionismo na grade curricular das escolas; cientistas criticam

24 jun 2015 - 15h22
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Para o deputado, a Teoria da Evolução "não tem comprovação" e, portanto, daria margem ao ensino criacionista em paralelo para explicar a origem da vida
Para o deputado, a Teoria da Evolução "não tem comprovação" e, portanto, daria margem ao ensino criacionista em paralelo para explicar a origem da vida
Foto: Alexandra Martins / Agência Câmara

Enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) discute com a sociedade o ensino religioso, tramita na Câmara um projeto para inserir o ensino do criacionismo na grade curricular obrigatória. Uma Ação Direta da Procuradoria-Geral da República quer que o Supremo reconheça que a disciplina ensino religioso não esteja vinculada a uma religião.

Na audiência pública, realizada neste mês em Brasília, a Confederação Nacional do Trabalhadores em Educação defendeu que a escola não pode privilegiar o ensino de uma religião. Até a Igreja Universal manifestou opinião contrária à disciplina em escolas públicas em nome da natureza laica do Estado. Do outro lado, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil defende que ensino religioso possa ser confessional sem que isso signifique doutrinação religiosa, o que, na prática, pode ser mais difícil de executar.

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O deputado Pastor Marco Feliciano (PSC - SP), por exemplo, tem um projeto de lei que propõe inserir conteúdos sobre o criacionismo na grade curricular das escolas públicas e privadas. A crença prega que toda a vida na Terra foi criada por um ser supremo e é aceita por diferentes religiões. Apesar de defender que religião é história e cultura também, o deputado fala em crença e deixa claro, em entrevista exclusiva ao Terra, que seu objetivo com a proposta é que as crianças voltem a acreditar que o universo não é uma criação do acaso, mas de um "arquiteto perfeito".

Para o deputado, a Teoria da Evolução "não tem comprovação" e, portanto, daria margem ao ensino criacionista em paralelo para explicar a origem da vida. O PL não explicita em que disciplina deveria ser ensinado o conteúdo, mas, por sugeri-lo como uma alternativa ao evolucionismo, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) manifestou-se contra a proposta que considera cheia de "equívocos".

A SBPC esclarece, em documento endereçado à Câmara dos Deputados, eventuais confusões feitas por quem coloca o evolucionismo e o criacionismo no mesmo saco. Para a Ciência, "uma teoria é uma explicação compreensível de uma característica da natureza que é apoiada por muitos fatos ao longo do tempo". No caso, o conceito de evolução é apoiado pelo registro de fósseis, a pesquisa com DNA e a descoberta de que espécies têm ancestrais comuns, entre outros achados, que "somam evidências fortes que a evolução pela seleção natural é como a vida na Terra surgiu e se tornou diversa". Já o criacionismo não é teoria, é crença, e ocorre, segundo o próprio texto do PL, "por força da fé, dos costumes, das tradições e dos ensinos cristãos".

Em um ponto, a SBPC e Feliciano concordam: não há conflito entre ciência e religião. Mas, para os cientistas, é cada macaco no seu galho, ou seja, o criacionismo poderia ser ensinado em eventuais aulas de religião, facultativas por lei, mas não em disciplinas científicas, com matrícula obrigatória. "O fato de uma teoria não ser considerada científica não quer dizer que seja desprovida de significado ou importância."

A seguir, confira a entrevista com Feliciano:

Como o senhor acredita que deva ser o ensino religioso nas escolas?

As pessoas vão esbarrar na dúvida: que religião vai ser ensinada em um país plural como o nosso? A minha proposta é para que sejam ensinados os grandes ensinamentos das religiões. Religião não é só aquilo que é metafísico; é filosofia, é história e é cultura também. A base de todas as religiões é a paz, o amor, a compreensão, respeito mútuo, honrar pai e mãe, não matar, não roubar, não vilipendiar, não estuprar, etc

Então a proposta seria de um ensino sobre religiões?

Não. Se a gente colocar religiões em si, ele acaba se tornando confessional, porque a gente não vai conseguir abarcar todas. O ensino religioso deveria ser os grandes ensinamentos.

O que não pode acontecer é o nosso país se tornar materialista e comunista como está acontecendo. Nossas crianças, dentro das escolas, acreditam que a vida é pura materialidade. Quando nós sabemos que não é só isso. O ser humano é um ser metafísico, e alguns destes pilares foram arrancados da nossa sociedade. Aí as nossas crianças matam, roubam saem drogadas da nossa sala de aula sem respeito ao pai, sem respeito a mãe, sem respeito a ninguém.

O senhor acredita que isto está ligado a uma falta de reflexão espiritual?

Países como Suíça e Estados Unidos chegaram a esta conclusão. O que nós temos é uma batalha com um grupo de esquerda, que, na verdade, são comunistas disfarçados e seguem à risca a ideia do seu papa. O papa dos comunistas dizia que a religião é o ópio do povo. O Estado comunista é paternalista, ele é Deus. Só que o comunismo esbarra em uma coisa maior que ele, que é a fé. Uma pessoa com fé, em vez de buscar primeiro uma prefeitura, fazer piquete na frente do parlamento, ela vai pra igreja, dobra o joelho e começa a orar.

Então existe uma disputa da fé contra o comunismo?

Olha o que está acontecendo no Rio Grande do Sul (Em 2012, a Justiça proibiu o uso de símbolos religiosos nos prédios públicos). Se essa moda pega, o que a gente fez com o Cristo Redentor? O que a gente faz com o nome de Santa Catarina? Com o nome do Estado de São Paulo? Com as grandes obras de arte religiosas do nosso País? O estado laico não é um estado laicista, não é um estado ateu. É um estado sem religião, mas que dá a oportunidade para as pessoas professarem a fé que tiverem. Nosso país nasceu à sombra de uma cruz. O Cristianismo é mais do que uma religião, é uma filosofia.

Os três pilares de sustentação do Ocidente são a moral judaico-cristã, o direito romano e a filosofia grega. Mas a moral judaico-cristã ajudou a construção do Ocidente, ajudou a construção do nosso país. Por que querer arrancar isso da noite para o dia? Puxa, por que esta perseguição a Deus? Deixa Deus em paz, deixa nossos filhos escolherem o que eles querem.

Mas colocar o ensino religioso para crianças que ainda estão em formação não é uma forma de imposição?

É facultativo, não é obrigatório, a pessoa entra na classe se quiser. Por que meus filhos podem aprender a teoria da Darwin, que é só uma teoria? Se não fosse uma teoria, seria uma coisa comprovada. É só uma teoria, que ninguém consegue reproduzir em laboratório.

Se a teoria de Charles Darwin, que diz que o homem veio do macaco, pode ser ensinada aos meus filhos, por que eu não posso ensinar a teoria de Moisés, a de que Deus criou o mundo em seis dias?

Com base em qual religião estaria o criacionismo lecionado?

A teoria do criacionismo está em todas as religiões, todas as religiões creem que um ser superior criou o mundo. Então só tem duas teorias, a evolução e a criação, não existe uma terceira e uma quarta.

Mas as diferentes religiões têm diferentes formas de ver a criação.

Todas as religiões acreditam que o mundo foi criado. O que deveria ser estudado e transformado em método científico é mostrar que a religião não é contra a ciência, mas caminha junto com ela.

A ciência diz que o mundo foi criado a partir do big ben, uma explosão de átomos que criou toda a matéria. Eu encontro isto na Bíblia, mas está de forma poética. Deus disse: haja luz. Então é possível traçar um paralelo entre a ciência e o que diz a Bíblia, só é preciso que as pessoas estudem. Eu sou teólogo e mestre em teologia, poderia falar para uma classe de meninos universitários, que é possível a religião e a ciência andarem juntos.

A teoria dos seis dias é uma tese judaico-cristã. A teoria da criação não muda de acordo com a religião?

Todas as religiões tem a premissa de ter um ser supremo. Não importa se o nome dele é Buda, Krishna, Jeová, ele criou o mundo. Então é só traçar um paralelo. O que eu quero é que as nossas crianças tenham o direito de ter uma segunda opção, nós vivemos em um país democrático. Ensino religioso não é uma lavagem cerebral. Lavagem cerebral é feita agora nas nossa universidades, e é feita agora nas escolas, em que as crianças são impregnadas com o pensamento materialista e que dizem que nada existe além da matéria. Isso é comunismo. Vai além do comunismo, é marxismo cultural.

Quando havia ensino religioso nas escolas não havia tanta violência, tanta desagregação na família, tanta gente com drogas, não havia tanta gente destruída. Aconteceu alguma coisa no nosso país e, de tanto materialismo, de tanto relativismo, nossas crianças estão pagando por isso. É um monte de cracolândia esparramada pelo país, um sem número de crianças que não respeitam pai e mãe, matam, se drogam, e aí precisa a Câmara dos Deputados votar a redução da maioridade penal.

Mas se existem diferentes teses criacionistas, qual seria o embasamento teórico para o ensino?

Quando eu apresentei o projeto, eu acreditei que ele não seria aprovado. Eu queria só a discussão: por que o ensino religioso existe mas não é aplicado nas escolas? Aqui é a casa do povo. O relator do projeto vai realizar audiências públicas, ouvir todos os lados e compor um relatório que seja o melhor para o Brasil.

O meu sonho é ver os nossos filhos voltarem a pedir aos pais, antes de dormir, “a sua bênção meu pai, a sua bênção minha mãe”. E que eles olhem para cima e saibam que este grande universo material não é como muitos pensam, um engendramento do acaso. O nosso universo não é uma criação do acaso, tem um criador, tem um arquiteto. Este arquiteto é perfeito, e é isso que eu quero que as crianças voltem a acreditar.

Vídeo de Feliciano contra crucifixo viraliza 22 anos depois:
Fonte: Agência Cartola
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