PUBLICIDADE

Quem foi Di Cavalcanti, o modernista que pintou 'As Mulatas'

A destruição do painel instalado no Palácio do Planalto carrega um forte simbolismo. Conheça a trajetória do pintor que representou a mulher brasileira

12 jan 2023 - 19h22
(atualizado às 19h47)
Compartilhar
Exibir comentários

As Mulatas, painel de Di Cavalcanti instalado no Palácio do Planalto, foi depredado durante a invasão de terroristas nas sedes dos três poderes em Brasília, no último domingo (8). A obra integra uma série de quadros do pintor modernista que retratam as figuras de mulheres de ascendência africana. As perfurações espalhadas pelo mural, avaliado em R$ 8 milhões, geram mais do que um prejuízo financeiro, mas também carregam um triste simbolismo. Para Cavalcanti, a "mulata" era o retrato do Brasil miscigenado.

Foto: Plenarinho/Câmara dos Deputados – plenarinho.leg.br/Reprodução / Guia do Estudante

"Di Cavalcanti permanecerá para sempre como um dos maiores pintores brasileiros, e o que melhor captou um determinado lado do país: o amoroso, o sensual. O largo predomínio da figura humana em sua arte é também uma manifestação de seu humanismo essencial", escreveu o crítico de Arte Olívio Tavares de Araújo, no livro Pintura brasileira do século XX: trajetórias relevantes.

-
-
Foto: Wikimedia Commons/Reprodução / Guia do Estudante

Apelidado até como "pintor das mulatas", Cavalcanti encontrou uma maneira muito particular de representar a mulher brasileira, sem focar no sofrimento ou na solidão. É possível observar esse olhar em mais obras como Moças com Violões, Mulheres com Frutas, Mulher e Paisagem, Cinco Moças de Guaratinguetá, Meninas Cariocas, entre outras.

Vale lembrar que o termo "mulata" que dá nome ao painel destruído de Cavalcanti, caiu em desuso pela etimologia racista.

Di Cavalcanti e o Modernismo

Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque Melo nasceu no dia 6 de setembro de 1897 no Rio de Janeiro. Começou sua carreira artística logo cedo, aos 11 anos, tendo aulas o pintor Gaspar Puga Garcia. Também foi  caricaturista, cronista e escreveu para jornais e revistas da época. 

Em 1916, mudou-se para São Paulo para se graduar na Faculdade de Direito da USP. Foi na cidade paulista que conheceu outros jovens da cena artística como Mário e Oswald de Andrade e idealizou um encontro para recriar uma arte genuinamente brasileira, incluindo ao mesmo tempo novas tendências que já estavam a todo vapor na Europa. O resultado foi a Semana de Arte Moderna, realizada no Theatro Municipal de São Paulo, em fevereiro de 1922.

O evento foi um divisor de águas para a produção cultural brasileira e consagrou o Modernismo como escola oficial no Brasil. O movimento buscava romper barreiras, se desvencilhar do passado e entender qual era a identidade do brasileiro. Como um de seus principais representantes, Di Cavalcanti usou seus quadros e murais para representar o povo e a cultura brasileira.

Di Cavalcanti foi o responsável por desenhar a famosa capa do catálogo da exposição
Di Cavalcanti foi o responsável por desenhar a famosa capa do catálogo da exposição
Foto: Wikimedia Commons/Divulgação / Guia do Estudante

Após a Semana de Arte de 22, em 1923, o pintor carioca viajou a Paris, na França, junto com vários modernistas, entre eles Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Victor Brecheret. Teve contato, então, com o trabalho de grandes artistas como Picasso e Braque. Mais do que aproveitar as lições vivenciadas no exterior, a experiência intensificou sua visão de um Brasil plural.

Marcelo Bortoloti, autor de uma biografia de Di Cavalcanti a ser publicada pela Companhia das Letras ainda neste ano, diz que o artista fez uma leitura erudita do país, ao dialogar com os grandes mestres, seja do passado ou do presente, mas tentando juntar isso com um caldo cultural brasileiro. "Foi um dos que ajudou nessa emancipação da arte brasileira para poder dialogar com o que estava sendo produzido no mundo naquele momento", afirma Bortoloti.

Suas obras deixam claro que, apesar de ter se mudado da cidade natal e até passado um tempo fora, Di Cavalcanti parece nunca ter deixado o Rio de Janeiro. Ao longo da sua carreira, sua produção refletiu cenas do cotidiano carioca, como o carnaval, regado de samba. 

‘Samba’ é considerada uma das obras mais importante de Di Cavalcanti
‘Samba’ é considerada uma das obras mais importante de Di Cavalcanti
Foto: Wikimedia Commons/Reprodução / Guia do Estudante

'Samba' é considerada uma das obras mais importante de Di Cavalcanti

Di Cavalcante nos vestibulares

A relevância do Modernismo para a trajetória artística brasileira está na mira dos vestibulares. A reprodução da figura feminina de Di Cavalcanti, por exemplo, foi tema de uma questão do vestibular da UEL ( Universidade Estadual de Londrina ) em 2017.

-
-
Foto: Universidade Estadual de Londrina/Reprodução / Guia do Estudante
Guia do Estudante
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade