Matéria de Inteligência Emocional pode se tornar obrigatória em escolas públicas e privadas de SP
Projeto de Lei tramita em urgência na Alesp; especialistas analisam os possíveis efeitos da medida na educação
Está tramitando em caráter de urgência na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) um projeto de lei que obriga a inclusão da matéria Inteligência Emocional na grade curricular da Educação Básica das redes de ensino público e privado.
Segundo a deputada Letícia Aguiar (Progressistas), autora da proposta, a iniciativa visa garantir aos alunos maior controle sobre suas emoções. "A capacidade de lidar com as emoções é essencial no período escolar e muito útil para o futuro profissional dos estudantes", enfatiza a parlamentar.
"A iniciativa surgiu logo após o término da pandemia da Covid-19, logo após conversando com estudantes, responsáveis, professores, terapeutas e psicólogos, entendemos que a inteligência emocional associada à educação poderá agregar valores ao ensino e ao indivíduo", conta Letícia.
Como apontam os especialistas entrevistados pelo Terra, o projeto de lei --que ainda precisa ser aprovado pelos deputados e deputadas paulistas-- seria um "grande investimento na educação", ajudaria na resolução de conflitos e embates, mas, embora pareça 'simples', precisa de muito estudo, acompanhamento e suporte financeiro.
De acordo com José Francisco Aparecido, consultor pedagógico do programa "De Criança Para Criança", incluir a temática no âmbito educacional pode colaborar com o desenvolvimento de competências e habilidades socioemocionais. "Propicia ao aluno o desenvolvimento de habilidades que o ajude a resolver tarefas diárias e colaborar em situações que refletem no dia-a-dia do ser humano".
"A inteligência emocional ajuda o estudante a lidar e responder aos conflitos diários. Esse tema é fundamental para uma geração de adultos e os ajudam a perceber o eu e o outro nos diferentes contextos", completa Rosangela Jacob, diretora pedagógica da Lumiar Vila Olímpia.
Mas os benefícios do projeto vão além da capacitação dos estudantes. "O impacto financeiro em intervenções primárias em saúde emocional nas escolas pode prevenir gastos com ansiedade e depressão na vida adulta", pontua Priscila Tenenbaum, professora das pós-graduações Terapia Cognitivo Comportamental na infância e adolescência e Habilidades Sociais do CBI of Miami.
Dificuldades da implementação do projeto
a) Falta de conscientização: conscientizar o educador de maneira global e não segmentada.
b) Esquecer de trabalhar as emoções: a sala de aula é um ambiente rico em emoções e esses sentimentos podem ter um impacto significativo no processo de aprendizado dos estudantes; é essencial reconhecer e trabalhar com as emoções presentes na sala de aula para criar um ambiente favorável ao desenvolvimento acadêmico e emocional dos alunos.
c) Falta de compreensão das emoções: compreender as emoções dos alunos é fundamental para o desenvolvimento do projeto; fazer algo mecânico ou burocrático, pode tornar o projeto desinteressante para os alunos.
d) Realização do projeto em outros espaços: trabalhar as competências socioemocionais em espaços escolares esquecendo dos outros espaços da vida dos alunos.
e) Trabalhar o tema de forma rasa: colocar o projeto em uma atividade específica e fixa na grade curricular; o tema precisa ser transversal a todas as disciplinas, atividades e contextos escolares.
Grade curricular x formação do educador
Priscila Tenenbaum pontua que, para que o projeto tenha efeitos práticos, todos os membros da comunidade devem ser envolvidos, incluindo os responsáveis pelos alunos. Além disso, o processo de formação do educador sobre o tema também precisa contemplar atividades específicas e estar integrado de forma fixa na grade curricular.
"É fundamental que a comunidade escolar como um todo participe ativamente do processo. Isso inclui não apenas os educadores, mas também os pais ou responsáveis dos alunos, que desempenham um papel importante no suporte emocional e no desenvolvimento das habilidades socioemocionais das crianças e jovens", ressalta a especialista, que também acrescenta a necessidade do tema estar inserido em todas as disciplinas, atividades e contextos escolares.