PUBLICIDADE

Inspirado em indiano, projeto oferece aulas no contraturno

Baseada no ensino que parte da curiosidade das crianças, ideia semelhante a de Sugata Mitra é lançada no Brasil

30 jun 2014 - 15h28
(atualizado às 15h35)
Compartilhar
Exibir comentários

As mesas são grandes o suficiente para acomodar todos os estudantes, que ficam lado a lado dividindo computadores. Eles compartilham ideias e teorias para as perguntas que surgem a partir das provocações feitas pelos mediadores da oficina e por eles mesmos. “Por que as coisas caem em direção ao chão e não sobem ao céu?”. “Por que os pinguins não conseguem voar e outras aves sim?”. “Por que meus olhos lacrimejam quando estou triste?” São respostas para esses questionamentos que crianças e adolescentes de 8 a 12 anos de idade tentam responder nos encontros do Hedu – Educando por Perguntas, projeto em São Paulo que oferece aulas pagas no contraturno da escola. 

A ideia de guiar o aprendizado por meio da  curiosidade foi inspirada no sistema SOLE (Self-Organized Learning Environments), do indiano Sugata Mitra, afirma um dos cofundadores do Hedu, Tatsu Adachi. Mitra ganhou um o prêmio TED 2013 com o projeto Escola nas Nuvens.  “Por meio de vídeos, ele instigava as crianças a pensar sobre assunto e responder as perguntas que surgiam das discussões”.

Os filmes e outros materiais levados para as oficinas buscam incentivar os alunos a se questionar e motivá-los a buscar respostas, além disso, a mistura de crianças de diferentes idades em um mesmo espaço trabalha características como trabalho em equipe no momento da pesquisa. Os mediadores das aulas intervêm o mínimo possível nas discussões entre os oficinandos para dar autonomia e deixar que eles negociem e entrem em um consenso.

Adachi acredita que o projeto trabalha como um complemento à educação tradicional, que, segundo ele, é muito importante, mas requer mudanças. Para ele, as aulas expositivas são fundamentais para transmitir conteúdo, porém o fazem de maneira homogênea, sem respeitar o ritmo de cada aluno. "É preciso misturar a vertente tradicional com a proposta de Mitra, ou seja, guiar os alunos, mas também deixá-los se descobrirem". 

Rendimento de aluno em aula expositiva pode ser até 30% inferior

Para o professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp Araraquara, Sílvio Fiscarelli, o uso de computadores e a nova forma de aprendizagem propiciada por eles tornam os estudantes mais independentes. Ele também partilha da ideia de ensino semiguiado praticada pelo Hedu. “É preciso criar um roteiro para que a criança mantenha-se focada. Deixá-la solta com essa ferramenta na mão pode não ser tão eficaz, porque o aprendizado pode ficar em segundo plano e o conteúdo visto de maneira superficial.” Fiscarelli é o coordenador de uma pesquisa que busca mostrar como o uso de dispositivos tecnológicos influencia o processo de aprendizagem. Na escola estadual Bento de Abreu, localizada em Araraquara (SP), os alunos do ensino médio transitam entre os tradicionais quadro negro e caderno e o uso de computadores. Essas ferramentas auxiliam, por meio de simulações e vídeos, na visualização de conteúdos relacionados à matemática e à física.

O resultado da primeira parte da pesquisa foi divulgado no ano passado e aponta que os alunos de segundo e terceiro anos que usavam os computadores obtiveram, em média, rendimento 30% maior quando comparado àqueles que trabalhavam os assuntos de maneira tradicional, ou seja, em aula expositiva. “Um professor pode tentar desenhar um motor a combustão no quadro, mas não vai conseguir mostrar seu funcionamento. Nesse momento, entram as animações e simulações para mostrar as variantes envolvidas nesse processo. É importante lembrar que esses equipamentos não podem ser usados a todo tempo, é preciso que haja propósito para seu emprego e evitar o uso 'gratuito'”, diz.

O papel do professor também muda nesse contexto. Ele deixa de ser o grande detentor do conhecimento e atua mais como um mediador. “Diferentemente da escola, nas oficinas, procuramos mostrar os caminhos a serem trilhados em busca da resposta desejada, agimos como um facilitador”, afirma Adachi. Fiscarelli observa que no âmbito de colégios tradicionais, os objetos de aprendizagem não podem simplesmente serem colocados em sala de aula e reconhece a importância do professor em sala de aula. “Ao contrário do se pensa, o computador não vai substituir o educador, porque a máquina não consegue motivar o aluno ou identificar as dificuldades de aprendizado.”

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade