Inglaterra inaugura escolas com modelo impulsionado por Obama
Inglaterra inaugura escolas com modelo impulsionado por Obama
2 set2011 - 15h19
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A Inglaterra se prepara para colocar em funcionamento neste mês as primeiras 24 escolas baseadas no modelo americano que conseguiu diminuir o desnível entre alunos de diferentes escalas sociais em Nova York e Chicago. Impulsionado pelo presidente ameriano Barack Obama, trata-se de um sistema em que a instituição recebe dinheiro do governo, mas é administrada sem a interferência direta deste. No Brasil, algo semelhante funcionou em Pernambuco entre 2004 e 2007.
Escolas da Inglaterra começam a adotar o sistema de escolas charter este mês
Foto: Getty Images
O plano inglês, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos, é levar aos estudantes mais carentes dos subúrbios uma escola de mais qualidade. "O mais importante é que os pais tenham a certeza de estarem enviando os filhos para um bom colégio local, com altos parâmetros e forte disciplina", disse o secretário de educação Michael Gove em entrevista ao jornal The Guardian.
Quando vendeu a ideia, o governo britânico fez clara referência às escolas charter dos Estados Unidos, modelo que ganha adeptos anualmente no país com a divulgação de resultados positivos no que diz respeito aos níveis de aprendizagem obtidos. Defendido por Obama, o sistema conta atualmente com mais de 4,6 mil escolas desse tipo nos Estados Unidos, atendendo a mais de um milhão de estudantes.
As garotas-propaganda do sistema são as cidades de Nova York e Chicago. Na última avaliação oficial, realizada em 2010, 84,9% dos alunos deste modelo de instituição conseguiram um nível adequado ou avançado nas avaliações de matemática, e 67,1%, em inglês. Nos colégios públicos tradicionais, os dados caem para 74,3% e 57,6%, respectivamente. Além disso, em pesquisa feita pela Universidade Estadual da Flórida e publicada em 2008, estudantes das escolas charter têm 7% mais chances de se formarem no ensino médio e 11% mais de entrarem na faculdade do que alunos da rede pública.
Financiadas em parte pelo governo e em parte pela iniciativa privada, essas instituições têm a possibilidade de operar longe de muitos regulamentos e burocracias a que está exposta a maioria das escolas públicas. Com isso, conseguem inovar na gestão de ensino, aplicando políticas salariais mais atrativas para contratarem e manterem os melhores professores, além de se permitirem ter um número menor de alunos por sala de aula e de investirem em infraestrutura com financiamento privado.
E apesar de o tipo de gestão ser livre em cada uma das escolas, algumas características em comum são apontadas. Segundo Patrícia Mota Guedes, uma das autoras do livro Modelo de Escolas Charter: a Experiência de Pernambuco, "todas recebem financiamento público baseado no número de estudantes, são co-gerenciadas por uma instituição do setor privado sem fins lucrativos, possuem maior autonomia que as escolas regulares e a admissão de alunos é feita ou por meio de sorteio ou por critérios geográficos".
Tentativa brasileira No Brasil, a única experiência ocorreu em Pernambuco, entre 2004 e 2007. Na época, houve uma parceria entre o governo e o Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação (ICE), que resultou na criação de 20 centros charter de ensino médio espalhados pelo Estado.
E assim como nos Estados Unidos, os números foram positivos. Conforme apurado por Patrícia, que também é especialista em gestão educacional, a evasão escolar nos centros era de 2,2%, praticamente 10 vezes menos que a taxa nas escolas públicas de Pernambuco, que era de 20% em 2005, segundo dados do IBGE - o índice de abandono no ensino médio nacional é de 13,3%, de acordo com o MEC. E depois que o modelo foi implantado, os estudantes obtiveram notas no Enem acima da média geral: alcançaram 44,27%, contra 37,27% da média nacional.
Apesar dos números, nem todos são favoráveis ao sistema. De acordo com o pedagogo Luiz Carlos de Freitas, do Movimento Contra Testes de Alto Impacto em Educação, o modelo tira a responsabilidade governamental e obtém bons resultados devido ao critério de seleção. Para ele, a educação não pode ser transferida para a esfera "dos negócios e da competição". "E os estudos mostram que as escolas charter não são superiores à escola pública americana, pois aplicam testes para o ingresso dos alunos, o que acaba selecionando os mais motivados e relegando os demais", completa.
Além disso, apesar de o modelo ser permitido pela legislação brasileira desde 1998, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, estabelece que recursos públicos para a educação só podem financiar escolas comunitárias em forma de bolsas de estudo. Com isso, a implantação do modelo charter se torna burocrática e não cria segurança jurídica às iniciativas de parceria público-privada.
Outro grande entrave é a resistência dos sindicatos dos professores, um dos motivos que impulsionou a secretaria pernambucana a terminar com o modelo charter e assumir novamente todas as despesas e gestão dos 20 centros fundados. Para as casas sindicais, a contratação de professores privados desvaloriza os servidores e faz com que as necessidades da categoria sejam esquecidas.
Para Patrícia Mota Guedes, o sistema já é usado amplamente e com eficácia no sistema de saúde. Contudo, a especialista acredita que a tendência no cenário brasileiro é outra, e passa primeiro pela implementação de coisas muito mais básicas: a valorização do professor, o acompanhamento do desempenho dos alunos e a melhora na infraestutura das escolas públicas existentes, por exemplo.
Crianças de rua recebem alimento e educação em uma escola mantida pelo Programa Mundial de Alimentos e por uma agência de ajuda humanitária do Afeganistão; sem espaço para todos, alguns alunos sentam no chão para acompanhar os ensinamentos
Foto: AP
Em uma pequena sala de aula, as crianças que vivem na rua se amontoam para receber os ensinamentos
Foto: AP
Após trabalharem como carpinteiros, mecânicos ou vendedores de cigarro, as crianças vão para a escola na parte da tarde
Foto: AP
Por causa da falta de fundos, o programa que atende as crianças de rua está ameaçado. Escolas de 34 províncias do Afeganistão não recebem mais merenda
Foto: AP
Os estudantes não sabem até quanto poderão continuar recebendo os alimentos na escola, que também abastecem suas famílias
Foto: AP
Os programas sociais dentro das escolas tentam resolver os problemas das famílias que vivem na rua no país
Foto: AP
Na escola de estrutura simples, os pais são chamados para participar das atividades educativas
Foto: AP
Após a aula, as pequenas Lailya (esq.) e Zainab (dir) carregam o alimento que vai atender suas famílias
Foto: AP
Um aluno conta pedras como parte da lição de matemática no campo de refugiados do Congo. Veja fotos que mostram as condições de ensino em diversas escolas pelo mundo
Foto: AFP
No Congo, crianças têm aula em uma tenda improvisada em campo de refugiados nas proximidades da cidade de Goma. No local, um professor voluntário trabalha para ensinar lições básicas aos alunos
Foto: AFP
Estudantes das Filipinas, sem classes e cadeiras, utilizam o chão para fazer as lições em uma escola pública da capital Manila
Foto: AFP
Professores e alunos cobram melhores condições na educação pública das Filipinas
Foto: AFP
Pelo menos 28 milhões de estudantes retornaram às escolas nas Filipinas no dia 7 de junho para o ano 2011-2012
Foto: AFP
Já na Alemanha, além da ótima estrutura das escolas, os estudantes utilizam o jogo de cubos para desenvolver o raciocínio e a criatividade. A iniciativa agradou os alunos na cidade de Dusseldorf, que testaram a brincadeira pela primeira vez no fim de 2010
Foto: AFP
Na Tailândia, refugiados islâmicos do Mianmar tentam aprender em uma escola improvisada pelo governo
Foto: AFP
As famílias das crianças fugiram dos conflitos no Mianmar e tentam reconstruir suas vidas
Foto: AFP
Imagem feita em maio de 2011 mostra as crianças sentadas no chão e com um banco como classe na Tailândia
Foto: AFP
Imagem feita em dezembro de 2010 mostra o robô Engkey, que dá aulas de inglês para alunos na Coreia. Pelo menos 30 robôs são utilizados nas escolas do país
Foto: AFP
Jovens estudam em uma escola para meninas em uma região montanhosa do Paquistão. O exército do país organizou uma visita às escolas no começo de junho de 2011 para mostrar o aparente progresso da educação
Foto: AFP
Escolas para meninas já foram vítimas de diversos ataques no Paquistão pelo grupo Talibã, que proibia a educação das mulheres
Foto: AFP
Na Líbia, alunos são atendidos por voluntários no dia 1º de junho de 2011. Eles tentam manter as crinças engajadas em atividades educacionais
Foto: AFP
Os voluntários fazem atividades para manter os estudantes da Líbia longe das disputas entre rebeldes e apoiadores do líder Kadhafi
Foto: AFP
Em Cingapura os estudantes convivem com uma situação bem diferente. Sem guerras, os jovens aprendem o conteúdo por meio da tecnologia
Foto: AFP
No país asiático, iPads e outros tablets substituem os cadernos em muitas das escolas. Na imagem de maio de 2011, as alunas utilizam o equipamento em uma aula de Arte
Foto: AFP
Em Moçambique a realidade educacional é bem diferente. Imagem de maio de 2011 mostra as condições precárias de uma escola primária ondem jovens estudam à noite
Foto: AFP
Carlos Francisco, 29 anos, dá aulas na escola primária do Triunfo, em Maputo. Com classes simples e um quadro negro, cerca de 60 estudantes acompanham a tarefa
Foto: AFP
Após trabalhar o dia inteiro, moçambicano acompanha com atenção a lição deixada pelo professor no quadro negro
Foto: AFP
Em meio à tragédia que abateu o Japão, alunos participaram de cerimônia de formatura no final de março no mesmo ginásio que abrigava 200 pessoas vítimas do tsunami em Sendai
Foto: AFP
Mesmo com a tristeza pela morte de amigos com o tsunami, estudantes cumpriram mais uma etapa da vida escolar
Foto: AFP
Alunos haitianos da quinta série estudam história durante as aulas na Royal Caribbean New School. A empresa de cruzeiro Royal Caribbean construiu a escola para cerca de 200 estudantes
Foto: The New York Times
A escola em si é um refúgio limpo e seguro em relação às várias cidades vizinhas do Haiti onde vivem os alunos
Foto: The New York Times
A situação em outras escolas do país é diferente. Na L'ecole Nationale Mixte a chuva passa pelo telhado, cancelando as aulas
Foto: The New York Times
Na maioria das instituições de ensino do Haiti os alunos convivem com a estrutura é precária, com classes em péssimo estado e sujeira pelo chão
Foto: The New York Times
Crianças dormem em sala de aula de escola primária em Hefei, província de Anhui. A educação dos filhos dos trabalhadores migrantes, que somam 240 milhões na China, é uma das principais preocupações do Conselho de Estado chinês
Foto: Reuters
Imagens feitas no começo de junho mostram as condições enfrentadas pelos alunos da pré-escola que, segundo o conselho chinês, é o ponto mais fraco do sistema educativo do país
Foto: Reuters
No condado de Min, província de Gansu, as crianças sofrem com a precariedade das escolas
Foto: Reuters
Sem transporte escolar, as crianças chinesas caminham longas distâncias para chegar na escola
Foto: Reuters
Repetidamente, líderes mundiais têm denúnciado a situação da educação na China
Foto: Reuters
Crianças cantam durante a aula em uma escola rural da província de Gansu. A localidade é uma das áreas rurais mais pobres da China
Foto: Reuters
No Brasil, uma escola particular do Rio Grande do Sul aposta em tecnologias para ensinar os alunos da educação infantil
Foto: Stúdio Aronis / Divulgação
Os estudantes do Colégio Israelita, de Porto Alegre (RS), aprendem com o auxílio de tablets
Foto: Stúdio Aronis / Divulgação
Também no Brasil, filhos de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) estudam em escola de lona improvisada à beira da BR-101 em Eunápolis (BA)
Foto: Joá Souza / Futura Press
O leitor biométrico registra os alunos presentes na Escola Municipal Roberto Mario Santini, em Praia Grande (SP). A tecnologia ajudou a diminuir a evasão escolar na cidade
Foto: Stúdio Aronis / Divulgação
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