Clássicos da Época Colonial - Parte II
X. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e terras circunvizinhas (1615)
X. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e terras circunvizinhas (1615)
De Claude D´Abeville
"Cresceu ainda mais a devoção quando se edificou o Forte e a Capela de São Luís à imitação das igrejas dos nossos conventos, com madeira, cercada e coberta de galhos fortes, cortados das árvores chamadas Acauikantin. Ai celebramos missas, cantei vésperas, preguei e batizei os catecúmenos. À noitinha tocava o sino, e todos se reunia antes de ir dormir, na capela se cantava a saudação Angélica, implorava-se a agraça divina, e depois cada um se retirava e ia para onde queria."
Yves d´Évreux - Continuação da história das coisas mais memoráveis acontecidas no Maranhão moa anos 1613-1614
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XII. Diálogo das Grandezas do Brasil (1618)
De Ambrósio Fernandes Brandão
(autor presumido)
Os diálogos entre dois personagens Alviano e Brandônio são em número de seis. Seu autor nunca passou do cabo de Santo Agostinho para o Sul; devem, pois, ter sido escritos em uma das capitanias ao Norte do cabo. Destas apenas duas diz ele explicitamente ter visitado, e pelas abundantes informações mostra conhecer diretamente: Pernambuco e Paraíba, - Tamaracá ficava a meio caminho e devia ser-lhe familiar.
"Certamente, diz Brandonio:, que estimara muito não me meter em semelhante trabalho (tratar das madeiras) pelo muito que há que dizer desta matéria. Porque por tôda parte que ponho os olhos, vejo frondosas árvores, entrabastecidas matas e intrincadas selvas, amenos campos, composto tudo de uma doce e suave primavera; porquanto em todo o decurso do ano gozam as árvores de uma fresca verdura, e tão verdes se mostram no verão como no inverno, sem nunca se despirem de todo de suas folhas, como costumam de fazer em nossa Espanha; antes, tanto que lhe cái uma, lhe nasce imediatamente outra, campeando a vista com formosas paisagens, de modo que as alamedas de alemos e outras semelhantes plantas que em Madrid, Valhadolid e em outras vilas e lugares de Castela se plantam e grangeam com tanta indústria e curiosidade para formosura e recreação dos povos, lhe ficam muito atrás - quase sem comparação uma coisa de outra.
XII. História do Brasil (1627)
De Frei Vicente do Salvador
O autor da primeira obra denominada História do Brasil nasceu na Bahia por volta de 1564, tendo sido batizado Vicente Rodrigues Palha. Graduado em teologia em Coimbra, retornou à sua terra natal em fins dos anos oitenta do século inicial da colonização. Tendo tomado ordens sagradas, serviu de cônego, de vigário-geral, de governador de bispado, sendo que em 1597 tomou o hábito de São Francisco.
"Confesso que é trabalho labutar com este gentio com a sua inconstância, porque no princípio era gosto ver o fervor e devoção com que acudiam à igreja e quando lhes tangiam o sino, à doutrina ou à missa, corriam com um ímpeto e estrépido que pareciam cavalos, mas em breve tempo começaram a esfriar de modo que era necessário levá-los à força, e se iam morar nas suas roças e lavouras, fora da aldeia, por não os obrigarem a isto. Só acodem todos com muita vontade nas festas em que há alguma cerimônia, porque são muito amigos de novidades; como dia de São João Batista por causa das fogueiras e capelas, dia da comemoração geral dos defuntos, para ofertarem por eles, dia de Cinza e de Ramos e principalmente das endoenças para se disciplinarem, porque o tem por valentia"
XIV. O Brasil Holandês (1647)
De Gaspar Barléus
Narrativa da estada e das realizações do Conde Maurício de Nassau no nordeste do Brasil, escrita por um dos que o acompanharam na empreitada dirigida pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais no seu projeto de controle sobre a produção açucareira da colônia Brasil.
"O Conde aprovou-lhes e agradeceu-lhes a resposta generosa e cordata, distribuindo presentes para cada um deles.Foram recenseados em todas as províncias todos os cidadãos que habitavam os campos, holandeses, alemães, franceses e ingleses. Deram-se-lhes comandantes de várias patentes - coronéis, tenentes-coronéis, sargentos-mores e comandantes de cavalaria, permitindo-se aos mesmos a escolha dos oficiais inferiores. Os conscritos do Recife ficaram à ordens do coronel Carpentier, a fim de se ter, em casos imprevistos, uma força armada ao alcance. Nos campos comandava os recrutas; no posto de coronel, Gaspar van Nyhoven. Se bem não recebessem soldo, era fácil convocá-los apenas mediante ordem escrita".
XV. Historia Natural do Brasil (Historia Naturalis Brasiliae) 1848
De Piso e MarcgraveResultou o livro da decisão do Conde Mauricio de Nassau em trazer para o Brasil alguns cientistas e artistas para que fizessem um levantamento das potencialidades e das riquezas existente no território ocupado pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais.
O doutor William Piso foi o chefe da primeira expedição puramente científica enviada pelo mundo europeu a investigar as coisas do sertão brasílico. O seu colega, o dr Georg Marcgrave só chegou mais tarde, para acompanhar o jovem Piso.
'O Brasil, por certo a prestantíssima parte de toda a América, considerado de perto, excele principalmente pelo seu agradável e saudável temperamento, a ponto de contender, em justa competição, com a Europa e a Ásia, na clemência dos ares e das águas (...). :...os habitantes atingem cedo a puberdade e envelhecem tarde; por isso ultrapassam os cem anos, gozando de verde e longeva velhice, não só os brasis como também os próprios europeus...
São mui dados à dança e à bebida e ignoram tempos determinados para comer ...'
XVI. O Valeroso Lucideno (1648)
De Frei Manuel Calado
Com o subtítulo de Triunfo da Liberdade na Restauração de Pernambuco, a crônica de frei Calado narra em prosa barrôca a resitência portuguesa à ocuapção holandesa do Nordeste brasilerio. XVI. O Valeroso Lucideno (1648)
'Andava o Príncipe Conde de Nassau tão ocupado em fabricar a sua cidade, que para afervorar os moradores a fazerem casa, ele mesmo, com muita curiosidade lhe andava deitando medidas, e endireitando as ruas, para ficar a povoação mais vistosa, e lhe trouxe a entrar por meio dela, por um dique, ou levada, a água do rio Capibaribe a entrar na barra, por o qual dique entravam canoas, batéis e barcas para o serviço dos moradores por debaixo das pontes de madeira, com que atravessou em alguma parte este modo de Holanda, de sorte que aquela ilha ficava toda rodeada de água: também ali se fez casa de prazer que lhe custou muitos cruzados, e no meio daquele areal estéril, e infrutuoso plantou um jardim, e em todas as castas de árvores de fruto que se dão no Brasil, e ainda muitos que lhe vinham de diferentes partes, e a força de muitas outras terra frutífera, trazida de fora em barcas rasteiras, e muita soma de esterco, fez o sítio tão bem acondicionado como a melhor terra frutífera; pôs neste jardim dois mil coqueiros, trazendo-os ali de outros lugares, porque os pedia aos moradores, e eles lhos mandavam trazer em carros, e deles fez umas carreiras compridas, e vistosa, a modo de alameda de Armazéns, e por outra parte muitos parreirais, e tabuleiros de hortaliça, e de flores, com algumas casas de jogos, e entretenimentos, aonde iam as damas, e seus afeiçoados a passar as festas no verão, e a ter seus regalos, e fazer suas merendas, e beberetes, como se usam em Holanda, com seus acordes instrumentais; e o gosto do Príncipe era que todos fossem ver suas curiosidades, e ele mesmo por regalo as andava mostrando, e para viver com mais alegria deixou as casas onde morava, e se mudou para seu jardim com a maior parte dos seus criados'.
XVII. A Arte de Furtar (1652)
De Pe Manuel da Costa
Aconselhamento ao príncipe português, na época do Portugal Restaurado, para que se previna contra as 'unhas larapias' que desejam furtar o tesouro real.
'Todos falam na política, muitos compõem livros dela, e no cabo nenhum a viu, nem sabe de que cor é. E atrevo-me a afirmar isto assim, porque, com eu ter poucos conhecimento dela, sei que é uma má peça, e que a estimam e aplaudem, como se fora boa; o que não fariam bons entendimentos, se a conheceram de pais e avós, tais, que quem lhos souber, mal poderá ter por bom o fruto que nasceu de tão más plantas'. XVIII. Castrioto Lusitano (1670)
De Frei Raphael de Jesus
Historia da Guerra entre o Brazil e a Hollanda, durante os annos de 1624 a 1654, terminada pela gloriosa restauração de Pernambuco e das capitanias confinantes : obra em que se descrevem os heroicos feitos do illustre João Fernandes vieira, e dos valorosos capitães que com elle conquistarão a independencia nacional.
'Marchava Mathias de Albuquerque na forma referida, seguindo os passos do Conde Banholo, e duas jornadas antes de chegar ao Porto do Calvo recebeu a Nova da perda do lugar, e da torpe fuga dos italianos. Como capitão prudente Experimentado, certificou-se do poder e alojamento do inimigo, despediu a carruagem por veredas desusadas, e com os soldados determinou buscar o holandês em seus alojamentos. Por ordem sua adiantaram os capitães Francisco Rebello e Assenso da Silva a esperar o inimigo de emboscada, entre a povoação e o outeiro de Amador Alves.'
XIX. Theatri Rerum Naturalium Brasiliae
De Albert Eckhout (autor das gravuras)
Magnífica reprodução da flora e da fauna do Nordeste brasileiro à época de Nassau feita pelo pintor holandês Eckhout. A obra foi dada como pesente pelo Conde Maurício a Frederico Guilherme príncipe-eleitor de Brandenburg.
Exalta a exuberância da região ocupada bem como a variedade frutífera do trópico e a beleza física dos seus nativos.
Poemas (1696) - De Gregório de Matos Guerra
Praticamente o único nome das letras lusitanas no Brasil do século XVII que deixou nome. Home desbocado e ressentido com os infortúnios que o acometeram na capitania da Bahia. Sua irreverência e sarcasmo deixaramheranças nas letras brasileiras.
Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,
É verdade, Senhor, que hei delinqüido,
Delinqüido vos tenho e ofendido,
Ofendido vos tem minha maldade.
Maldade que encaminha à vaidade,
Vaidade que todo me há vencido.
Vencido quero ver-me e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.
Arrependido estou de coração, Abraços que me rendem vossa luz. Luz que claro me mostra a salvação, Misericórdia, amor, Jesus, Jesus. XXI. Música no Parnaso (1705)
meira obra impressa por um brasileiro em Lisboa, composta em versos barrocos;Jaz oblíqua forma e prolongada
a terra de Maré toda cercada
de Netuno, que tendo o amor constante,
lhe dá muitos abraços por amante,
e botando-lhe os braços dentro dela
a pretende gozar, por ser mui bela.
Nesta assistência tanto a senhoreia,
e tanto a galanteia,
que, do mar, de Maré tem o apelido,
como quem preza o amor de seu querido:
e por gosto das prendas amorosas
fica maré de rosas,
e vivendo nas ânsias sucessivas,
são do amor marés vivas;
e se nas mortas menos a conhece,
maré de saudades lhe parece.
Vista por fora é pouco apetecida,
porque aos olhos por feia é parecida;
porém dentro habitada
é muito bela, muito desejada,
(À ILHA DE MARÉ TERMO DESTA CIDADE DA BAHIASILVA)
XXII. Cultura e Opulência do Brasil porsuas Drogas e Minas (1710)
De Pe André João Antonil
Registro das riquezas existentes no Brasil feito pelo jesuíta italiano Andreoni. Obra que foi confiscada pelo Conselho Ultramarino para que não atiçasse a cobiça dos interesses estrangeiros sobre os mananciais da colônia Brasil na época da descoberta do ouro.
'Toda a escravaria (que nos maiores engenhos passa o número de cento e cinqüenta e duzentas peças, contando as dos partidos) quer mantimentos e farda, medicamentos, enfermaria e enfermeiro; e, para isso, são necessárias roças de muitas mil covas de mandioca. Querem os barcos velame, cabos, cordas e breu. Querem as fornalhas, que por sete e oito meses ardem de dia e de noite, muita lenha; e, para isso, há mister dous barcos velejados para se buscar nos portos, indo um atrás do outro sem parar, e muito dinheiro para a comprar; ou grandes matos com muitos carros e muitas juntas de bois para se trazer.'
XXIII. O Uraguai (1769)
De Basílio da Gama
Poema épico da época pombalina que descreve a luta travada contra a resistência guarani na região dos Sete Povos das Missões, capitaneados pelos jesuítas insurgidos contra as autoridades luso-espanholas por ocasião das Guerras Guaraníticas (1754-1756). As maiores dificuldades ocorreram na região dos aldeamentos jesuíticos de São Borja, São João Batista, São Luiz Gonzaga, São Lourenço, São Miguel e São Nicolau. Incentivados pelos padres, os indígenas aldeados recusaram-se a abandonar as terras onde viviam uma experiência colonizadora diferente, pegando em armas contra as forças colonialistas.
Fumam ainda nas desertas praias
Lagos de sangue tépidos e impuros
Em que ondeiam cadáveres despidos,
Pasto de corvos. Dura inda nos vales
O rouco som da irada artilheria.
MUSA, honremos o Herói que o povo rude
Subjugou do Uraguai, e no seu sangue
Dos decretos reais lavou a afronta.
Ai tanto custas, ambição de império!
E Vós, por quem o Maranhão pendura
XXIV. Vila Rica (1773)
De Cláudio Manuel da Costa
Poema épico que narra a fundação e o desenvolvimento de Vila Rica do Ouro Preto, o maior Centro aurífero das Minas Gerais no Século XVIII.
E se estas Minas, pelas riquezas que têm derramado por toda a Europa, e pelo muito que socorrem com a fadiga dos seus habitantes ao comércio de todas as nações polidas, eram dignas de alguma lembrança na posteridade, desculpa o amor da Pátria, que me obrigou a tomar este empenho, conhecendo tanto a desigualdade das minhas forças. Estimarei ver elogiada por melhor pena uma terra que constitui hoje a mais importante Capitania dos domínios de Portugal.
XXV. Cartas Chilenas (1789)
De Tomás Antonio Gonzaga(autor presumido)
Reprodução da correspondencia imaginária de um reinól chamadao Critilo, que vivia no Chile (na verdade nas Minas Gerais), com um confrade seu da Europa, de nome Doroteu, na qual as autoridades são expostas à crítica e ao ridículo, especialmente o gobernante local Fanfarrão Minésio. Como nos poemas satíricos, o tom é mordaz, agressivo, debocado, ironizando sistemáticamente a mediocridade burocrática da administração colonial.
'Na cabeça vazia se atravessa
Um chapéu desmarcado, nem sei como
Sustenta o pobre só do laço o peso.
Ah ! tu, Catão severo, tu que estranhas
O rir-se um cônsul moço, que fizeras
95 - Se em Chile agora entrasses e se visses
Ser o rei dos peraltas quem governa ?
Já lá vai, Doroteu, aquela idade
Em que os próprios mancebos, que subiam
À honra do governo, aos outros davam
100 - Exemplos de modéstia, até nos trajes.
Deviam, Doroteu, morrer os povos
Apenas os maiores imitaram
Os rostos e os costumes das mulheres
Seguindo as modas e raspando as barbas.'
XXVI. Marília de Dirceu (1792-1799)
De Tomás Antônio Gonzaga
Um dos mais expressivos monólogos da lira da língua portuguesa, no qual Dirceu Encarcerado lamenta a separação da sua musa amada Marília. Um dos maiores poemas da cultura luso-brasileira de todos os tempos.
'Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d¿expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!'