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Em nova falha do MEC, resultado do Sisu atrasa após faculdades receberem lista com erro

Em mais uma falha registrada no sistema neste ano, ministério enviou lista de espera errada para as instituições de ensino

7 fev 2020 - 13h08
(atualizado às 21h30)
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SÃO PAULO - Universidades federais de várias regiões do País comunicaram nesta sexta-feira, 7, ter recebido uma lista de espera do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) com erros. A lista foi enviada para as instituições na quinta-feira, 6, pelo Ministério da Educação (MEC), segundo as próprias faculdades. Algumas horas após o envio, porém, as instituições dizem que o MEC avisou sobre falha na lista e pediu para que não fossem divulgadas.

O Sisu é o sistema online em que universidades públicas oferecem vagas para quem fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Só este ano houve 1,8 milhão inscritos, para 237 mil vagas. O Sisu deste ano foi marcado por uma série de falhas.

Questionado, o MEC não informou o que provocou o problema na lista de espera e se apura a responsabilidade pela nova falha no sistema. A pasta apenas enviou nota em que diz que divulgação dos aprovados ocorrerá na segunda-feira, 10, sem informar o motivo.

O Sisu é utilizado para selecionar candidatos para 238.397 vagas de graduação
O Sisu é utilizado para selecionar candidatos para 238.397 vagas de graduação
Foto: Agência Brasil / Estadão

O cronograma do MEC previa que o resultado da lista de espera seria divulgado nesta sexta. Para isso, encaminhou as listas com os candidatos selecionados para as instituições. Ao menos oito universidades publicaram nota em suas páginas oficiais explicando que, por causa do erro, a relação dos aprovados não seria divulgada.

O Estado apurou que o erro no sistema ocorreu em consequência de mudanças que foram feitas nas regras de acesso à lista de espera. O Sisu permite que o candidato escolha duas opções de curso - até o ano passado, o candidato que tivesse sido aprovado na segunda opção, podia desistir da vaga para ficar na lista de espera da primeira opção. Neste ano, pela primeira vez, isso não é mais permitido - quem foi selecionado para a segunda opção não pode entrar na lista de espera.

Segundo servidores, a alteração no sistema não foi configurado para tratar todas as condições de aprovação dos estudantes. Por isso, houve confusão na elaboração da lista de espera.

Segundo a Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), a Pró-Reitoria de Graduação recebeu a lista na quinta à noite, quando divulgou o resultado, mas na madrugada de sexta recebeu uma notificação do sistema do MEC de que "a instituição deve esperar a Lista de Espera definitiva que ainda será disponibilizada". A universidade questionou quando receberia a nova lista, mas não obteve resposta.

O mesmo ocorreu com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A instituição publicou uma nota em seu site informando os alunos que ainda "não há uma nova data prevista para a divulgação" e que assim que a lista for disponibilizada pelo MEC irá divulgar um novo cronograma para as matrículas. As universidades Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), a de São Carlos (UFSCar), de Campina Grande (UFCG), do Maranhão (UFMA) também comunicaram o problema em seus canais oficiais.

A única que chegou a informar uma nova data para a divulgação da lista foi a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que disse ter sido notificada que o resultado será publicado na segunda-feira, 10, o que implica em mudanças no calendário de matrículas da instituição.

As universidades temem que os atrasos provocados pelas falhas no sistema possam prejudicar o início do ano letivo, já que dependem da divulgação das listas para que possam efetuar as matrículas dos novos alunos.

Atraso

A divulgação da primeira lista de aprovados no Sisu também teve atraso. Dessa vez, no entanto, porque a liberação foi impedida por uma decisão judicial até que o MEC comprovasse que o erro de correção nas provas do Enem não teve impacto na nota dos demais candidatos e, portanto, não prejudicaria a seleção dos estudantes para ocupar as vagas nos cursos de graduação de todo o País.

Manutenção

O Estado mostrou que o MEC perdeu no ano passado 50 consultores que atuavam na área de tecnologia da informação. Eles eram responsáveis pela manutenção e atualização de uma série de sistemas da pasta, entre eles o Sisu. Segundo servidores, o déficit de funcionários contribui para as falhas que ocorreram neste ano.

Os consultores deixaram de atuar no MEC em julho de 2019, quando o ministro Abraham Weintraub anulou acordo de assistência técnica com a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), em vigor desde 2008, após suspeita de irregularidades - apesar de nenhum indício ter sido apresentado pelo ministro.

Há anos o sistema enfrenta instabilidades e servidores alertam sobre a necessidade de desenvolver uma plataforma mais robusta, que suporte receber a quantidade de acessos simultâneos dos estudantes. Mas, segundo os servidores, com a redução do quadro de consultores da área este ano, a manutenção foi ainda mais precária, dificultando a detecção de falhas.

Enem

Não apenas o Sisu teve problemas neste ano, mas o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) apresentou uma série de falhas. Logo que foi divulgado o resultado individual dos candidatos, houve suspeita de erro nas notas. Alertado pelos estudantes, o ministério confirmou a falha no dia seguinte. Dois dias depois, a pasta informou que o erro na correção ocorreu na gráfica e afetou 5.974 candidatos, que tiveram as provas corrigidas com gabarito de prova diferente da que fizeram. A falha foi questionada na Justiça, que chegou a barrar a divulgação dos resultados do Sisu.

Antes de todas as falhas do Enem se tornarem públicas e provocarem uma série de transtornos aos candidatos, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, chegou a dizer que tinha feito "o melhor Enem da história".

Confira os seis erros do Enem e do Sisu 2019:

Vazamento

No primeiro dia de aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no dia 3 de novembro de 2019, houve o vazamento da proposta de redação poucos minutos após o início da prova. O ministério confirmou que a foto tirada era real, mas assegurou que o vazamento não prejudicou o andamento do exame.

Falha na correção

Logo que foi divulgado o resultado individual dos candidatos no Enem, candidatos suspeitaram que suas notas estavam incorretas. Alertado pelos estudantes, o ministério confirmou a falha no dia seguinte. Dois dias depois, a pasta informou que o erro na correção ocorreu na gráfica e afetou 5.974 candidatos, que tiveram as provas corrigidas com gabarito de prova diferente da que fizeram.

Instabilidade

Após a recorreção das provas, o MEC decidiu abrir as inscrições para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Os estudantes relataram uma série de dificuldades para acessar o sistema por causa de instabilidades e lentidão no portal.

Vazamento da lista

Barrada pela Justiça Federal em São Paulo, a divulgação da lista de aprovados do Sisu vazou nas redes sociais na manhã de terça-feira, 28. O MEC confirmou o vazamento, mas disse que não se tratava do "resultado oficial". O ministério não informou o que provocou o problema e se apurava responsabilidade do vazamento.

Lista de espera

Após uma decisão judicial favorável ao governo, a lista de aprovados do Sisu foi divulgada na noite de terça-feira, 28. Horas depois, os candidatos relatavam ter encontrado falhas para acessar a lista de espera. Eles disseram ter sido inscritos em uma segunda opção de curso diferente da que escolheram.

Deficientes

O Ministério Público Federal (MPF) diz ter encontrado indícios de falha na oferta de vagas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) destinadas a candidatos com deficiência física. A Procuradoria diz ter encontrado "número expressivo de cursos em todo o País que tiveram vagas reservadas em número inferior ao percentual de sua população com deficiência, como determina a lei, ou que não tiveram nenhuma vaga reservada". O Ministério da Educação (MEC) tem um prazo de cinco dias úteis para explicar como calculou as cotas e se houve algum erro.

Estadão
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