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'Novos médicos' recorrem a coworkings e financiamento para começar carreira

Contando com financiamento parcial das mensalidades da faculdade e espaços equipados de atendimento no sistema "pay-per-use", médicos e dentistas se formam e ganham fôlego para se estabelecer profissionalmente

13 fev 2022 - 05h16
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A classe médica está aumentando e ficando mais jovem no Brasil. De acordo com os dados mais recentes do ProvMed 2030, parceria entre o Ministério da Saúde, a USP e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) que mapeia a oferta de médicos no País, o número de profissionais passou de 315.902 em 2010 para 487.275 em 2020. A previsão é que a quantidade quase dobre até 2030, chegando a 815.570 médicos, sendo que 80% dos profissionais terão entre 22 e 45 anos.

Outro dado de destaque é a proporção entre homens e mulheres. Se em 2010 as mulheres já representavam 50% dos egressos em cursos de medicina, a previsão é de que elas serão maioria na categoria em 2030. Para além das projeções, cursar medicina ou outras áreas da saúde, como odontologia, custa caro. Quando não conseguem ingressar em uma das disputadíssimas universidades públicas, muitos tentam uma vaga na rede privada, onde as mensalidades podem chegar a mais de R$ 12 mil.

Finalizados curso e residência, vêm os plantões nos hospitais, parcerias com planos de saúde ou um novo desafio financeiro: montar - e gerir - um consultório próprio. Além dos equipamentos, que variam de acordo com a especialidade e exigem manutenção regular, os custos envolvem questões fiscais, tributáveis, contábeis e sanitárias, além de aluguel, condomínio, água, luz, internet, funcionários e materiais médicos.

Após inúmeras tentativas de ingressar em uma universidade federal, a estudante de medicina Simoni Nunes entrou em uma faculdade particular e vai se formar no final do ano. Para pagar o curso, ela trabalha vendendo pastel em uma praia do litoral de Santa Catarina e conseguiu um financiamento pela plataforma Pravaler, que oferece soluções para o ecossistema da educação.

"Muitas pessoas falam que medicina é só para ricos. E, se não fosse o financiamento, eu realmente não conseguiria cursar", ela avalia. "Eu consegui o crédito com a fintech online, por meio de um código enviado para o celular. Como não tenho familiares que consigam comprovar o valor necessário, um cliente da minha mãe se dispôs a ajudar", conta.

Para fazer a faculdade de medicina da Uniara, em Araraquara (SP), a médica Caroline Melo Magnani, de 34 anos, conta que conseguiu uma bolsa de 50% pelo Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e que os pais pagaram a outra metade. Com residência em ginecologia obstetrícia e pós-graduação em medicina fetal, ela fala que queria abrir um consultório, mas era a primeira médica da família e não havia capital para isso. "Para ter um bom retorno financeiro, fiquei refém dos plantões de hospital", afirma. "De 2013 a 2018, pegava plantões quase todos os dias. Era uma rotina exaustiva fisicamente e psicologicamente. Cheguei a questionar se queria mesmo continuar nessa carreira."

Após cinco anos de hospital, surgiu a oportunidade de fazer um curso de laser íntimo - especialidade médica que estimula a regeneração dos tecidos e de todo o trato genital feminino. "Só que aí eu realmente precisava de um espaço para trabalhar. E foi quando achei a Livance", explica, referindo-se a um coworking que oferece infraestrutura completa e espaços compartilhados para profissionais de saúde, com unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro. "Foi perfeito porque não tinha dívida mensal. Se tem paciente, você paga pela locação da sala. Se não tem, não paga."

A médica passou então a se dividir entre os plantões e os atendimentos na Livance. "O espaço também foi fundamental para meu networking", observa. "Além de poder fazer propaganda do meu trabalho, é um lugar de troca onde a gente divide e discute casos, por exemplo."

Depois de um ano no coworking, ela conseguiu largar os plantões e abrir o primeiro consultório próprio (hoje são dois). Mais do que o retorno financeiro, ela fala que a carreira é uma realização pessoal. "Apesar de estarmos vivendo um momento de cada vez menos valorização profissional, acredito sinceramente que a medicina ainda é o caminho para entender o 'cuidar do ser humano'. Através da dedicação, do esforço e da empatia, somos capazes de mudar a vida do outro de forma muito positiva e duradoura", conclui.

Acesso a tecnologias de ponta

Pagar a faculdade também foi um dos primeiros desafios da dentista Gabriella Picchi, de 26 anos, formada em odontologia pela Universidade de Guarulhos. "Durante meu ingresso na faculdade, meus pais estavam se separando e foi uma fase muito conturbada da minha vida", ela lembra. "Mas com a ajuda de um tio nos primeiros anos e, posteriormente, através de um financiamento estudantil, consegui concluir o curso."

Com estágios em diversas áreas, como harmonização facial e clínica geral, e uma especialização em periodontia pela USP, ela fala que o maior desafio da profissão é onde trabalhar. "Comecei a atuar como profissional habilitada para realizar procedimentos em clínicas particulares, mas sempre tendo que pagar uma porcentagem referente aos atendimentos e tratamentos para as clínicas, o que acabava refletindo na remuneração", diz. "E se você tiver capital para abrir seu próprio negócio, não acredite que será fácil. Para que o consultório comece e dê certo, você precisará se interessar também por gestão, administração e empreendedorismo."

Ela acredita que os espaços compartilhados sejam a melhor opção no cenário atual. A dentista atende seus pacientes na OPT.DOC, um coworking para médicos e dentistas que tem parcerias com uma rede de exames, uma facilitadora de reembolsos de planos de saúde e uma fintech que oferece serviços financeiros e linhas de crédito com condições especiais aos profissionais que atendem em suas salas. O espaço dá ainda acesso a tecnologias como scanners intraorais, câmeras, estúdio fotográfico, laboratório de prótese, radiografias e tomógrafo, além de ter toda uma equipe de apoio, que inclui manobristas, recepcionistas e auxiliares.

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"É possível realizar um trabalho de excelência com custos que permitem ter uma boa remuneração, sem ter que pagar porcentagens em clínicas particulares ou realizar investimentos mais significativos para ter o seu próprio consultório."

Atendimento com capilaridade

Outro que apostou no modelo compartilhado é o cirurgião de cabeça e pescoço Arthur Vicentini, de 36 anos, formado em Medicina pela USP, que optou pela carreira inspirado na família. "Meu pai e minha mãe sempre me ensinaram a agradecer pelo que tenho e devolver um pouco para o mundo para ajudar a diminuir o sofrimento dos outros", revela. Mas o começo, segundo ele, não é um mar de rosas.

"Inicialmente foram necessários muitos plantões para complementar a renda da residência, que é pequena. Cheguei também a me associar a um convênio, mas por conta da remuneração baixa, que acaba exigindo um volume grande de atendimentos, optei por seguir apenas com os atendimentos particulares."

Após atender no consultório de um cirurgião mais velho por oito meses, ele fala que escolheu buscar um espaço onde pudesse se dedicar à carreira para crescer. Vicentini também entrou na Livance para dar esse pontapé inicial sem precisar investir uma fortuna. "Além do custo-benefício, me entrega coisas muito importantes, como capilaridade. Tem várias salas em vários lugares, então consigo me deslocar e atender mais públicos", diz. "Talvez em algum momento da carreira eu me estabeleça em algum lugar para ter um espaço mais personalizado e menos tempo gasto em deslocamento, mas não num futuro próximo."

Estadão
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