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Geração Z também quer mudar o mundo pelo mercado de trabalho

Pautas sociais, como racismo e feminismo, são inegociáveis para mais jovens; geração entrou em foco com debate nas redes em contraponto a millennials, chamados de 'cringe'

27 jun 2021 - 16h03
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A estudante Júlia Silva, de 20 anos, não quer só um trabalho que lhe dê dinheiro. Para ela, é importante ter também um propósito maior na vida. "Minha formação foi nos movimentos sociais, então sempre tive discussões sobre feminismo, racismo e questões LGBT. É até estranho pensar que isso não era discutido antes."

O perfil da moradora de Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, não é exceção. Os integrantes da chamada Geração Z - nascidos entre 1995 e 2010 - também querem mudar o mundo pelo mercado de trabalho.

"Os valores são algo muito importante para eles, tanto no consumo quanto para escolha de carreira", explica Renata Rivetti, diretora e fundadora da Reconnect, empresa especializada em felicidade corporativa. Esses jovens são mais práticos do que a geração anterior, os millennials ou Geração Y - nascidos entre 1980 e 1994. "Os millennials ficavam muito no campo das ideias, focados no 'eu'. Já a Geração Z é mais do diálogo, de ouvir diferentes opiniões e tomar decisões de forma aberta", diz Renata.

Nos últimos dias esse conflito entre as duas gerações, em tom de brincadeira, veio à tona por meio das redes sociais. Os jovens da Geração Z começaram a elencar práticas dos millenials que eles julgam como "cringe", termo utilizado para definir algo constrangedor (ou "vergonha alheia").

Júlia Silva conta que não enfrenta tanta dificuldade em lidar com a geração anterior, mas não lida muito bem com as outras duas gerações: os Baby Boomer (nascidos de 1940 a 1959) e a Geração X (de 1960 a 1979). "Parece que, quanto mais a pessoa envelhece, tem mais dificuldade de absorver informações da galera mais nova. É bem complicado discutir. Então, a forma de lidar é não falando sobre o assunto", assume.

Renata Rivetti sugere que a Geração Z tenha mais paciência. "Buscar equilibrar essa autonomia tendo que ceder um pouco, entendendo que outras gerações precisam de um trabalho mais cuidadoso. Alcançar os objetivos sem tanto imediatismo."

Qualificação, oportunidades e dificuldades

Júlia Silva, que estuda Letras, ainda está no primeiro semestre da faculdade e, portanto, achar um estágio na área é difícil. Restou procurar o trabalho "mais fácil para sua idade", como mesmo define, para conseguir ajudar em casa e conquistar mais liberdade financeira. Não tem sido fácil.

"É difícil porque é cobrada experiência e eu não tenho. Estou procurando desde o início do ano. Vou a cerca de quatro entrevistas por semana, fora os currículos que envio para outras vagas que nem me chamam", lamenta.

Na avaliação de Elcio Paulo Teixeira, CEO da Heach Recursos Humanos, empresa de recrutamento e seleção, o mercado de trabalho ainda não está preparado para receber trabalhadores da Geração Z.

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"O contratante muitas vezes busca alguém que queira permanecer na mesma posição performando. O jovem é inquieto, quer dar resultado e ser reconhecido por isso. As empresas acabam doutrinando esse jovem e ele acaba migrando de empresa para empresa", afirma o especialista.

Por outro lado, ele reconhece que a Geração Z tem habilidades que são únicas, como a facilidade para se trabalhar com tecnologia e inovação, além de ter soft skills (habilidades comportamentais) como análise crítica e pensamento ágil. "Os treinamentos precisam ser adequados para o nível de experiência", completa Elcio.

Para Martin Casaccia, CMO da Workana, marketplace que conecta freelancers a empresas, o RH deve se preocupar também com a divergência entre gerações. "O RH das empresas e os gestores precisam entender as características e necessidades de cada geração e equilibrá-las para que a convivência seja saudável e proporcione o desenvolvimento dos profissionais. É preciso identificar os pontos fortes de cada um e somar esses pontos aos dos demais", diz.

Humor no conflito

A atriz Vicka Matos, de 26 anos, viu no TikTok a oportunidade de pautar a discussão entre gerações de uma forma bem humorada. Com vídeos onde interpreta um integrante de cada grupo geracional, a baiana que mora em São Paulo tem se destacado na plataforma. E faz questão de ressaltar seu time: completa 27 anos em setembro, portanto, é millennial.

"Acho que nós não conseguimos admitir que estamos ficando velhos. Aí, essa não aceitação com a chegada da maturidade faz com que a gente tenha esse impulso de criticar o comportamento dos mais jovens, mas temos que confiar neles", analisa.

O primeiro vídeo publicado por Vicka sobre o assunto, em 20 de fevereiro, alcançou 76 mil visualizações, o que chamou a atenção da atriz, já que destoa da maioria. Um novo vídeo chegou a 180 mil visualizações e um dos mais recentes foi visto 273 mil vezes.

Diretora de Recursos Humanos da Avon Brasil, Daniella Moura afirma que a divergência entre as gerações faz parte do mercado de trabalho e avalia como uma excelente alavanca para estimular a diversidade e a inovação na empresa.

"As trocas entre as gerações são muito valorizadas na Avon, e uma das características dos colaboradores é abrir espaço para o compartilhamento livre de preconceitos, estigmas e ego. Também entendemos a importância de nossos estagiários e trainees terem mentores, além de gestores, que os ajudem a equilibrar as expectativas diante das possíveis dificuldades e choques de geração", diz.

Daniella Moura avalia que a campanha da marca durante o Big Brother Brasil, na TV Globo, foi bem recebida nas redes sociais justamente por ter sido planejada por trabalhadores de diferentes gerações. "A Geração Z tem muito bem definido o cenário de mundo ideal: equitativo, justo, diverso e sustentável - e eles trabalham por isso", completa a diretora.

Estadão
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