PUBLICIDADE

Além de receber alunos com Down, escola precisa acolhê-los, diz educadora

21 mar 2013 - 09h22
(atualizado às 09h24)
Compartilhar
Exibir comentários
<p>No Brasil, de acordo com o Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de, a cada 600 a 800 nascimentos, uma crian&ccedil;a tem s&iacute;ndrome de Down</p>
No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, a cada 600 a 800 nascimentos, uma criança tem síndrome de Down
Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

Por lei, todas as escolas do país são obrigadas a aceitar alunos com deficiência e/ou doenças crônicas. Desde 1998, o número de matrículas de estudantes especiais em escolas regulares passou de 43,9 mil para 558 mil em 2011.

A realidade, porém, mostra que não basta receber os alunos, é preciso que a escola os acolha e, para isso, especialistas concordam que a formação de professores para cuidar desses alunos com necessidades especiais é ainda um dos maiores desafios para se alcançar a educação inclusiva.

Há 31 anos trabalhando com educação, a professora Edicléa Mascarenhas Fernandes é especialista em educação especial. Ela ajudou a fundar, em 2004, a disciplina prática pedagógica e educação inclusiva para todas os cursos de licenciatura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Para ela, que também faz parte do Conselho Estadual para a Política de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, a formação na graduação, na pós-graduação e na educação continuada precisa ser obrigatória em todos os cursos de licenciatura.

'Há 20 anos, quase não tínhamos crianças com síndrome de Down terminando o ensino fundamental. Hoje, felizmente, elas vão muito além e temos que preparar também o professor. A inclusão é um direito e, felizmente, na Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência apontamos novamente a necessidade de que esses cursos sejam obrigatórios, mas sem dúvida as políticas têm avançado muito', comentou a professora. Ela informou que a Uerj auxiliou a Universidade Federal Fluminense (UFF) na implementação da disciplina inclusão e diversidade na licenciatura.

Embora defenda a inclusão de crianças especiais nas classes comuns, a pesquisadora alertou que algumas crianças com deficiência múltiplas, por exemplo, podem precisar de atendimento mais restritivo. 'Defendo uma inclusão, [de acordo com as] modalidades existentes na educação especial. Por exemplo, especialistas surdos defendem as classes especiais nas séries iniciais, [em função da] língua de sinais. O projeto de inclusão não se esgota em estar ou não na classe comum', defendeu. 'Por isso, a formação é tão importante, para que esta criança tenha o que é melhor para ela'.

A professora se disse otimista e reconheceu que o país já avançou muito. "Mas ainda é preciso avançar muito na garantia de direitos. O acesso ao mundo profissional, por exemplo, ainda é muito restrito', lamentou Edicléa.

Chefe do Centro de Genética Médica do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Juan Llerena atende a crianças com todo o tipo de deficiência. Segundo ele, os avanços na medicina, que possibilitam maior sobrevida de pessoas com síndrome de Down, trazem enormes desafios para a sociedade na inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho.

'Minha preocupação maior não é tanto com as crianças e os adolescentes, mas com o adulto jovem que não está mais na escola, não está no mercado de trabalho e não há escolas profissionalizantes que o recebam, o que o torna exclusivamente dependente da capacidade criativa e motivadora da família'.

Assim como Edicléa, Llerena acredita que o Brasil avançou muito na discussão, mas que o modelo tradicional de ensino é incompatível com a proposta de inclusão e diversidade. 'A escola tradicional baseia-se no princípio do conhecimento cartesiano, direcionado à produtividade. e crianças com déficit intelectual não vão atender às exigências mínimas que a escola hoje solicita'.

Ele defendeu programas voltados para a adaptação desses indivíduos na sociedade. Segundo Lherena, cursos técnicos que priorizam a mão de obra e a prática podem ser muito mais úteis e atraentes para algumas crianças com síndrome de Down.

Dados do Censo da Educação Superior de 2009 mostram que a quantidade de estudantes com algum tipo de deficiência intelectual matriculadas em instituições de ensino superior, públicas e privadas, chega a 465. Desse total, 62 estão em instituições federais.

Agência Brasil Agência Brasil
Compartilhar
Publicidade
Publicidade