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Apesar dos 10 anos de ECA, que
prevê ser dever do Estado assegurar à
criança e ao adolescente atendimento em creche
e pré-escola às crianças de até
6 anos, a educação infantil é
um setor que recebe pouca atenção. Segundo
a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
de 1997, apenas 36,4% das crianças de 4 anos
estão matriculadas no Brasil.
Um dos problemas mais graves é a falta de
vagas. Em São Paulo, por exemplo, o conselho
tutelar do bairro da Penha guarda pedidos de creche
de 1997, ainda sem resposta por parte da Prefeitura.
"Às vezes, a espera por vaga é
tão grande que a criança completa a
idade para entrar nas escolas de educação
infantil (Emeis), que também não conseguem
atender à demanda de alunos", diz a conselheira
tutelar Elizete Aparecida Rossoni Miranda. As creches
recebem crianças de até 3 anos e 11
meses, em período integral, e a pré-escola,
meninos e meninas de 4 a 6 anos e 11 meses. "Aí,
outro problema: as mães que antes deixavam
o filho todo o dia na creche só têm escola
por meio período na Emei."
Márcia Cristina da Rocha, de 35 anos, é
uma das vítimas do problema. No ano passado,
ela fez ficha numa creche de Cangaíba, na zona
leste de São Paulo, para deixar o filho Fábio,
hoje com 2 anos. Chegou a participar de sorteio com
outras mães e conseguiu a vaga. "Quando
contei que recebia R$ 200,00 no emprego de doméstica
e meu marido também trabalhava, me disseram
que não teria mais a vaga porque, para isso,
o mínimo de renda familiar era de quatro salários
mínimos", diz. "Ao dizer que precisava
da vaga e a lei me amparava, me mandaram procurar
o prefeito Celso Pitta para reclamar."
Sem ter onde deixar a criança, Márcia
perdeu o emprego e, sem seus R$ 200,00 mensais, a
família teve de deixar a casa onde morava de
aluguel. "Agora estamos vivendo de favor na casa
da minha irmã."
Redação
Terra / O Estado de S. Paulo
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