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Coronavírus

Meta flexível do Orçamento de 2021 descumpre LRF, diz TCU

Área técnica colocou em xeque a validade da meta fiscal flexível porque 'subverte a regra de resultado fiscal'

28 out 2020 - 16h26
(atualizado às 16h36)
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O plenário do Tribunal de Contas da União (TCU) emitiu nesta quarta-feira, 28, um alerta ao governo por considerar que a meta fiscal flexível proposta para as contas públicas em 2021 não condiz com as exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A corte de contas também quer ouvir o Tesouro Nacional e o Ministério da Economia sobre os riscos e a possibilidade de elaborar um plano de bloqueio de recursos, caso a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021, que fixa a meta e as bases legais para gastos, não seja aprovada ainda este ano.

Meta flexível do Orçamento de 2021 descumpre LRF, diz TCU
Meta flexível do Orçamento de 2021 descumpre LRF, diz TCU
Foto: fdr

Como antecipou o Estadão/Broadcast, a área técnica do TCU colocou em xeque a validade da meta fiscal flexível porque, na visão do tribunal, "subverte a regra de resultado fiscal e torna ineficaz os seus propósitos". A posição foi acatada pelo relator, ministro Bruno Dantas, e ratificada pelo plenário da corte de contas.

Devido às incertezas provocadas pelos efeitos da pandemia de covid-19 sobre a arrecadação, o governo resolveu abandonar uma meta fixa de resultado primário no ano que vem (ou seja, um limite para o rombo nas contas públicas antes mesmo do pagamento das despesas com juros) e estabeleceu que seu objetivo central em 2021 será a diferença entre as receitas e as despesas, limitadas ao teto de gastos.

Na prática, o mecanismo que limita o avanço das despesas à inflação acabaria se tornando uma "superâncora", deixando o governo livre do compromisso de fazer eventuais bloqueios de gastos em caso de frustração de receitas.

Em seu voto, Dantas afirma que não é possível uma "recorrência" de meta aberta para 2021, como já ocorreu este ano devido à calamidade imposta pela pandemia, e que a proposta do governo transformou o resultado primário em "um resultado matemático que surgir ao final do exercício". "A meta estipulada não atende adequadamente à Lei de Responsabilidade Fiscal", afirmou.

O alerta emitido pelo plenário do tribunal serve de aviso ao governo. No acórdão, os ministros do TCU afirmam que, se aprovado o projeto, "sua manutenção nos termos propostos pode configurar infração aos referidos dispositivos". Na avaliação de técnicos, caso o Congresso Nacional aprove a proposta de LDO da maneira como enviada pela equipe econômica, o tema pode virar alvo de uma disputa jurídica devido ao conflito de normas legais.

A mudança na sistemática da meta fiscal é central na estratégia de política fiscal do ministro da Economia, Paulo Guedes, para 2021, quando o orçamento de guerra já não estará mais em vigor. O orçamento de guerra retirou as amarras para que o governo pudesse gastar mais no combate à pandemia.

Para os técnicos do TCU, porém, a mudança na sistemática da meta pode fragilizar os esforços para assegurar a consolidação fiscal e a trajetória sustentável do endividamento público, que chega se aproxima de 100% do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, o argumento é que, mesmo que haja frustração de receitas - ameaçando o cumprimento da meta -, o governo sempre pode pedir novo aval do Congresso Nacional para alterar o objetivo da política fiscal.

A discussão ocorre num momento delicado em que o Congresso vive um impasse em torno da instalação da Comissão Mista de Orçamento (CMO), que tem que analisar a LDO e a proposta de Orçamento.

Como revelou o Estadão/Broadcast, a não aprovação da LDO, que é um passo prévio ao próprio Orçamento, poderia deixar o governo sem base legal para gastar em 2021, inclusive pagar despesas que são obrigatórias, como salários e benefícios previdenciários. É a LDO que estabelece a regra de execução provisória das despesas em caso de atraso no Orçamento.

Hoje, o plenário do TCU deu dez dias para que Tesouro Nacional e Ministério da Economia sejam ouvidos sobre os riscos e a possibilidade de elaboração de um plano de contingência para o caso de a LDO não ser aprovada ainda este ano, deixando um vácuo legal para a execução de despesas no ano que vem.

O não cumprimeto da LRF pode ser considerado crime de responsabilidade fiscal e culminar no impeachment do presidente Jair Bolsonaro. A ex-presidente Dilma Rousseff perdeu o cargo em uma situação semelhante, no caso das chamadas "pedaladas fiscais".

Estadão
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