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Coronavírus

Escola fechada prejudica busca por emprego

Estudo do Insper aponta que retorno das mulheres ao mercado de trabalho será ainda mais atrasado do que o dos homens, considerando uma mesma classe social

27 jun 2021 - 00h09
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BRASÍLIA - A retomada econômica para as mulheres pode ser mais desafiadora do que a dos homens, avalia a economista Regina Madalozzo, pesquisadora do Insper e uma das autoras do estudo que analisa o impacto da pandemia de covid-19 sobre as trabalhadoras.

As entrevistas com as moradoras de três grandes comunidades foram conduzidas entre outubro de dezembro de 2020, quando já se achava que havia retomada parcial das atividades.

"A dificuldade que elas tinham era não necessariamente só de vaga de trabalho, como diarista, empregada doméstica. Muitas foram entrevistadas, elas até tinham o sentimento de retomada. Mas qual era o problema? Se elas tinham criança pequena em casa, elas não tinham com quem deixar para ir trabalhar. Elas precisavam da escola, que até hoje não retomou", diz Madalozzo.

Para a economista, o retorno das mulheres ao mercado de trabalho será ainda mais atrasado do que o dos homens, considerando uma mesma classe social, justamente por causa da escola. Ela esclarece que não se trata de reabrir as instituições de ensino independentemente da situação do vírus, mas sim compreender as necessidades das famílias.

Regina Madalozzo: 'Uma escola que retorna 30% com dias alternados não permite que as mulheres voltem a trabalhar'
Regina Madalozzo: 'Uma escola que retorna 30% com dias alternados não permite que as mulheres voltem a trabalhar'
Foto: Divulgação/Insper / Estadão

"Uma escola que retorna 30% com dias alternados não permite que as mulheres voltem a trabalhar. Você precisa ter certa regularidade. E do jeito que estamos fazendo, essa retomada está um pouco desorganizada, não consegue viabilizar o trabalho de pessoas que são cuidadoras de outras pessoas", afirma. Segundo Madalozzo, é preciso haver articulação e planejamento para evitar que o trabalho doméstico, que já recai mais sobre as mulheres, se transforme em um fator de peso ainda maior para impedi-las de embarcar na retomada.

Leia Mateus dos Santos, de 31 anos, moradora de Heliópolis, foi demitida em meados do ano passado. Ela trabalhava na copa de uma escola em São Paulo e viveu uma saga para resgatar seu seguro-desemprego, que caiu em uma conta bancária antiga, sediada na Bahia. Só a passagem de ida e volta custou R$ 250. "Gastei boa parte do seguro, bem mais do que se tivesse recebido aqui", conta.

Até hoje, Leia não conseguiu emprego. Ela fica em casa, cuidando de um dos filhos - uma menina mora com a avó na Bahia. O pequeno ficou um tempo sem ir à escola porque a perda do salário de R$ 1,3 mil mensais inviabilizou o pagamento do transporte. "Agora consegui uma escola mais próxima", diz.

O único sustento da casa vem do marido de Leia, que trabalha em uma loja de mecânica e estética de carros. A rotina do lar mudou. "Tem semanas que a gente nem consegue comer carne. Quando tem promoção a gente compra", afirma Leia, dizendo que as alternativas mais comuns têm sido o frango e o ovo.

Hoje dona de casa, ela afirma que não tem conseguido nenhum bico e está em busca de emprego. Mas a tarefa não é fácil. Em uma seleção recente para um supermercado próximo à sua casa, ela lembra de ter enfrentado uma enorme fila. Foram três dias de entrevistas, e ela não foi chamada. "Estou à procura de novo. O que Deus preparar para mim eu estou aceitando. Tenho pedido muito para Ele preparar um emprego para mim", diz.

Estadão
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