Com obra sobre desejo e identidade, Alberto Boni é o favorito do público no Festival Vórtice 2025
Paulistano, 43 anos, graduado em artes plásticas pela ECA-USP, com especialização em multimídia, Boni iniciou sua carreira artística com fotografia e arte digital
O artista visual Alberto Boni foi eleito pelo público como artista favorito do 4º Festival Vórtice, realizado entre maio e junho, em São Paulo. A obra "Meninos", composta por 25 imagens que retratam o desejo e a afetividade entre homens, venceu por votação popular entre 123 artistas do Brasil e do mundo.
"Ter minha obra exposta ao lado de tantos artistas que admiro e me inspiram já era uma grande vitória. Ser escolhido pelo público foi uma surpresa e uma emoção enorme. Me senti como se estivesse fora do corpo", contou Boni, que vê no reconhecimento um sinal claro de que está trilhando o caminho certo.
Alberto Boni: um retorno movido por vocação
Paulistano, 43 anos, graduado em artes plásticas pela ECA-USP, com especialização em multimídia, Boni iniciou sua carreira artística com fotografia e arte digital. Depois, migrou para design gráfico e web, morou no Canadá, virou programador e, mais tarde, trabalhou por oito anos no mercado financeiro.
"Minha vida estava financeiramente estável, com uma carreira consolidada, mas eu me sentia cada vez mais distante de quem eu era. A vocação artística falou mais alto", revela. O retorno às artes veio após um burnout, que o fez repensar prioridades e redescobrir sua paixão criativa.
"Foi uma aposta. Como empreender: abrir mão da segurança para tentar voltar a ser feliz. Voltei mais maduro, com outro olhar sobre mim e sobre o que quero expressar. Não dá mais pra fugir do que me constitui."
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A obra: fragmentos de desejo e memória
"Meninos" nasceu de desenhos feitos de forma quase íntima, em sketchbooks. Rabiscos despretensiosos que ganharam forma e força quando transferidos para madeira, material escolhido justamente por seu peso, textura e presença física.
"Eu fazia o trabalho no sketchbook, depois passei a desenhar em aquarela, em seguida a usar tinta acrílica e, depois, fui para o digital. E aí, eu fui para a madeira. A madeira me obriga a parar, tocar, sentir. Me cansei do digital. Precisava de algo mais real, mais tátil", explica.
O resultado é um mosaico intenso e colorido — em tons de rosa-choque, turquesa, laranja — que aborda o desejo masculino com franqueza, provocação e sensibilidade.
"Esses corpos meio 'avatarizados', sem rosto, são pedaços de mim. Mas também são de muitos outros homens que vivem o desejo em silêncio. Cresci me escondendo, e hoje meu trabalho é uma forma de existir sem culpa."
Reconhecimento e transformação
A exposição no Vórtice, o mais importante festival de arte erótica e dissidente do Brasil, marca uma nova fase em sua trajetória. O evento reuniu 123 artistas que discutem temas como liberdade, corpo e sexualidade.
Alberto Boni já havia participado da edição anterior, mas foi nesta que sentiu sua obra reverberar de forma mais profunda.
"A vitória é um combustível. Me mostra que estou no caminho certo, que é possível criar um trabalho autoral e, ainda assim, encontrar quem se conecte com ele."
Entre a arte e o cotidiano
Além da produção em arte visual, Boni tem explorado também outros formatos, como roupas e calçados customizados — formas de colocar a arte em circulação por meio de objetos do dia a dia.
"É uma maneira de ampliar meu alcance, de tornar o trabalho acessível fora do circuito tradicional de galerias. E, mesmo nesses produtos, tem algo da minha pesquisa, da minha linguagem."
* Fonte: Assessoria