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O misterioso lodo encontrado em ilha 'recém-nascida' do Pacífico que intriga a Nasa

A ilha surgiu em 2015 após uma erupção vulcânica no arquipélago de Tonga. Um grupo de cientistas e estudantes visitou o local pela primeira vez e encontrou um cenário diferente do que esperava.

7 fev 2019 - 11h31
(atualizado às 16h06)
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"Parecíamos crianças no meio daquilo."

Dan Slayback, pesquisador da Nasa, descreve a experiência que teve ao visitar uma nova ilha que nasceu no Pacífico e que vem, desde então, intrigando os cientistas da agência espacial americana.

A ilha vulcânica surgiu no oceano em 2015 após uma erupção e faz parte do arquipélago de Tonga.

Mas por que ela vem chamando a atenção?

A ilha é especialmente interessante porque apenas três, nos últimos 150 anos, nasceram de erupções - ela faz parte do grupo e tem sobrevivido há meses à poderosa erosão do oceano. Mas não é só isso.

Pistas que "levam a Marte"

Entender como as ilhas se formam e mudam na Terra pode dar pistas sobre a interação entre terrenos vulcânicos e antigas fontes de água em Marte.

Pesquisadores da Nasa vinham monitorando a ilha através de satélites. Mas a realidade, em campo, pode ser muito diferente das imagens captadas de forma remota.

Slayback e um grupo de estudantes com quem esteve no local que o digam. Ao desembarcarem por lá, eles encontraram um cenário muito diferente do esperado.

Lodo e cascalho

Slayback visitou a ilha com um pesquisador de Tonga, cientistas e estudantes da Sea Education Association (Associação de Estudos Marinhos, em tradução literal), um programa de exploração oceânica para estudantes universitários com sede em Woods Hole, Massachusetts, nos Estados Unidos. O grupo chegou a bordo de um navio da Associação.

Vegetação nascida de sementes espalhadas por aves está colonizando a lama, na nova ilha do Pacífico
Vegetação nascida de sementes espalhadas por aves está colonizando a lama, na nova ilha do Pacífico
Foto: Dan Slayback / BBC News Brasil

A ilha é tão nova que não tem nome e é descrita simplesmente como HTHH, a combinação do nome de duas ilhas próximas, Hunga Tonga e Hunga Ha'apai.

"A maior parte da ilha é como um cascalho negro. Eu não chamaria de areia porque as pedras são do tamanho de uma ervilha", disse Slayback, que é cientista do Centro de Voos Espaciais Goddard, o centro de pesquisas da NASA em Maryland.

"(Para andar no local) quase todos usávamos sandálias. Era muito doloroso sentir as pedras debaixo dos pés", disse o pesquisador em um blog da Nasa.

"Me surpreendeu o quão valioso foi estar pessoalmente na ilha. Quando você está lá, vê claramente o que acontece com o terreno", disse Dan Slayback, pesquisador da Nasa.
"Me surpreendeu o quão valioso foi estar pessoalmente na ilha. Quando você está lá, vê claramente o que acontece com o terreno", disse Dan Slayback, pesquisador da Nasa.
Foto: Dan Slayback / BBC News Brasil

Ele também observou que, no local, "há como uma argila que se estende a partir do centro". "Nas imagens de satélite você vê claramente esse material colorido, é lodo argiloso."

"É muito pegajoso. Quando o vimos não sabíamos o que era e sua origem ainda me intriga. Porque não é cinza vulcânica."

Vegetação e pássaros

O lodo não foi a única surpresa para os pesquisadores.

Slayback e os estudantes fotografaram a vegetação que está colonizando o terreno e que provavelmente cresceu a partir de sementes que chegaram à ilha em fezes de pássaros.

Os cientistas também encontraram aves marinhas trinta-reis-das-rocas (Onychoprion fuscatus) na nova ilha
Os cientistas também encontraram aves marinhas trinta-reis-das-rocas (Onychoprion fuscatus) na nova ilha
Foto: Dan Slayback / BBC News Brasil

Uma coruja, inclusive, provavelmente residente na vegetação das ilhas próximas, apareceu no local enquanto estavam lá.

Os cientistas também encontraram aves marinhas trinta-reis-das-rocas (Onychoprion fuscatus), nas depressões da terra ao redor da cratera.

Os estudantes fizeram registros da nova ilha com unidades de GPS e usaram drones para mapear o terreno
Os estudantes fizeram registros da nova ilha com unidades de GPS e usaram drones para mapear o terreno
Foto: Dan Slayback / BBC News Brasil
A expedição visitou a ilha em navio da Sea Education Association, um programa de exploração oceânica para estudantes universitários
A expedição visitou a ilha em navio da Sea Education Association, um programa de exploração oceânica para estudantes universitários
Foto: Dan Slayback / BBC News Brasil

Buracos nas falésias ao redor da cratera são outro mistério.

"Me surpreendeu o quão valioso foi estar pessoalmente na ilha. Quando você está lá, vê claramente o que acontece com o terreno", disse Slayback.

"A erosão causada pela chuva na ilha é muito mais rápida do que eu imaginava."

Pesquisas

A erosão causada pela chuva esculpiu as falésias ao redor da cratera
A erosão causada pela chuva esculpiu as falésias ao redor da cratera
Foto: Dan Slayback / BBC News Brasil

Os pesquisadores e estudantes coletaram amostras de rochas da ilha e fizeram medições do terreno com drones e unidades de GPS.

De volta ao laboratório no centro Goddard, Slayback agora trabalha em um modelo 3D da ilha para determinar seu volume.

O cientista espera voltar ao local no próximo ano em busca de pistas que permitam decifrar alguns dos seus muitos mistérios.

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As imagens do Polo Norte de Júpiter:
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