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Colapso de vulcão que matou centenas na Indonésia era previsível, dizem cientistas

Fazendo uma análise dos dados disponíveis, fica claro que algo estava errado com o vulcão que gerou o tsunami matando centenas de pessoas no país no ano passado.

2 out 2019 - 16h36
(atualizado em 7/10/2019 às 11h30)
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Vulcão Anak Krakatau - ou "Filhote de Krakatoa", em tradução livre - explodiu em dezembro
Vulcão Anak Krakatau - ou "Filhote de Krakatoa", em tradução livre - explodiu em dezembro
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O vulcão Anak Krakatau — "Filhote de Krakatoa", em tradução livre —, que fica numa ilha na Indonésia e entrou em colapso em dezembro do ano passado, criando um enorme tsunami e matando mais de 400 pessoas, deu sinais claros do que estava prestes a acontecer.

Essa é a conclusão de uma equipe liderada por pesquisadores alemães que está revisando os dados coletados na época. Os cientistas dizem que, nos meses antes da catástrofe, satélites haviam captado aumento de temperatura e movimento no solo no vulcão.

O que era um vulcão de 340 metros diminuiu para 110 metros de altura (à esq. foto de satélite em 17 de novembro de 2007 e à dir. foto em 28 de dezembro de 2018, 6 dias após a tragédia)
O que era um vulcão de 340 metros diminuiu para 110 metros de altura (à esq. foto de satélite em 17 de novembro de 2007 e à dir. foto em 28 de dezembro de 2018, 6 dias após a tragédia)
Foto: TerraSAR-X/DLR/GFZ / BBC News Brasil

Atividade sísmica e infrasonora também foi detectada dois minutos antes do colapso do lado sudoeste do vulcão.

Quando essa parte do vulcão deslizou para o mar, ela mandou uma enorme parede de água, de até 4 metros de altura, para o estreito de Sunda, entre as ilhas de Java e Sumatra, na Indonésia.

Mais de 400 pessoas morreram na tragédia de 22 de dezembro. Outras 7 mil ficaram feridas e quase 47 mil tiveram de deixar suas casas.

Alerta em conjunto

Thomas Walter, do Centro de Pesquisa em Geociência GFZ em Potsdam, diz que qualquer um dos sinais vistos individualmente não poderia ter sido usado para prever o que aconteceu no vulcão, mas vistos em conjunto os sinais poderiam ter servido de alerta.

"Juntando todos os sensores, você consegue ter uma visão geral do efeito em cascata que estava acontecendo", disse Walter à BBC News.

O time de pesquisadores percebeu que o vulcão estava passando por sua maior fase eruptiva em 20 anos em 2018 e que o lado sudoeste, que desabou no mar, havia começado a cair em direção ao oceano desde janeiro.

Também perceberam que havia uma intensa atividade térmica na montanha desde junho, e que a área da ilha havia crescido muito nos meses antes do colapso.

Uma atividade sísmica significativa logo antes do colapso também foi detectada — talvez um terremoto, talvez uma explosão, não está claro.

Segundo Walter, o mais interessante é que o sinal sísmico não cessou totalmente e, quando subiu de novo, mostrou a baixa frequência que é característica de um deslizamento de terra.

Alguns minutos depois, a frequência mudou de novo, o que os pesquisadores interpretam como uma série de explosões vulcânicas — "como se tirasse a tampa de uma garrafa".

Satélites da União Europeia tinham detectado movimento no vulcão ao longo de meses
Satélites da União Europeia tinham detectado movimento no vulcão ao longo de meses
Foto: ESA/GFZ / BBC News Brasil

As lições aprendidas com o Anak Krakatau podem ser usadas em outros vulcões com risco de gerar tragédias. Walter afirma que o tipo de movimento observado no vulcão pode ser considerado um potencial precursor de eventos do tipo.

Satélites e radares vão detectar esse tipo de deformação e diversos grupos no mundo estão desenvolvendo sistemas automáticos com algoritmos que analisam os dados buscando indícios de anomalias.

Há cerca de 40 vulcões ao redor do mundo que poderiam ter um comportamento parecido com o Anak Krakatau
Há cerca de 40 vulcões ao redor do mundo que poderiam ter um comportamento parecido com o Anak Krakatau
Foto: BBC News Brasil

Em dezembro do ano passado, redes de atividade sísmica detectaram o momento do colapso. "Mas temos muitos vulcões ao redor do mundo e não há estações por perto" diz Walter. "Nós deveríamos olhar para esses vulcões onde há um risco de colapso e investir na instalação dos instrumentos de medição."

A equpie de geógrafos da GFZ publicou suas descobertas na revista científica Nature Communications.

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