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Bico do tucano regula temperatura da ave, diz estudo

31 jul 2009 - 10h21
(atualizado às 10h56)
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O grande bico do tucano tem outras funções além de propiciar faro acurado: ele ajuda a ave a dispersar calor quando seu corpo se aquece demais, de acordo com um novo estudo. A descoberta também pode oferecer pistas sobre como alguns dinossauros podem ter empregado um mecanismo semelhante.

A imagem tirada com uma câmera infravermelha exibe as áreas quentes com cores brilhantes e as áreas frias com cores escuras
A imagem tirada com uma câmera infravermelha exibe as áreas quentes com cores brilhantes e as áreas frias com cores escuras
Foto: National Geographic

Já há mais de um século os biólogos estão curiosos quanto ao motivo para que os tucanos tenham bicos tão grandes e tão coloridos. Charles Darwin teorizou que isso servia para que atraíssem parceiros de acasalamento. Outros estudiosos propuseram a ideia de que os bicos serviam para descascar frutas, como armas em disputa por território ou como advertência visual a predadores.

Glenn Tattersall, da Universidade Brock, no Canadá, e sua equipe começaram a imaginar se o propósito do bico não poderia ser completamente diferente.

Liberação de calor

Como qualquer animal de sangue quente, o tucano precisa liberar o calor excedente de seu corpo - os humanos o fazem, em parte pelo suor, e os cachorros arfam para o mesmo propósito.

Os pesquisadores determinaram que o "grande apêndice desprovido de isolamento", com sua extensa rede de vasos sanguíneos próximos à superfície, "poderia ser uma importante ferramenta para ajudar os tucanos a se refrigerar", disse Tattersall.

Para determinar se a hipótese procedia, a equipe passou a fotografar regularmente tucanos cativos, com uma câmera infravermelha que exibe as áreas quentes de uma superfície com cores brilhantes e as áreas frias com cores escuras. Em condições quentes, os bicos dos tucanos pareciam brilhar com o calor irradiado, quando o sangue quente os percorria. Em temperaturas mais frias, os bicos escureciam - o fluxo de sangue para eles havia efetivamente parado.

Não se sabe ao certo se muitas outras espécies de pássaros utilizam seus bicos como mecanismo de dispersão de calor, diz Denis Andrade, da Universidade Estadual de São Paulo, no Brasil, co-autor do estudo. Os patos e gansos "parecem capazes de fazer a mesma coisa, ainda que não na mesma extensão que os tucanos", ele afirmou.

Conexão com os dinossauros?

Estudos anteriores também sugeriram que alguns dinossauros estavam equipados com radiadores de calor semelhantes em seus corpos. O debate sobre a função dos folhos localizados sobre a cabeça dos tricerátopos e das placas dos estegossauros continua, por exemplo, e alguns especialistas sugerem usos tão diversos quanto refrigeração, defesa, exibição para fins de acasalamento ou até mesmo identificação entre espécies.

Para reforçar o argumento do uso das placas e folhos como mecanismos de refrigeração, os pesquisadores precisariam provar que os dinossauros tinham a capacidade de controlar o fluxo de sangue para esses ornamentos ósseos, disse Tattersall ¿algo que os principais paleontologistas já tentaram fazer, até o momento sem resultados.

Kevin Padian, paleontologista da Universidade da Califórnia em Berkeley, concorda, acrescentando que "a maior parte do controle de temperatura acessória dos vertebrados, de lagartos a elefantes, é comportamental. O antílope se volta na direção do sol ou se afasta dele para conduzir regulação térmica, da mesma forma que fazem os seres humanos".

Mas "sem que seja possível observar diretamente os dinossauros extintos, não se pode determinar como poderiam ter usado seus corpos comuns, e muito menos essas estruturas bizarras, para fim de regulação térmica".O estudo foi publicado pela revista Science.

Tradução: Paulo Migliacci ME

National Geographic
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