Ressonância não é exame de rotina; vídeo faz recomendação falsa a vacinados antes de se exercitarem
MÉDICO ENGANA SOBRE PERFIL DE SEGURANÇA DOS IMUNIZANTES DA COVID; TESTE CITADO SÓ É SOLICITADO COM A SUSPEITA DE PROBLEMAS
O que estão compartilhando: que pessoas vacinadas contra a covid-19 pelas empresas Pfizer, Moderna e Astrazeneca devem fazer o exame da ressonância magnética nuclear do miocárdio antes de começarem a praticar atividade física. Em vídeo viral, um médico diz que esses três imunizantes utilizam a tecnologia do RNA mensageiro (mRNA). Segundo ele, essa técnica estaria causando doenças cardíacas e mortes.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. As evidências científicas mais robustas atestam que os imunizantes com a tecnologia de mRNA são seguros. Efeitos adversos são raros diante do total de doses já aplicadas. As contraindicações estão presentes na bula. Os estudos mais recentes mostram que a vacinação protege a saúde do coração.
Especialista ouvido pelo Verifica disse que a ressonância magnética não é recomendada como exame de rotina. Ela é mais solicitada quando já há a suspeita clínica de um problema no coração.
O médico que gravou o vídeo checado foi procurado, mas não respondeu.
Ressonância magnética não é exame de prevenção ou rotina
A ressonância magnética é um exame médico não invasivo. Ele permite visualizar ossos, músculos, órgãos e demais estruturas internas do corpo. Já o miocárdio é o músculo do coração.
O cardiologista emergencista Sergio Timerman diz que a ressonância é um exame importante para investigar, por exemplo, se o coração está sendo inteiramente irrigado pelo sangue. Outra condição que pode ser observada é a miocardite, a inflamação do coração.
Timerman, que dirige o centro de parada cardíaca e ciência da ressuscitação no Instituto do Coração (InCor/HCFMUSP), diz que a ressonância não é um exame de rotina. Seu uso é recomendado principalmente se a pessoa já apresenta algum sintoma de alerta, como dor no peito ou palpitação. "(A ressonância) É recomendada apenas após uma suspeita. Se a pessoa teve realmente alguma inflamação no coração, baseado nos sintomas e em outros testes."
Vacinação em dia reduz o risco de doenças cardíacas
Quase cinco anos após a aplicação das primeiras doses das vacinas de covid-19, os cientistas e pesquisadores continuam analisando os dados da imunização. Em junho deste ano, a Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) publicou um artigo de consenso clínico. A ESC propõe considerar a vacinação como o "quarto pilar" da prevenção médica cardiovascular - juntamente ao controle de hipertensão, do colesterol e da glicose. Além da prevenção de infecções e suas sequelas, a entidade diz que um conjunto crescente de evidências indica que vacinas contra a gripe, SARS-CoV-2, herpes zoster e outros vírus têm reduzido a incidência de eventos cardiovasculares adversos graves em indivíduos vacinados.
Evidências do benefício da vacinação contra problemas cardíacos foram observados pela Associação Americana do Coração (AHA). A organização disse que doenças como o coronavírus, a gripe e a pneumonia também causam inflamação no músculo do coração. Especificamente sobre a covid-19, a AHA falou que a doença está associada a um risco aumentado de batimentos cardíacos irregulares, insuficiência cardíaca e doença coronariana.
Em um estudo publicado em 2021 na revista científica The Lancet, a covid-19 foi associada a um risco de três a oito vezes maior de sofrer um ataque cardíaco e de três a sete vezes maior de sofrer um derrame.
Benefícios da imunização contra covid-19 superam os riscos
As vacinas contra a covid-19 passaram por ao menos três fases de testes antes de serem disponibilizadas à população. As principais agências sanitárias do mundo analisaram os dados de segurança e eficácia dos imunizantes. Sua conclusão é de que os benefícios de se vacinar superam os riscos de possíveis efeitos adversos raros.
A vacina contra a covid-19 da Pfizer é a única a utilizar a tecnologia de mRNA autorizada no Brasil. Sua bula está disponível no portal do Ministério da Saúde (aqui). Ela informa que o imunizante está associado a tipos de inflamação no coração em menos de 0,01% dos vacinados. São reações muito raras, e a resolução é rápida com o tratamento adequado.
A tecnologia de mRNA foi aplicada pela primeira vez em imunizantes durante a pandemia de covid-19. Ela já era estudada há anos como uma nova forma de prevenção e cura de doenças. Agora é pesquisada em outros campos, como o tratamento do câncer e da Aids.