Script = https://s1.trrsf.com/update-1765224309/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Foto de menino que teve doença agravada pela fome é usada para minimizar crise em Gaza

PERFIL DA EMBAIXADA DE ISRAEL NO INSTAGRAM AFIRMOU QUE IMAGEM DE CRIANÇA DESNUTRIDA FOI 'DETURPADA'; FAMÍLIA DO MENINO RELATOU QUE SITUAÇÃO MÉDICA PIOROU APÓS BLOQUEIO DE AJUDA HUMANITÁRIA

1 ago 2025 - 15h31
Compartilhar
Exibir comentários

O que estão compartilhando: que a foto de um menino desnutrido por causa de uma doença genética grave estaria sendo compartilhada nas redes sociais para alegar falsamente que Israel está deixando crianças passarem fome na Faixa de Gaza.

Israel desinforma ao atribuir desnutrição de criança de Gaza apenas à doença genética
Israel desinforma ao atribuir desnutrição de criança de Gaza apenas à doença genética
Foto: Reprodução/Instagram / Estadão

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. A criança que aparece nas imagens compartilhadas é Osama Al-Raqab. Ele de fato sofre de uma condição chamada fibrose cística, mas a doença foi agravada desde que os conflitos escalaram em Gaza. Familiares do menino informaram a diferentes veículos de imprensa que o bloqueio israelense à ajuda humanitária dificultou o acesso a alimentos adequados e medicamentos. O menino foi levado para a Itália para fazer tratamento e lá conseguiu ganhar peso.

Osama não foi a única criança a sofrer com a falta de alimentos em Gaza. Especialistas alertam que o enclave vive um cenário de "fome generalizada" com "mortes em larga escala" iminentes se não houver ação imediata. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alerta que a população inteira de menos de 5 anos de Gaza, mais de 320 mil crianças, corre risco de desnutrição severa. Desde 2023, 89 crianças morreram por desnutrição.

O Verifica procurou a Embaixada de Israel no Brasil, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem.

Saiba mais: em 24 de julho deste ano, o jornal italiano Il Fatto Quotidiano estampou sua capa com uma imagem de Osama Al-Raqab, uma criança da Faixa de Gaza que sofre com desnutrição. O veículo relacionou a condição dele diretamente ao bloqueio israelense na região.

Após a repercussão da imagem, perfis ligados ao governo israelense alegaram que a foto de Osama teria viralizado "para retratar falsamente Israel como responsável por sua condição". Em uma postagem no Instagram, a Embaixada de Israel no Brasil afirmou que o menino "sofre de uma doença genética grave, sem relação com a guerra".

"Em 12 de junho, coordenamos ativamente a saída de Osama de Gaza com sua mãe e irmão, através do aeroporto de Ramon. Agora ele está recebendo tratamento na Itália", afirma a publicação.

A história de Osama foi contada por diferentes veículos de imprensa. Em abril deste ano, a avó da criança contou que pediu às autoridades israelenses que permitissem que ele fosse retirado de Gaza para tratamento de fibrose cística. A reportagem da NBC News explica que a doença pode dificultar a manutenção de um peso saudável, mas que, após a guerra, a criança começou a sofrer de desnutrição aguda.

Em maio deste ano, a mãe de Osama contou à AP News que a fibrose cística piorou desde que os conflitos escalaram na região. Ela disse que a falta de proteínas e comprimidos de enzimas para ajudá-lo a digerir os alimentos fez com que o menino tivesse longos episódios de infecções pulmonares e diarreia aguda.

Em outra reportagem, a CBC News informou que, antes do bloqueio israelense, Osama conseguia se alimentar com pequenas porções de ovos, abacate, nozes e frango. A mãe da criança contou que, depois do bloqueio, os alimentos se tornaram inacessíveis.

"Ele precisa de comida, e alimentos que contenham proteína e gordura", disse a mãe de Osama. "Mas essas coisas não estão disponíveis agora e, se estiverem, são caras", completou.

De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil, a fibrose cística é uma doença genética "que causa mau funcionamento do transporte de cloro e sódio nas membranas celulares". Por este motivo, há uma produção de um muco espesso nos brônquios e nos pulmões, o que facilita infecções de repetição e problemas respiratórios. A doença também causa bloqueio dos ductos pancreáticos, o que acarreta em problemas no sistema digestivo.

Em um vídeo publicado em 11 de junho, a mãe de Osama informou que a criança estava em uma lista de pacientes autorizados a receber tratamento médico em outro país. Na gravação, ela agradece especificamente o Sameer Project, um grupo humanitário liderado por palestinos.

O Verifica transcreveu o vídeo da mãe de Osama com auxílio da Leia, inteligência artificial do Estadão. A tradução da transcrição confere com a que é mostrada no vídeo.

"Eu sou a mãe de Osama Al-Raqab. Agora, após muitos apelos que fizemos, fomos informados de que Osama será tratado no exterior amanhã, se Deus quiser. Vamos viajar e tratar o Osama. Eu agradeço o projeto Sameer por estar conosco e nos apoiar na aceleração da transferência e na nossa partida para o exterior", disse.

Em 23 de junho, o diretor do Ministério da Saúde de Gaza compartilhou uma imagem em que o menino aparenta estar saudável. Na publicação, ele escreveu que Osama está recebendo cuidados na Itália.

A mesma informação foi publicada por um perfil de voluntários no Instagram, que afirma que o menino está recebendo medicamentos, alimentos e tratamento adequado no país europeu. O Verifica tentou contato com o perfil responsável pela publicação, mas não recebeu retorno.

A informação de que a criança foi evacuada para Itália foi confirmada pelo jornal digital italiano Open. O Ministério das Relações Exteriores da Itália afirmou que Osama foi transferido para o país em 11 de junho de 2025, e que ele está internado recebendo tratamento médico.

Fome em Gaza é registrada em dados e fotos

No último domingo, 27, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, afirmou que "não há fome em Gaza". Após a repercussão de imagens de crianças desnutridas em Gaza, a fala dele foi contrariada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

"Baseado nas imagens da televisão, eu diria que essas crianças parecem muito famintas", disse o presidente norte-americano.

Mais de 100 agências humanitárias e grupos de direitos humanos têm alertado que uma "fome em massa" está se espalhando pela Faixa de Gaza. Como explicou o Estadão, Israel bloqueou as entregas de ajuda entre março e maio, após o fim do cessar-fogo com o Hamas.

Desde o bloqueio, a responsabilidade da distribuição de ajuda no território ficou a cargo da Fundação Humanitária de Gaza, um grupo privado apoiado por Israel. No entanto, conforme cálculos do jornal israelense Haaretz, a entrega atual é insuficiente para conter a crise profunda de desnutrição.

Nesta terça-feira, 29, a Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), iniciativa apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU), informou que a Faixa de Gaza enfrenta "o pior cenário possível de fome". O relatório aponta para uma "fome generalizada".

"Evidências crescentes mostram que fome generalizada, desnutrição e doenças estão impulsionando um aumento nas mortes relacionadas à fome", informou o alerta do IPC.

Conforme a iniciativa, os acontecimentos recentes "pioraram dramaticamente" o cenário, incluindo "bloqueios cada vez mais rigorosos" impostos por Israel. O número total de mortes por desnutrição desde outubro de 2023 chegou a 154, incluindo 89 crianças.

Segundo a Unicef, em julho de 2025, toda a população com menos de cinco anos na Faixa de Gaza corre o risco de desnutrição aguda. Veja abaixo.

Estadão
Compartilhar
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade