Cloro usado no abastecimento público de água não faz mal e é importante para proteger contra doenças
ESPECIALISTAS AFIRMAM QUE O USO DA SUBSTÂNCIA, DENTRO DOS LIMITES ESTABELECIDOS PELAS AUTORIDADES, NÃO É PREJUDICIAL À SAÚDE, AO CONTRÁRIO DO QUE DIZ VÍDEO
O que estão compartilhando: que o cloro usado no tratamento de água é "extremamente prejudicial para a saúde". O vídeo afirma que a substância causa risco de câncer, desequilíbrios hormonais, problemas respiratórios e afeta a microbiota intestinal.
O Estadão Verifica checou e concluiu que: é enganoso. Especialistas em saneamento afirmaram que o uso do cloro no processo de tratamento de água é uma etapa fundamental e obrigatória do abastecimento público. O uso da substância dentro dos limites estabelecidos pelo Ministério da Saúde protege contra doenças infecciosas. Não há evidências de que o cloro, nos níveis usados para tornar a água potável, seja prejudicial à saúde.
Saiba mais: O uso do cloro no abastecimento público é uma etapa importante para desinfectar a água e evitar o contato da população com infecções causadas por microrganismos, como vírus, bactérias e protozoários. Ela ajuda a impedir doenças como cólera, febre tifoide, amebíase, leptospirose, hepatite, que inclusive podem levar à morte.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que a desinfecção é de "importância inquestionável" para o fornecimento de água potável, em documento publicado em 2022. O cloro é citado como um dos agentes químicos essenciais para a destruição de patógenos - que causam problemas de saúde. As recomendações são seguidas pela comunidade internacional, como países da União Europeia.
No Brasil, a portaria nº 888/2021, do Ministério da Saúde, define o teor máximo e mínimo permitido do uso do cloro em todo o sistema de distribuição, considerando reservatórios, redes e pontos de consumo. Os valores estabelecidos seguem as normas da OMS.
Os limites do uso dessa e outras substâncias são monitorados pela Secretaria de Vigilância em Saúde, a nível federal, e pelas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. Elas são responsáveis por auditar o controle feito pelas concessionárias, que realizam o abastecimento e tratamento de água em Estados e cidades.
Importância da cloração
O professor e pesquisador em saneamento Fernando Augusto Armani, do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que "o cloro é uma substância essencial para garantir a segurança hídrica para a população". Ele afirma que não há evidências de que o consumo da água tratada, dentro dos limites estabelecidos pelas autoridades sanitárias, possa causar danos.
O especialista Marcel Costa Sanches, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), ressalta que a desinfecção garante segurança para o consumo de água. "Ao longo dos anos, isso proporcionou a redução da incidência de doenças infecciosas que representavam sérias ameaças à saúde, aumentando a longevidade da população", explicou.
"O abastecimento público com cloro não é prejudicial à saúde, quando se apresenta dentro dos padrões legalmente estabelecidos. Sendo, ao contrário, um procedimento que visa a proteção", afirmou.
Os especialistas indicaram não haver evidências científicas conclusivas de que o cloro, nos níveis utilizados para tornar a água potável, cause doenças como câncer, desequilíbrios hormonais ou problemas respiratórios.
Um mapa da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) mostra que, além do cloro, outros produtos como coagulantes, cal, cascalho, areia, carvão e flúor são usados nas etapas de tratamento de água.
A portaria do Ministério da Saúde define a regularidade com que o controle de substâncias na água deve ser feito no abastecimento, variando de horas até amostras anuais, de acordo com o produto.
Riscos dos subprodutos do cloro
O professor Armani explica que há subprodutos da etapa de cloração que podem ser prejudiciais à saúde. Isso acontece quando o cloro reage com a matéria orgânica na água, formando os chamados organoclorados.
"O que os estudos apontam refere-se a exposição prolongada de concentrações elevadas de organoclorados. Mas isso não corresponde à realidade dos sistemas públicos de abastecimento, que possuem um padrão definido, limite, monitorado e controlado", disse.
O especialista Sanches também ressalta que, em determinados níveis e se ingeridos durante um longo período de tempo, os subprodutos podem ser prejudiciais à saúde.
"No entanto, esse risco a longo prazo é inferior ao perigo de uma doença de veiculação hídrica, causada pela ingestão ou contato com água contaminada", lembrou. "O Ministério da Saúde regulamenta a frequência de análise química para controle dos subprodutos potenciais da cloração".
Uma notícia do portal Repórter Brasil, de 2022, indicou que mais de 400 municípios brasileiros estavam com índices de subprodutos da desinfecção da água acima dos limites de segurança. Os dados eram referentes aos anos de 2018 a 2020.
Uso dos filtros
Em relação ao uso do filtro doméstico, citado no vídeo analisado, os especialistas afirmam que ele é indicado para uma proteção extra, principalmente quando caixas d'água não possuem higienização periódica correta, de seis em seis meses.
"Ele é importante não para a remoção do cloro. A substância deve vir para as nossas caixas d'água exatamente para eliminar os microrganismos patogênicos", disse Armani.
Segundo o professor da UFPR, é importante que os locais de armazenamento de água sejam limpos e também os filtros trocados com a periodicidade recomendada, a fim de não serem pontos de contaminação.