Avião da FAB que transportava Lula sofreu falha técnica, não sabotagem, dizem autoridades
ESPECIALISTA EXPLICA QUE TIPO DE FALHA RELATADA PODE OCORRER POR RAZÕES TÉCNICAS; FAB E PLANALTO DESCARTAM SABOTAGEM
O que estão compartilhando: que um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que iria transportar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Pará foi alvo de sabotagem.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Especialista ouvido pelo Verifica explicou que o incidente apresentado pela aeronave - um estrondo seguido de muita fumaça - não é indício de sabotagem. De acordo com ele, esse tipo de situação é rara, mas pode acontecer por razões técnicas. O Palácio do Planalto disse que o avião apresentou um "problema técnico-operacional", ainda em solo, durante os procedimentos de acionamento dos motores. Procurada, a FAB reiterou que o incidente foi de natureza técnica e afirmou que a hipótese de sabotagem foge à realidade.
Saiba mais: Em 3 de outubro, Lula relatou problemas em um avião da FAB durante uma viagem no Pará. A falha técnica ocorreu na quinta-feira, 2, com a aeronave que o levaria à Ilha do Marajó para visitar obras ligadas à COP-30.
Um vídeo publicado no Instagram sobre o assunto especula que o avião teria sido "sabotado por traidores na FAB". Quem faz a alegação é um homem que se assemelha ao apresentador de TV norte-americano Stephen Colbert. Porém, o jeito como ele formula as frases e a falta de sincronia entre a voz e os movimentos da boca sinalizam que a imagem dele foi adulterada por ferramentas de inteligência artificial (IA).
O personagem diz coisas como: "Fontes vazam: cabos cortados, veneno infiltrado" e "Motor cospe fumaça preta, não há falha técnica. Bomba química no combustível". Publicado no dia 3 de outubro, o vídeo foi assistido cerca de 33 mil vezes.
O que aconteceu com o avião
A nota publicada pelo Palácio do Planalto sobre o incidente informa que inicialmente, o trajeto de Belém (PA) a Breves (PA), no Arquipélago do Marajó, seria feito em um avião modelo C-105 Amazonas, da FAB. Apesar de não fazer parte da frota presidencial, a aeronave foi escolhida por ser adequada às condições da pista no município de destino.
"Ainda em solo, durante os procedimentos de acionamento dos motores, foi identificado um problema técnico-operacional na aeronave", diz a nota.
O texto informa ainda que a solução para contornar o problema foi utilizar uma aeronave reserva, sempre disponível nas missões presidenciais.
O jornalista Igor Gadelha, do portal Metrópoles, revelou bastidores do susto de Lula com o avião. De acordo com a reportagem, quando a aeronave estava prestes a partir, o presidente e sua comitiva sentiram uma pressão no ouvido e ouviram um "estrondo grande". Os passageiros foram evacuados de forma rápida pela porta traseira da aeronave. Do lado de fora, assessores viram "muita fumaça".
Em uma postagem publicada na sexta-feira, 3, no X (antigo Twitter), Lula falou sobre o incidente. Disse que no dia anterior visitou a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, para, dentre outras coisas, agradecer pela proteção.
"Ao embarcar em um avião da Força Aérea Brasileira rumo à Ilha do Marajó, tivemos um problema no motor. Graças a Deus, ainda estávamos em terra e foi possível trocar de aeronave", escreveu o presidente.
Especialista descarta sabotagem
O vídeo sugere que uma pessoa poderia estar por trás da sabotagem contra Lula. Mas, segundo o engenheiro de manutenção aeronáutica Lauro Nishiura Junior uma pessoa sozinha não conseguiria sabotar um avião. Nishiura trabalha como operador de projetos da Airbus, empresa fabricante do C-105.
A postagem levanta a hipótese de que a aeronave do presidente teria passado por problemas com combustível ou fiação cortada. Mas isso não resultaria em um estrondo seguido de fumaça no motor, segundo explica o engenheiro.
Nishiura diz que as informações disponíveis até o momento sobre o problema no C-105 não permitem saber a causa do incidente. Por ser um avião militar, o relatório da investigação não ficará disponível ao público. Por isso, alerta o especialista, qualquer conclusão seria mera especulação. Para ele, possibilidades incluem falha técnica ou falta de manutenção.
Em resposta enviada ao Verifica, a FAB desmentiu as informações do vídeo e reiterou que "a ocorrência envolvendo a aeronave C-105 Amazonas constituiu-se de problema técnico, prontamente verificado pela tripulação".