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Candidato de Bolsonaro à Câmara, Lira diz que não tratará sobre impeachment durante campanha

'Não tocarei nesse assunto enquanto for candidato', disse o líder do Centrão

25 jan 2021 - 13h32
(atualizado às 23h22)
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BRASÍLIA - Mesmo com o aumento de protestos a favor do impeachment de Jair Bolsonaro pelo País, o candidato ao comando da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), evitou comentar a possibilidade de o movimento ganhar força no Congresso. O líder do Centrão conta com o apoio do Palácio do Planalto para a eleição, marcada para o dia 1º de fevereiro.

"Sempre respeitei as posições do presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) e ele esteve aí cinco anos, com 57 pedidos de impeachment na sua gestão. Se ele não abriu nenhum é porque ele não viu motivos, e essa pauta, mais uma vez eu digo, não é para discussão de teses. Então, não tocarei nesse assunto enquanto for candidato. O presidente da Câmara é Rodrigo Maia e só cabe a ele discutir esses assuntos", disse Lira nesta segunda-feira, 25, em entrevista a jornalistas.

Embora Maia seja responsável pelo andamento de pedidos de impeachment, ele somente conseguiria deliberar processos agora se o recesso legislativo fosse encerrado - uma decisão que depende de votação e aprovação da maioria absoluta da Câmara e do Senado.

"Em abstrato, nenhuma discussão nesse sentido vai ser feita, e quando eu digo que está sob a gestão do presidente da Casa, 57 pedidos e não abriu nenhum", disse. "Com a seriedade e responsabilidade que o presidente Rodrigo Maia sempre teve, com muito equilíbrio, ele tocou aquela Câmara em momento de muita dificuldade. E olha que não foram poucos os momentos, ele nunca aventou a possibilidade de acatar nenhuma das vezes. Então, não cabe a mim discutir isso", acrescentou Lira.

O deputado disse ainda que, se eleito, sua posição a respeito do impeachment não será essencial. "O presidente da Câmara pauta as matérias que tiverem maioria, que tiverem acordo. A posição do presidente da Câmara é irrelevante. O artigo 17 proíbe inclusive o voto. O presidente da Câmara não vota. Minha vontade não terá importância, se eu sou a favor ou se eu sou contra."

Para Lira, o momento é de discussão de assuntos relacionados à pandemia. Ele evitou, no entanto, avaliar o gerenciamento da crise de saúde pelo governo Bolsonaro. Segundo ele, não há um "manual" para lidar com o novo coronavírus.

"Estamos na luta para conseguir qualquer vacina que tenha certificação da Anvisa", disse ele. "Precisamos de harmonia para lutar pela vacinação de todos", afirmou.

Lira defendeu uma gestão da Câmara independente do Executivo, mas com harmonia. "Não vamos buscar o acotovelamento." Questionando se já chegou a dizer "não" a Bolsonaro, ele afirmou que o fará quando necessário. Segundo ele, até agora, isso não foi necessário, pois tudo foi sempre resolvido na base da conversa.

Salvador

No último dia de viagem para fazer campanha pelo comando da Casa, Lira desembarcou em Salvador, onde se reuniu com deputados federais em um almoço. Em seguida, teria encontros com o governador da Bahia, Rui Costa (PT), o prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), e o presidente nacional do DEM, ACM Neto. Aos jornalistas, Lira disse que terá o apoio da "maioria esmagadora" da bancada baiana.

Sem citar Bolsonaro, que tem sido criticado na condução da pandemia da covid-19, Lira questionou ainda "quem é que tem o cardápio ideal de como tratar a pandemia?". "Onde está escrito (como enfrentar a pandemia)? Como é que está Portugal hoje, a França, a Itália, os Estados Unidos? O Japão sequer começou a vacinar. Então, tem mudanças e mudanças. Hoje, já tem uma discussão grande de que faltam insumos na Europa, os países já começam a brigar lá. A gente tem que ter calma. É um momento de pandemia, de sensibilidade, temos que trabalhar todos juntos para que o máximo de brasileiros seja vacinado", declarou.

No encontro com os parlamentares, os deputados federais Elmar Nascimento e Arthur Maia garantiram que a bancada do DEM na Bahia vai votar em Arthur Lira, adversário de Rodrigo Maia. Arthur Maia compartilhou uma foto no Instagram do apoio dos democratas baianos ao deputado do PP.

"Todos os cinco parlamentares do Democratas estão presentes, discursando e expressando apoio. Eu e Arthur já havíamos feito isso. Paulo (Azi) e Leur (Lomanto Júnior) fizeram, e (Igor) Kannário fez agora. Aqui não tem dissidência nenhuma. Em nível nacional, eu acho que a maioria esmagadora do partido vai marchar com a candidatura de Arthur Lira", disse Elmar.

Depois do almoço, Lira se reuniu com o ex-prefeito soteropolitano ACM Neto, que tem evitado intervir na eleição da Câmara para não prejudicar a candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM) no Senado e não quis falar com a imprensa.

Vitória

Lira também esteve no Espírito Santo e se reuniu com representantes da bancada capixaba no Legislativo. Na Federação das Indústrias do Estado (Findes), o deputado conversou com metade da bancada capixaba. Estavam presentes os deputados federais Felipe Rigoni (PSB), Soraya Manato (PSL), Da Vitória (Cidadania), Lauriete (PSC), Neucimar Fraga (PSD) e Evair de Melo (PP), vice-líder do governo, que articulou a visita do companheiro de partido. Os últimos quatro já declararam, abertamente, apoio a Lira. Quem também o apoia, mas não esteve presente, é o deputado Amaro Neto (Republicanos).

A bancada está dividida. Cinco votos para Lira e cinco para o opositor, Baleia Rossi (MDB-SP). O PSB tem dois deputados, Felipe Rigoni e Ted Conti, que não esteve no encontro. Em tese, o partido fechou com Rossi, mas está rachado. Como a eleição é secreta, pode haver "traições".

A representante do DEM, Norma Ayub, não esteve na reunião e também não declarou o voto, mesmo com o partido declarando apoio em Rossi. O Cidadania, de Da Vitória, também encampa a candidatura de Baleia. Mas o parlamentar capixaba não manifestou em quem irá votar. O deputado Hélder Salomão (PT) irá seguir a orientação do partido e votará no emedebista.

Diante destes impasses, e com muita negociação nos bastidores, o candidato acredita contar com o apoio da maioria dos deputados capixabas. "Esperamos contar com sete votos, o que representa dois terços da bancada", afirmou. A confiança de Lira não está apenas no Espírito Santo. "Temos uma radiografia exata de maioria absoluta nos estados", disse. /COLABORARAM RODRIGO DANIEL SILVA e MATHEUS BRUM, ESPECIAL PARA O 'ESTADÃO'

Estadão
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