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Protestos se espalham pelo Brasil com cenas de insatisfação e revolta

18 jun 2013 - 01h04
(atualizado às 08h28)
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A onda de manifestações que se espalhou por pelo menos 11 Estados brasileiros nesta segunda-feira levou à invasão da cobertura do Congresso Nacional, em Brasília, e da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro em uma série de protestos considerada a maior desde o impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992.

Seguranças e policiais militares não conseguiram evitar que participantes de uma marcha com 5 mil manifestantes chegassem ao Congresso Nacional e ocupassem a marquise do prédio, onde ficam as cúpulas da Câmara e do Senado.

Os manifestantes deixaram o local pacificamente e de forma espontânea em uma das cenas mais marcantes do dia de protestos. Porém, o desfecho em outras capitais teve momentos de confronto e tensão.

No Rio, um grupo de cem manifestantes invadiu o edifício da Assembleia Legislativa e entrou em choque com a Polícia Militar. Ao menos 20 policiais foram feridos e duas pessoas teriam sido baleadas. A manifestação na cidade reuniu 100 mil pessoas, segundo a PM.

Segundo o correspondente da BBC Brasil Caio Quero, houve corre-corre na cidade e ao menos dois focos de incêndio, um deles em um carro. Um pequeno grupo colocou fogo no veículo, mas a ação foi reprovada por outros manifestantes. Diversos disparos foram registrados na região, e a tropa de choque da Polícia Militar foi enviada ao local e conseguiu dispersar os manifestantes.

Violência também foi registrada na capital mineira, depois que a polícia lançou bombas de gás para dispersar os manifestantes que se agrupavam na Avenida Antônio Carlos, perto da Universidade Federal de Minas Gerais, segundo a Agência Brasil. A polícia afirmou que entrou em ação quando manifestantes tentaram invadir o estádio do Mineirão, onde Nigéria e Tahiti jogavam pela Copa das Confederações.

Em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, manifestantes incendiaram ônibus e contêineres, além de promoverem atos de vandalismo no centro da cidade. Eles foram dispersados pela polícia com bombas de gás.

No Paraná, segundo a RPC TV, manifestantes tentaram invadir a sede do governo, em Curitiba, mas foram impedidos pela Polícia Militar.

Segundo a ministra da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Helena Chagas, a presidente Dilma Rousseff afirmou que "manifestações pacíficas são próprias da democracia e que é próprio dos jovens se manifestar". De acordo com a ministra, Dilma acompanhou o desenrolar das manifestações e se reuniu com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para tratar do assunto.

Mais cedo, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que o governo está preocupado com os protestos e quer garantir diálogo com os movimentos para entender "anseios importantes" que têm levado as pessoas a se manifestar.

Palavras de ordem

Em São Paulo, a marcha de protesto começou com a concentração de 30 mil manifestantes por volta das 17h no Largo da Batata, na zona oeste. O protesto transcorreu de forma pacífica nas primeiras horas, mas terminou em confronto entre a polícia e um grupo de manifestantes que tentou invadir o Palácio do Governo.

"Oh! O povo acordou!" Essa era a palavra de ordem que embalou dezenas de milhares de jovens manifestantes que tomaram algumas das principais avenidas da cidade.

A ação violenta da polícia contra manifestantes e jornalistas na semana anterior transformou um protesto inicialmente motivado pelo aumento das tarifas dos ônibus, metrô e trens (e organizado por ativistas e partidos políticos) em um movimento maior - que arrebatou participantes de diversas origens, descontentes com a situação da educação, da segurança, da saúde, além de críticos das diversas esferas de governo.

"Não sou ligado a nenhum movimento, mas achei que deveria vir aqui hoje. Estou protestando contra tudo, especialmente contra o governo e contra essa violência sem sentido da polícia", disse o estudante de administração de empresas Pedro Henrique Nejm, de 21 anos, que dizia não ser ativista nem militante político.

Durante o protesto, grupos formados por participantes como ele se revoltaram contra militantes de agremiações políticas que ostentavam bandeiras e tentavam liderar a manifestação. Gritando "sem partido!", os manifestantes tentavam pressionar os colegas e dar um caráter suprapartidário, de pessoas comuns, ao movimento. A maioria dos manifestantes era formada por estudantes e jovens.

Cartazes e tumulto

Muitos saíam do trabalho e procuravam a concentração da manifestação. Um deles foi Wallace da Silva, de 27 anos, que terminou o expediente em uma fábrica de alto-falantes na cidade vizinha de Cotia e se dirigiu para a concentração do movimento.

"Temos que lutar pelos nossos direitos. Estamos cansados dessa situação. Só o fato de estar aqui já ajuda a mudar alguma coisa", disse ele.

Os manifestantes também direcionaram seus protestos contra os gastos governamentais com a Copa do Mundo de 2014. Muitos cartazes, em inglês, pediam para que os estrangeiros não viessem ao Brasil para o evento.

O protesto chegou a reunir mais de 60 mil participantes, segundo o instituto Datafolha. O grupo inicial se dividiu para ocupar as principais avenidas da cidade, entre elas a Paulista, Avenida 23 de Maio, Luiz Carlos Berrini, Brigadeiro Faria Lima e Marginal Pinheiros.

Um grupo de 3 mil manifestantes se dirigiu ao Palácio dos Bandeirantes e tentou invadir o complexo. Após derrubarem o portão, eles foram dispersados pela Polícia Militar, que usou bombas de gás lacrimogênio.

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