Taxa de 24% de jovens que não estudam e não trabalham ainda preocupa no Brasil, diz OCDE
Um dado preocupante ainda persiste no cenário educacional e social brasileiro: 24% dos jovens entre 18 e 24 anos não estudam e não trabalham, segundo o mais recente relatório Education at a Glance
Um dado preocupante ainda persiste no cenário educacional e social brasileiro: 24% dos jovens entre 18 e 24 anos não estudam e não trabalham, segundo o mais recente relatório Education at a Glance, divulgado em setembro de 2024 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A taxa representa uma queda significativa em relação aos 29,4% registrados em 2016, mas ainda coloca o Brasil em um nível preocupante quando comparado a outros países membros da OCDE. De acordo com o relatório, a redução foi impulsionada por um mercado de trabalho mais forte e por uma participação crescente dos jovens na educação. No entanto, quase um quarto dos jovens que não estudam e não trabalham ainda representa um desafio estrutural.
Esses jovens, chamados de "nem-nem", enfrentam um futuro de oportunidades limitadas, especialmente aqueles que não completaram o ensino médio. O relatório mostra que apenas 64% dos brasileiros entre 25 e 34 anos sem ensino médio estão empregados, enquanto a taxa de empregabilidade sobe para 75% entre os que concluíram essa etapa da educação. A diferença também se reflete nos salários: quem tem menor escolaridade, ganha menos.
A desigualdade de gênero também se destaca. Apesar de as mulheres apresentarem desempenho educacional superior, elas enfrentam mais barreiras no mercado de trabalho. Entre os jovens que não estudam e não trabalham, a proporção de mulheres é maior. No Brasil, apenas 44% das mulheres com escolaridade inferior ao ensino médio estão empregadas, contra 80% dos homens na mesma situação.
Embora o Brasil tenha avançado nos últimos anos, os dados reforçam que ainda há um caminho longo a ser percorrido para garantir que os jovens que não estudam e não trabalham possam ter acesso à educação de qualidade, formação técnica e oportunidades reais de inserção no mercado de trabalho.
A permanência dessa realidade afeta não apenas os jovens individualmente, mas também a produtividade e o desenvolvimento econômico do país. O estudo da OCDE mostra que, sem políticas públicas eficazes, os jovens que não estudam e não trabalham continuarão sendo um dos maiores gargalos para o progresso do Brasil.
Jovens brasileiros se afastam da casa própria e do carro
A tão sonhada conquista da casa própria e do carro na garagem — símbolos tradicionais de estabilidade e progresso social — parece cada vez mais inatingível para boa parte da juventude atual. Jovens brasileiros e a estagnação econômica se tornaram duas faces da mesma moeda: um cenário em que o esforço já não garante ascensão, e onde metas básicas são constantemente adiadas.
Dados recentes do IBGE e do Dieese revelam um retrato preocupante: mais de 70% dos jovens entre 20 e 34 anos vivem de forma dependente ou em habitações temporárias, como quitinetes alugadas, imóveis compartilhados ou ainda na casa dos pais. Enquanto isso, o mercado imobiliário valorizou bem acima da inflação, e os automóveis acumularam alta de mais de 40% nos últimos cinco anos — um ritmo que a renda média dos jovens simplesmente não acompanha.
Os fatores que explicam essa estagnação são múltiplos: salários de entrada baixos, informalidade crescente, dívidas estudantis, inflação persistente, juros elevados e um custo de vida que só aumenta. Em muitos casos, o aluguel consome mais da metade do rendimento mensal, inviabilizando qualquer tipo de planejamento a longo prazo. O resultado é uma geração que, diferentemente dos pais e avós, não vê no trabalho e na poupança uma rota segura para a estabilidade econômica.
O crédito, que já foi a ponte para o consumo e o financiamento de bens duráveis, agora representa mais um obstáculo. Os juros cobrados para quem busca financiar um imóvel ou automóvel estão entre os mais altos do mundo, especialmente para quem ainda não tem histórico financeiro robusto. "A geração que cresceu ouvindo que 'quem guarda, tem', agora vive com a máxima de que 'quem sobrevive, já venceu'", resume a economista Carolina Neves, especialista em juventude e mercado de trabalho.
O impacto dessa realidade vai além das finanças pessoais. Há reflexos diretos na saúde mental, nos projetos de vida e na forma como os jovens enxergam o futuro. Muitos já nem incluem casa própria ou carro em seus objetivos de médio prazo. A prioridade, em vez disso, é conseguir pagar boletos em dia, manter algum nível de qualidade de vida e escapar do endividamento crônico. Esse novo pragmatismo reflete o peso de um Brasil onde o futuro, para muitos, parece ter deixado de prometer mobilidade social.
Diante desse cenário, especialistas e economistas alertam para a necessidade de políticas públicas específicas para a juventude, que envolvam habitação acessível, crédito orientado e programas de inserção profissional. Sem isso, a tendência é que a distância entre jovens brasileiros e a estagnação econômica continue a crescer, cristalizando desigualdades e frustrando expectativas de uma geração inteira.