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Política

Moro defende que Polícia Federal assuma caso Marielle

Família da vereadora assassinada questiona interesse de Moro e rechaça federalização

21 nov 2019 - 18h05
(atualizado às 18h31)
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O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, disse nesta quinta-feira (21/11) que a citação do nome do presidente Jair Bolsonaro nas investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes "é um total disparate".

Moro defendeu ainda a federalização da investigação do caso, que está sob análise do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e usou como um dos argumentos o depoimento do porteiro que havia citado o nome do presidente, mas recuou da versão.

Se o caso for federalizado, a investigação do duplo homicídio passaria a ser conduzida pela Polícia Federal, que responde ao ministério comandado por Moro, e não mais pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. Dois suspeitos foram presos no caso, mas mais de 600 dias após o crime a polícia ainda não tem conclusões definitivas sobre quem teria sido o mandante.

Moro defende ainda a federalização das investigações sobre a morte de Marielle e seu motorista
Moro defende ainda a federalização das investigações sobre a morte de Marielle e seu motorista
Foto: DW / Deutsche Welle

"Esse é um caso que tem que ser investigado com neutralidade, dedicação e sem politização. Essa questão do envolvimento do nome do presidente nisso aí, para mim, é um total disparate. Uma coisa que não faz o menor sentido", frisou Moro, em entrevista à rádio CBN. "O que se constatou foi um possível envolvimento fraudulento do nome do presidente".

Ele declarou, ainda, que "vendo esse novo episódio, em que se busca politizar a investigação indevidamente, a minha avaliação é que o melhor caminho para que possamos ter uma investigação exitosa é a federalização".

O presidente Jair Bolsonaro também deu declarações sobre o caso na manhã desta quinta-feira. Ele disse que a esquerda parece querer usar o crime "em causa própria". "Parece que, para a esquerda, não interessa resolver o caso Marielle. Interessa continuar usando a morte dela em causa própria", frisou.

A ex-procuradora-geral da República, Raquel Dodge, havia solicitado a federalização do caso pouco antes de deixar o cargo, em setembro. Segundo ela, a manutenção do inquérito com a Polícia Civil do Rio de Janeiro pode gerar novos "desvios e simulações".

Em mensagem no Twitter, Mônica Benício, viúva da vereadora assassinada, afirmou que é contra a federalização das investigações sobre a morte de Marielle, "tendo em vista que o MPRJ e a DH do Rio identificaram e prenderam dois acusados de terem atirado e trabalham com linhas claras para identificar os mandantes".

Em outra postagem, ela escreveu que "sou contra a federalização porque uma das linhas de investigação envolve um filho de Jair Bolsonaro, o que evidentemente deixaria a PF sob suspeição", citando uma das linhas de investigação da Polícia Civil do Rio, que questionou funcionários do gabinete do vereador Carlos Bolsonaro sobre uma briga que ele teria tido com um assessor de Marielle antes do crime.

Já Anielle Franco, irmã da vereadora assassinada, questionou, em mensagem publicada no Twitter, o interesse de Moro no caso.

"Sérgio Moro nunca se interessou pelo caso da minha irmã. Mas agora, milagrosamente, fortemente, fielmente, ele apoia a federalização! Eu conto ou vocês contam que não somos bobos e não queremos que ele se meta? Estamos de olho Moro!", escreveu.

Entenda o caso

A associação de Bolsonaro com o caso se tornou pública após uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, noticiar que registros do condomínio Vivendas da Barra, e também o depoimento de um dos porteiros à Polícia Civil, apontaram de que um dos suspeitos do assassinato da vereadora e de seu motorista, o ex-PM Élcio Queiroz, esteve horas antes do crime na casa do ex-sargento Ronnie Lessa, suspeito de ser o executor da ação, que mora no local.

Segundo a reportagem, em depoimento, o porteiro informou que Élcio Queiroz anunciou no dia 14 de março de 2018 que iria não à casa de Lessa, mas à de número 58 do Vivendas da Barra, que é a residência de Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro. Ainda segundo a reportagem, em seu depoimento, o porteiro afirmou ter interfonado para a casa do então deputado federal e que "seu Jair" havia autorizado a entrada do visitante.

O nome do presidente Jair Bolsonaro foi mencionado em dois depoimentos dados pelo porteiro à Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro em outubro.

Já em depoimento nesta terça-feira no inquérito aberto pela Polícia Federal para apurar seu próprio testemunho no caso Marielle, o mesmo funcionário recuou da versão e disse ter lançado errado o registro de entrada do ex-policial militar Élcio Queiroz na casa 58, de propriedade do presidente, na planilha de controle do condomínio horas antes do assassinato de Marielle, em 14 de março de 2018.

A investigação sobre o conteúdo do depoimento do porteiro havia sido pedida pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, para apurar "tentativa de envolvimento indevido" do nome de Bolsonaro nas investigações sobre a morte da vereadora.

No final de outubro, o Ministério Público do Rio havia afirmado que uma perícia desmentiu o porteiro e apontou a ida de Élcio para a casa 66, do policial reformado Ronnie Lessa, outro acusado do crime e que morava no mesmo condomínio.

Ele frisou que se sentiu "pressionado" e deu a primeira versão para o episódio, na qual a entrada do suspeito de matar a vereadora foi autorizada pelo "seu Jair" pelo interfone do condomínio. Apesar de afirmar que se sentiu "pressionado", Alberto Mateus disse que ninguém o pressionou a prestar a versão em que menciona o presidente.

Registros da Câmara dos Deputados mostram que o então deputado federal Jair Bolsonaro, estava em Brasília no dia do crime.

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