'É virtude deles ou incompetência nossa?', questiona Lula sobre crescimento da extrema direita
Presidente discursou na reunião intitulada "Em Defesa da Democracia, Combatendo Extremismos", na sede da ONU
Lula, em discurso na ONU, refletiu sobre o crescimento da extrema-direita, questionando erros das forças democráticas e defendendo autocrítica, trabalho de base e conexão contínua com a sociedade para fortalecer a democracia.
Em um discurso nesta quarta-feira, 24, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) questionou quais os erros cometidos pelas forças democráticas que permitiram o crescimento da extrema-direita no mundo. Durante a reunião intitulada "Em Defesa da Democracia, Combatendo Extremismos", na sede da ONU, Lula questionou: "Por que permitimos que a extrema direita crescesse com essa força? É virtude deles ou é incompetência nossa?"
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O encontro é um desdobramento de uma iniciativa de países sul-americanos e da Espanha, cujos líderes se reuniram em 21 de julho em Santiago, no Chile. Na abertura do evento em Nova York, Lula dispensou o discurso escrito e falou de improviso, compartilhando experiências pessoais e abordando a desconexão entre as lideranças políticas e a base da sociedade.
Lula iniciou sua fala refletindo sobre sua própria trajetória, lembrando que, assim como muitos, já teve aversão à política. "Eu tinha muito orgulho de dizer que eu não gostava de política e não gostava de quem gostava de política. Eu achava que isso era o máximo. Eu não sabia que era pura ignorância minha", confessou.
O presidente narrou sua entrada na vida pública a partir do sindicato dos metalúrgicos e quando visitou o Congresso Nacional na década de 1970 para protestar contra um projeto de lei. "Eu descobri que não tinha trabalhadores no Congresso Nacional. E aí eu voltei para casa pensando: Como é que eu, um operário, quero que votem leis favoráveis à classe trabalhadora?". Essa percepção, segundo ele, foi a motivação para a criação de um partido político.
Lula defendeu que a defesa da democracia não pode ser esporádica, mas sim uma atividade cotidiana. Ele dirigiu uma pergunta não apenas à plateia, mas a si mesmo e a seus aliados: "O que nós fazemos hoje? Vamos botar a mão na consciência de todos nós que estamos aqui. O que que nós fizemos ontem pela democracia? Com quantas pessoas nós falamos de democracia? A verdade é que nós não falamos. E se nós não falamos, nós não organizamos. E se nós não organizamos, a democracia perdeu."
O presidente criticou a tendência de governos de esquerda, uma vez eleitos, de se distanciarem de sua base eleitoral. "Muitas vezes a gente ganha as eleições com o discurso de esquerda e quando a gente começa a governar, a gente atende muito mais os interesses dos nossos inimigos do que dos nossos amigos", analisou. "Muitas vezes, os nossos eleitores que foram para rua, que apanharam, são considerados por nós secretários de radicais. E a gente começa a não dar atenção a eles e dar atenção aqueles que falam bem da gente. Esse é o fracasso da democracia."
Para Lula, a chave para reverter o avanço do extremismo está na capacidade de autocrítica e na retomada do trabalho de base. "Antes da gente procurar a virtude do extremismo de direita, nós temos que procurar os erros que a democracia cometeu na relação com a sociedade civil", afirmou. O presidente encerrou sua participação dizendo: "Se a gente encontrar a resposta, a gente volta a vencer. Se a gente não encontrar resposta, a gente vai continuar sendo sufocado pelo negacionismo, pelo extremismo e pelo discurso fascista."