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Política

O que esperar da reunião entre Lula e Trump? Especialistas avaliam

Durante a Assembleia Geral da ONU, Trump diz ter ‘gostado’ de Lula nos segundos que se cruzaram e que marcaram de conversar; entenda

24 set 2025 - 07h19
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Resumo
Lula e Trump planejam reunião após encontro breve na ONU, com foco em questões econômicas e tensões bilaterais; especialistas avaliam desafios e expectativas.
Os presidentes Lula e Donald Trump durante seus discursos no Debate Geral da Assembleia Geral das Nações Unidas na sede da ONU em Nova York, em 23 de setembro de 2025
Os presidentes Lula e Donald Trump durante seus discursos no Debate Geral da Assembleia Geral das Nações Unidas na sede da ONU em Nova York, em 23 de setembro de 2025
Foto: ANGELA WEISS/Getty Images

O primeiro encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump desde o agravamento das tensões entre o Brasil e os Estados Unidos durou 39 segundos, segundo o americano. Eles se cruzaram nos bastidores da 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira, 23, se abraçaram, e combinaram de marcar uma reunião. Ao menos foi assim que Trump contou ter acontecido durante seu discurso. E agora, em meio ao tarifaço, sanções a autoridades brasileiras e condenação de Jair Bolsonaro, o que esperar dessa reunião prevista para a próxima semana? Ao Terra, especialistas avaliam a situação.

‘Tivemos ótima química’: o que significou o anúncio de Trump

A questão começa com a forma como Trump anunciou o encontro com Lula durante seu discurso na ONU. “Ele me parece ser um cara muito legal. Ele gostou de mim, eu gostei dele. Eu só faço negócio com gente que eu gosto. Quando eu não gosto, não gosto. Mas, por 39 segundos, nós tivemos uma ótima química e isso é um bom sinal”, disse o republicano no palanque. 

Para o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tem se posicionado como um aliado de Trump, foi uma estratégia de negociação. “Ele fez exatamente o que sempre praticou: elevou a tensão, aplicou pressão e, em seguida, reposicionou-se com ainda mais força à mesa de negociações”, escreveu nas redes sociais. A declaração acontece um dia após ele ter sido denunciado pela PGR por coação no curso do processo do caso da trama golpista (em que seu pai, Jair Bolsonaro, foi condenado pelo STF) ao buscar interferência norte-americana com a aplicação de sanções a autoridades brasileiras.

O cientista político e professor do Insper Leandro Consentino avalia que Eduardo Bolsonaro não erra, nesse aspecto, ao apontar ter sido uma questão de estratégia. “É o Trump agindo como negociador, como ele sempre age, tentando extrair o que de melhor ele pode conseguir, inclusive dessa disputa política instalada no Brasil”, afirmou.

Por mais que os elogios a Lula possam ter surpreendido, considerando a forma como reverberaram, não significam necessariamente uma mudança de postura. Isso porque, assim como Lula evita citar Trump diretamente, o republicano também não tem atacado o presidente brasileiro nominalmente durante estes últimos meses de tensionamento. Mas não deixa de atacar o Brasil por outras frentes.

É como cita Lia Valls, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), que vê a situação como um exemplo da imprevisibilidade de Trump. Ela relembra que para além da declaração de que “houve química”, Trump fez duras críticas ao Brasil em seu discurso. Como quando disse que o Brasil estaria "indo mal" e só se dará bem quando "estiver trabalhando com os EUA": "Sem nossa ajuda, vão fracassar, como outros fracassaram".

Trump diz que abraçou Lula e fala em 'boa química' ao anunciar encontro na próxima semana:

Pegadinha? O que esperar da reunião

O histórico de Trump em encontro com autoridades acende um alerta. Por isso, para o cientista político Leandro Consentino, não é descartada a possibilidade de que a reunião com Lula possa fugir do tom diplomático e se tornar uma “pegadinha” – considerando que Trump já constrangeu os presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e da da África do Sul, Cyril Ramaphosa, por exemplo. 

“Isso é algo que vinha sendo cogitado pela própria chancelaria brasileira, para que Lula não procurasse Trump e não se tornasse vítima de algo parecido. Mas, ao mesmo tempo, a própria chancelaria também entendeu e percebeu que é inescapável. Lula não tem como fugir desse compromisso”, acredita. Espera-se que a diplomacia brasileira se articule para que situações de exposição não aconteçam, nem que Lula seja pego de surpresa. 

Esse cenário deve fazer com que o encontro dos dois aconteça de forma virtual ou por ligação telefônica, aposta Roberto Uebel, professor de Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração da ESPM. E mesmo que não aconteça presencialmente, ele avalia que será um canal de diálogo levado a sério pelas duas partes. 

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, chegou a indicar esse caminho após a sessão da ONU. "O presidente Lula sempre esteve disposto a conversar com qualquer chefe de Estado que tem interesse em discutir questões com o Brasil. Mas nesse caso isso terá de ocorrer por videoconferência ou por telefone, porque o presidente volta para o Brasil amanhã e tem uma agenda muita cheia. Mas Lula está aberto a conversar e estou muito feliz que isso aconteceu", explicou, em entrevista à CNN Internacional.

Lula x Trump: veja as diferenças entre os discursos dos líderes na Assembleia Geral da ONU:

Taxação? Big techs? Condenação de Jair Bolsonaro? O que deve ser pautado na reunião

Há alguns tópicos que podem entrar em jogo: como a taxação de 50% nas importações brasileiras, regulamentação das big techs e a “caça às bruxas”, como diz Trump, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Desses assuntos, onde há mais espaço para negociação – e que está na alçada de Lula  – é no tópico econômico. Além disso, é nessa pauta que Trump tem negociado com demais países que também foram afetados pelo tarifaço norte-americano.

Mesmo que no âmbito econômico, para o cientista político Leandro Consentino, o que pode-se esperar é uma 'barganha posicional': “Cada um vai estar de alguma forma buscando se aferrar aos seus próprios princípios”, diz, considerando que os dois têm pouco espaço para ceder e são negociadores experientes.

Para Lia, por exemplo, é pouco provável que entre em discussão a revogação do visto de autoridades e aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes e sua esposa por Trump agir pautado no medo. 

Já Rodrigo Amaral, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), evidencia que a situação acontece com o Brasil posto como um ator bem visto no sistema internacional enquanto, no momento, os Estados Unidos que está isolado. E que, por isso, há uma possibilidade "muito viável, muito possível" de que a relação volte à normalidade -- principalmente considerando os 200 anos de uma história muito próxima entre os dois países e que essa é a primeira vez que há, de fato, um movimento mais agressivo dos Estados Unidos contra o Brasil.

O especialista explica que os Estados Unidos vive uma crise hegemônica há alguns anos – que vai além da gestão Trump. É uma crise da ordem liberal internacional, como chamado nas Relações Internacionais. E, nesse sentido, “uma postura um pouco mais benevolente para os atores que historicamente são próximos dos Estados Unidos, como o Brasil, pode ser uma mudança importante e necessária para os EUA, inclusive, tentar manter sua liderança global em um cenário que, evidentemente, eles estão em baixa”.

O Brasil, como aponta Amaral, sempre esteve próximo dos Estados Unidos historicamente. “É um ator fundamental inclusive na intermediação histórica dos EUA com outros mais ‘anti-americanos’ ou não adeptos do seu sistema de poder. Na América do Sul, por exemplo, o Brasil sempre executou o papel de braço direito dos EUA ajudando a superar vários impasses. Não ter o Brasil é custoso para os EUA em um contexto de crise e possível tensionamento da sua ordem hegemônica”.

Sendo assim, apenas o fato de haver a possibilidade da reunião, já é uma indicação de vontade de diálogo dos EUA. Sobre o teor da conversa, Amaral também aposta que será a questão econômica. “É a principal, ela puxa as demais. Se houver um bom ambiente diplomático entre EUA e Brasil a tendência é que nas outras melhore também”.

Em recado a Trump, Lula critica ‘atentados a soberania’ e fala em ‘agressão ao Judiciário’:
Fonte: Portal Terra
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