Deputados do PL destinam mais de R$ 860 mil para filme de ex-assessor de Mário Frias
Críticos de incentivo à cultura destinaram emendas parlamentares para produção audiovisual
Deputados do PL destinaram mais de R$ 860 mil a um documentário produzido pela associação Passos da Liberdade, presidida por Rodrigo Cassol Lima, ex-assessor de Mário Frias. As verbas foram originadas do Ministério da Cultura.
Os deputados Eduardo Bolsonaro, Mário Frias e Marcos Pollon, todos do PL, destinaram mais de R$ 860 mil de verbas públicas para a produção de um documentário produzido pela associação Passos da Liberdade, presidida por Rodrigo Cassol Lima, ex-número 2 da Secretaria Especial de Cultura, subordinada a Frias durante o governo Bolsonaro.
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O caso foi relatado pelo UOL, e as informações confirmadas pelo Terra. A Passos, uma empresa aberta em 2008 e com sede em Porto Alegre (RS), recebeu por meio de emendas parlamentares as quantias de R$ 500 mil do filho do ex-presidente, enquanto o ex-ator repassou R$ 180 mil. Já Pollon destinou a quantia de R$ 180.896,27.
Conforme o Portal da Transparência, as verbas saídas do Ministério da Cultura foram pagas 7 e 11 de fevereiro deste ano e direcionadas para o documentário Genocidas, um média-metragem com 60 minutos de duração.
A associação possui site, uma página no Facebook sem nenhuma publicação e um canal no Youtube, onde há um único vídeo com pouco mais de 47 minutos. Trata-se de um documentário com relatos da Operação Acolhida, uma ação humanitária do governo federal para a migração de venezuelanos no País, e não possui nem 100 visualizações.
De acordo com o ICL Notícias, a sinopse do filme sugere a comparação entre genocídios históricos ocorridos na Europa e eventos contemporâneos na América Latina. O orçamento incluiria despesas com passagens e hospedagens para países como Armênia, Hungria, Itália, Rússia, Alemanha e Polônia.
A Passos da Liberdade, conforme seu site, apresenta-se como uma associação que tem como objetivo “desafios sociais em oportunidades de desenvolvimento humano”, fundada por “líderes visionários, sua trajetória está profundamente ligada às experiências e conquistas de seus dirigentes”, e que possui “conexões globais, com projetos que transcendem fronteiras”, incluindo produções audiovisuais realizadas em parceria com empresas e organizações internacionais.
A reportagem entrou em contato com o número disponibilizado pela associação em seu site, por meio de mensagens e ligações, mas não obteve retorno até o momento. O espaço permanece aberto.
O Terra também pediu um posicionamento de Eduardo Bolsonaro, Mário Frias e Marcos Pollon via e-mail de seus gabinetes e também não obteve resposta.
Críticas à Lei Rouanet
A ala bolsonarista é uma grande crítica aos incentivos à cultura, como por exemplo, a Lei Rouanet e a Lei Paulo Gustavo. Inclusive, na época que o Senado aprovou esta última, Eduardo Bolsonaro se mostrou contra.
"Não queremos mais uma CPI da Rouanet, mas agora com o nome do artista. Trabalhemos pelo veto na Câmara e sua manutenção", escreveu ele em suas redes sociais. Ele também recusou o avanço do apoio ao setor cultural em votação na Câmara dos Deputados, junto a então parlamentares governistas como Carla Zambelli (União) e Daniel Silveira (União).
Já Mário Frias afirmou que a decisão do Senado era um "absurdo" e "inconstitucional". "A Câmara dos Deputados tinha conseguido apresentar uma proposta razoável, mas foi completamente descartada", publicou.
Nos últimos dias, o filho do ex-presidente e o ex-ator também criticaram o filme Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional. Eduardo chamou o diretor Walter Salles de “psicopata” e disse que a produção falava de uma “ditadura inexistente”, enquanto Frias afirmou que o longa era uma “propaganda comunista”.