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Política

De 1.078.666 a 1.673 votos: Joice Hasselmann se diz aposentada da política: 'Eleitor se radicalizou'

Depois de ser a mulher mais votada para a Câmara Federal em 2018, jornalista perdeu o mandato nas urnas, fracassou na tentativa de ser vereadora e agora diz ter 'se libertado'; veja entrevista

13 out 2024 - 09h10
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Livre. É assim que a ex-deputada Joice Hasselmann define seu estado de espírito, apesar da derrota na eleição para a Câmara Municipal de São Paulo. Ela diz que a sensação é como se houvesse reconquistado o poder de escolher seu próprio caminho e conta que ficou tão feliz com as perspectivas que se abrem à sua frente que comemorou bebendo algumas garrafas de champanhe.

Em 2018, sua primeira incursão na política, foi a segunda deputada federal mais votada do Brasil, com 1.078.666 votos. A primeira entre as mulheres. Agora, a fragorosa derrota nesta eleição para a Câmara Municipal veio com apenas apenas 1.673 votos. A jornalista garante que, apesar de sua vontade de contribuir por que "faltam na política pessoas decentes e honestas", ficou aliviada. "Nunca estive na política, como a maioria dos outros, para me locupletar ou para fazer esquema, ou para ganhar poder".

Segundo ela, a vida política lhe custou saúde, projetos pessoais e perda de renda". Joice foi líder no Congresso e uma das principais colaboradoras do então presidente Jair Bolsonaro no antigo PSL. Brigas, principalmente com o vereador Carlos Bolsonaro (PL), o filho 02, lhe custaram o cargo e a amizade com o clã.

Veja os principais trechos da conversa:

Diferentemente de outros candidatos que expressaram pesar com a derrota nas urnas, a senhora não lamentou ter perdido a eleição para a Câmara dos Vereadores. Por quê?

Como deputada, deixei muito a minha família de lado para abraçar vários projetos. Viajei o Brasil inteiro, palestrei em tudo que é canto do País, sempre representando o governo. Antes de entrar na política, eu tinha uma carreira bem-sucedida, ganhando muito bem, obrigada. Mas tive que deixar de fazer os meus business. Para você ter uma ideia, eu cobrava R$ 40 mil e fazia, na média, 10 por mês. Isso além da minha renda como jornalista em veículo de comunicação. Ao me tornar líder do governo, tive que abandonar tudo isso. E acabei abrindo mão da minha própria saúde, também. Foi aquele momento em que engordei demais, fiquei com diabetes e uma depressão que me acompanhou por muito tempo. Perdi muita saúde na política.

Então, a mudança foi realmente um alívio....

O fato é que eu comemorei muito. Sinto-me liberta disso. Posso voltar com os meus projetos de comunicação, empreendedorismo, inclusive retomar os cuidados com o meu bem-estar, que eu não deixei de lado, mas dei uma pausa. Foi libertador para mim saber que eu não vou voltar mais para a vida pública, porque eu não preciso disso. Eu me coloquei à disposição porque é preciso mais gente decente e honesta na política. Só que isso é um sacrifício para quem não está ali pelo poder ou pelo dinheiro, é um sacrifício grande. Por isso comemorei. Eu realmente estou feliz, eu não derramei uma lágrima. Na verdade, abri uma garrafa de champagne, uma não, algumas para comemorar.

Por que a senhora, que já estava livre da política, resolveu ser candidata novamente, desta vez para a Câmara dos Vereadores?

A política para mim sempre foi uma missão, nunca foi um prazer. Eu nunca estive na política como a maioria dos outros, para me locupletar ou para fazer esquema, ou para ganhar poder. Não foi isso que me atraiu para a política. Então, quando resolvi ser candidata a vereadora, obviamente teve bastante insistência dos partidos, mas realmente fiz isso com o propósito de ser a última candidatura, o último momento em que eu daria essa chance para mim e para esse tipo de vida pública. Tive uma experiência gigante, meus 4 anos de mandato valeram por 30 anos. Veja o mandato de 28 anos do próprio Bolsonaro (na Câmara dos Deputados), que foi presidente da República, foi patético. Eu fiz coisas que deputados que estão lá há 30 anos nunca fizeram. Então pensei que seria desperdiçar essa experiência tão intensa que tive em tão pouco tempo, não usando esse aprendizado todo para ajudar a população. Mas a população não entendeu assim, o projeto de comunicação foi mal feito.

A senhora teve uma votação muito grande em 2018. Agora, não foi assim. Foram mil e tantos votos. O que a senhora acha que aconteceu? Os eleitores mudaram, a senhora mudou?

Fui para a política por um convite, em um determinado momento da história brasileira, em que os ânimos estavam muitíssimo acirrados, talvez tenha sido o pico da polarização. E, apesar de estar em um partido que tinha muita gente de extrema-direita, eu fui com uma cabeça muito mais centrada em ajudar. Tanto que, apesar de ser líder de um governo que foi muito extremista, consegui aprovar projetos importantes, também pela oposição, porque sempre soube dialogar.

Mas, uma das coisas mais fortes que aconteceram para essa mudança toda foi a máquina de destruição do Gabinete do Ódio, que começou a funcionar contra mim ainda no final de 2019 e permaneceu até a eleição de agora. Isso foi muito forte. Não dá para desconsiderar. O que eu posso dizer é que mudei, fiquei muito mais centrada. Eu deixei o excesso de radicalismo de lado e o eleitor se radicalizou ainda mais. Em especial essa patota conservadora que se diz bolsonarista e até meio que se dividiu com o advento do Pablo Marçal.

Então, a influência do extremismo e radicalismo na política brasileira, com candidatos como Pablo Marçal, dificultam a escolha do eleitor?

O conservador extremo ficou mais extremista ainda, mais radical, tornou-se uma extrema direita tão inflexível para qualquer nova ideia que só alguém muito radical mesmo para arrastar essa gente que acredita neles. Em São Paulo, os bolsonaristas votaram em (Ricardo) Nunes por uma ordem, ou então, acabaram abraçando uma outra pessoa radical, que é o Pablo Marçal, a quem eu até declarei voto no início. Mas depois eu me calei na eleição, não falei mais, porque ele foi radicalizando demais e passou do limite aceitável para mim. Eu acabei fazendo a minha campanha sozinha de uma forma mais centrada, mas o Brasil não teve espaço para centralização e só para radicalização. Infelizmente a nossa população está nesse ponto e isso é muito ruim para a política.

A senhora vai sentir falta da vida no Parlamento?

Vou sentir falta da possibilidade de transformar vidas através de projetos significativos, como parlamentar em nível nacional, ou de milhares delas, como seria na municipal, com projetos importantes. A aprovação de projetos importantes, apesar dos desafios e corrupção, é algo que me motivava. Disso eu vou sentir falta. Não quero voltar para a vida pública nem para a administração pública. Como eu disse, eu entrei para a política para ajudar a mudar as vidas das pessoas. Então, se é para ter um espaço, um cargo que sirva muito mais a mim do que a população, no qual eu possa fazer pouco, digo que não me interessa em nada. Eu não quero, não.

Estadão
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