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Política

CPI dos Ônibus vai descobrir se existe 'batom na cueca', diz Paes em sabatina

Em sabatina, prefeito do Rio de Janeiro afirma que não manda na Câmara de Vereadores, mas que age, sim, em projetos de interesse do Executivo

15 ago 2013 - 22h02
(atualizado às 22h37)
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<p>Prefeito do Rio de Janeiro participa de debate inédito na internet</p>
Prefeito do Rio de Janeiro participa de debate inédito na internet
Foto: J.P.Engelbrecht / Prefeitura do Rio

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), participou na noite desta quinta-feira da primeira sabatina online de um prefeito brasileiro com organizações sociais, representadas por diversos segmentos da sociedade, na qual o principal assunto foi a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Ônibus, cuja primeira e tumultuada sessão aconteceu nesta manhã e fechou a avenida Rio Branco por quase cinco horas. Para Paes, a comissão descobrirá se existe “batom na cueca”. 

“Eu já participei muito de CPI, já fiz como oposição (quando deputado federal), e por mais que você tenha vereadores de base, a CPI é um instrumento que permite uma série de informações até confidenciais e a todos o acesso. Se tem batom na cueca, picaretagem, isso pode ser aberto. Vou respeitar a decisão da Câmara”, afirmou o prefeito, após questionamento do músico e ativista social Tico Santa Cruz. 

RJ: estou aqui por causa das manifestações, diz Paes:

A principal crítica ao prefeito gira pelo fato de que, dos 51 vereadores que compõem hoje a Câmara Municipal, apenas oito fazem hoje oposição ao seu governo. O tema que causou uma série de manifestações e a ocupação da casa foi o fato de que a presidência da CPI ficou a cargo de Chiquinho Brazão e a relatoria, com Professor Uóston, ambos do PMDB, da base de Paes, e que sequer assinaram o pedido pela CPI. 

Na conversa simultânea pela internet, conhecida no termo online como hangout, no qual o debate é disposto em telas em que todos os participantes têm poder de intervenção, Paes foi novamente cobrado a cerca do tema da CPI dos Ônibus por Miguel Lago, cientista político do grupo Meu Rio, que cobrou o prefeito sobre seu suposto poder de intervenção na Câmara para que os projetos de seu interesse sejam votados “a toque de caixa”, em contrapartida em que haveria uma espécie de má vontade com a Comissão Parlamentar de Inquérito. 

“Eu não deixo vereador à toa. Eu trato de pressionar, sim. Eu pressiono para projetos de interesse do Executivo. É papel meu pressionar, tem gente acompanhando, líder de governo. Claro que tem. Agora, você tem coisas que não são do Executivo. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito é prerrogativa do Legislativo. Eu não posso pedir uma CPI. Eu mando um projeto de lei. Oposição sempre vai dizer que tem rolo compressor. Eu deixo à vontade quando é prerrogativa do poder Legislativo”, afirmou o prefeito. 

Questionado pela advogada e pesquisadora do Instituto Mais Democracia Fabrícia Ramos se ele considera democrático o fato de que quatro membros da CPI sequer votaram pela sua realização, Paes afirmou que “é um instrumento da democracia. Eu preferia que não tivesse uma Comissão de Parlamentar de Inquérito, preferiria estar eu mesmo explicando, mas isso é democracia”.  

Sergio Cabral

Ainda no debate online, que teve mediação do jornalista da rede Bandeirantes Rodolfo Schneider, Paes foi questionado por Jailson Silva, fundador e diretor do Observatório de Favelas, sobre o “derretimento do governador Sergio Cabral (PMDB)” após as manifestações terem se deflagrado pelo Brasil e, sobretudo, no Rio de Janeiro. 

Cabral foi bastante contestado pelo fato de se omitir da pressão social das ruas, que o chamava de ditador. “Eu não estou aqui para falar do Sergio Cabral, ele mesmo reconheceu que houve falta de diálogo, erros e equívocos”, disse sobre o governador fluminense, seu grande braço direito em suas duas eleições municipais, que está cada vez mais distante de suas aparições públicas. “Eu estou aqui por causa das manifestações”, admitiu. 

RJ: Paes nega gasto com Campus Fidei, que seria usado na JMJ:

“Eu tinha que fazer um esforço extra para dialogar com a cidade. Eu percebi que tinha uma série de movimentos importantes que eu não estava ouvindo”, completou sobre a iniciativa, usada também em outros países, como já ocorreu, por exemplo, com a primeira ministra da Austrália, Julia Gillard, e o presidente dos EUA, Barack Obama. 

Outros temas foram discorridos sobre o processo de encarecimento da cidade, principalmente imobiliário, o que, segundo o prefeito, se deve pelo fato de que “o Rio se tornou uma cidade da moda”, mas que isso não quer dizer que a nobre zona sul, por exemplo, concentre todo este movimento. “Brás de Pina (subúrbio) foi o bairro que mais se valorizou, o segundo foi Madureira”, disse.

Sobre a polêmica escolha do terreno de Guaratiba que deveria servir para a vigília e Missa de Envio da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no mês passado, eventos que passaram para Copacabana, sobrecarregando o bairro, Paes afirmou, após o questionamento do vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), Ronaldo Cramer, que essa decisão foi do Comitê Organizador da JMJ e que “a prefeitura não colocou ali um tostão”.

Sobre o fato de que o local pertenceria, como sócio, ao filho de Jacob Barata, grande empresário do setor de ônibus, o prefeito do Rio foi irônico: “se é de ‘baratinha’ ou ‘pernilongo’, até hoje ninguém me provou”.

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Fonte: Terra
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