CPI do INSS vira campo de disputa política com foco em gestão Bolsonaro
Planalto reorganiza estratégia após perder controle da comissão e tenta evitar que oposição transforme CPI em ferramenta de desgaste
Após sofrer uma derrota na instalação da CPI do INSS, o governo federal reformula sua estratégia para conter o avanço da oposição no colegiado. O Planalto busca associar o esquema de fraudes à gestão de Jair Bolsonaro, reorganiza sua base e mira o controle das votações para evitar convocações sensíveis, como a do irmão do presidente Lula. O novo foco será apresentar uma linha do tempo que demonstre as ações tomadas pela atual gestão para desarticular o esquema.
A derrota do governo na formação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga fraudes no INSS acendeu o alerta no Palácio do Planalto. Sem conseguir garantir a presidência nem a relatoria do colegiado, agora nas mãos da oposição, o governo se reorganiza para evitar que a investigação sirva como palco de ataques à gestão Lula.
A nova estratégia foi articulada em uma série de reuniões com ministros e líderes da base aliada. O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), que coordena a reação governista, tem mantido contato direto com a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e se reuniu com o presidente Lula no Palácio da Alvorada para ajustar os próximos passos.
O foco central será o controle dos requerimentos apresentados na comissão. Integrantes da base aliada trabalham para barrar convocações consideradas sensíveis, como a do sindicalista Frei Chico, irmão do presidente, citado em relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) por sua ligação com o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi). "A oposição quer convocar o Frei Chico só por mera agitação e com a intenção de prejudicar o presidente Lula", afirma o deputado federal Rogério Côrrea (PT-MG), suplente da comissão.
Linha do tempo e foco na gestão anterior
Para conter os danos e inverter a narrativa, o governo pretende apresentar uma cronologia detalhada do esquema de fraudes. A proposta é mostrar que os indícios surgiram ainda durante o governo Jair Bolsonaro e ganharam força naquele período. A linha do tempo destacaria o momento em que as irregularidades atingiram maior escala, até a atual gestão, que, segundo os governistas, agiu prontamente para encerrar o esquema.
Entre as ações destacadas estão a suspensão dos pagamentos suspeitos, mudanças no sistema do INSS para evitar novas fraudes e o ressarcimento de cerca de R$ 1 bilhão a 1,6 milhão de aposentados e pensionistas que tiveram descontos indevidos. O ministro da Previdência, Wolney Queiroz, deve comparecer à CPI para apresentar esse balanço e reforçar a atuação da atual gestão.
Convocações e embates à frente
A base também articula a convocação de ex-integrantes da gestão Bolsonaro, como o ex-presidente do INSS, José Carlos Oliveira, o ex-ministro Onyx Lorenzoni e o senador Rogério Marinho (PL-RN), ex-secretário de Previdência. Um requerimento já foi apresentado para ouvir o próprio Jair Bolsonaro, sob a justificativa de que foi alertado durante a transição de governo sobre as fraudes em andamento.
Paulo Pimenta argumenta que a apuração precisa respeitar a cronologia dos fatos. "Queremos recuperar todas as medidas que foram adotadas no sentido de facilitar que essas entidades pudessem se credenciar e obter adesão junto ao INSS e entender quais mudanças foram feitas para flexibilizar os repasses e dificultar a fiscalização. E, dentro disso, identificar as figuras políticas da história, em cuja gestão aconteceu e quem era ministro", detalha.
Reação à desorganização
A ausência de parlamentares da base na sessão de instalação da CPI, principalmente do MDB, foi um dos pontos criticados após a derrota. Lideranças reclamaram da falta de mobilização do Planalto. Gleisi Hoffmann admitiu falhas de articulação durante reunião com líderes da base e pediu atenção redobrada para os próximos passos.
Diante da fragilidade da maioria — o governo calcula contar com apenas 16 ou 17 dos 32 membros da comissão —, a orientação é substituir suplentes menos engajados por nomes mais alinhados ao Planalto, garantindo presença constante nas sessões e fidelidade nas votações.
Na presidência da CPI está o senador Carlos Viana (Podemos-MG), eleito com apoio da oposição em derrota direta ao senador Omar Aziz (PSD-AM), que era o nome apoiado pelo governo. A relatoria ficou com o deputado Alfredo Gaspar (União-AL), superando o favorito Ricardo Ayres (Republicanos-TO), nome indicado pelo presidente da Câmara.
Do lado da oposição, o senador Izalci Lucas (PL-DF), integrante da CPI, já apresentou mais de 320 requerimentos. "Não tem que ser Lula contra Bolsonaro, mas é claro que haverá xiitas querendo jogar a culpa um no outro. Queremos apurar a verdade."