Uma pizza geral, diz relator sobre conclusão da CPI do Cachoeira
Uma grande pizza. Foi assim que vários parlamentares definiram nesta terça-feira o fim da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista que investigou as relações do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e empresários. "As conclusões são um nada, um vazio, uma pizza geral, lamentável. Apesar de todo o esforço, nós fomos derrotados pela blindagem em favor de Marconi Perillo (governador de Goiás) e da empresa Delta", disse o relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG).
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O relatório de Cunha foi rejeitado por 18 votos a 16 e fez com que a CPI encerasse os trabalhos sem um documento final. Além de votos contrários do PSDB e de partidos menores, o documento foi recusado por alguns parlamentes do PMDB, partido da base do governo. O documento derrotado envolvia 41 pessoas. Todas suspeitas de ligação direta com o esquema ilegal de Carlinhos Cachoeira, acusado de comandar quadrilha de exploração de jogos ilegais, em parceria com servidores públicos. O diretor da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, e o governador Marconi Perillo estavam na lista.
"O que vocês assistiram aqui é pior do que pizza. Os governadores Sérgio Cabral (RJ) e Marconi Perillo (GO), além da empreiteira Delta, se uniram para derrotar o relatório e impedir que a investigação seguisse em frente. O dia de hoje ficará como o dia da infâmia. Um dia em que o Congresso Nacional brasileiro protagonizou uma das maiores vergonhas da sua história", disse o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP).
O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno, também criticou o resultado final da CPI. "O parlamento não cumpre com seu papel de investigar, apurar e encaminhar a quem deve tomar providências. De mais de cinco mil páginas, nós tivemos uma página e meia no voto separado do deputado Luiz Pittman (PMDB-DF), o que é lamentável sob todos os aspectos. Como estamos em véspera de Natal, é uma presepada o que foi aprovado hoje pela Comissão Parlamentar de Inquérito", criticou Rubens Bueno.
"A única vitória daqueles que querem a investigação de um esquema de corrupção, que perpassa o governo federal e vários governos estaduais, foi compartilhamento (de informações) com o Ministério Público Federal", avaliou do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Ele acredita que, apesar do resultado final da comissão, o compartilhamento dos sigilos recebidos pela CPI fará com que as investigações sigam em frente. O ponto citado pelo deputado foi o único de consenso hoje na CPI.
Os parlamentares aprovaram requerimento do deputado Odair Cunha para que os sigilos levantados pela CPI - fiscais, bancários e telefônicos, sejam levados à Procuradoria-Geral da República e ao Ministério Público Federal de Goiás. O compartilhamento está previsto também no voto separado do deputado Luiz Pittman. Com uma página e meia, o documento aprovado na comissão inclui a Polícia Federal, e é considerado o resultado final da CPI.
"As investigações continuarão e serão aprofundadas. E, aí sim, em ambiente sem as influências, que nós aqui tivemos, e isentas por completo, as investigações poderão aprofundar e trazer aos brasileiros os verdadeiros fatos, da mesma forma que Supremo Tribunal Federal trouxe os últimos fatos do mensalão", afirmou Pittman.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.