PUBLICIDADE

CPI do Cachoeira

Uma pizza geral, diz relator sobre conclusão da CPI do Cachoeira

18 dez 2012 - 17h41
(atualizado às 18h56)
Compartilhar
Exibir comentários

Uma grande pizza. Foi assim que vários parlamentares definiram nesta terça-feira o fim da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista que investigou as relações do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e empresários. "As conclusões são um nada, um vazio, uma pizza geral, lamentável. Apesar de todo o esforço, nós fomos derrotados pela blindagem em favor de Marconi Perillo (governador de Goiás) e da empresa Delta", disse o relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG).

O relator da CPI do Cachoeira, Odair Cunha, teve o documento final rejeitado pelos parlamentares
O relator da CPI do Cachoeira, Odair Cunha, teve o documento final rejeitado pelos parlamentares
Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil

CPIs: as investigações que fizeram história 
Cachoeira, o bicheiro que abalou o Brasil
Conheça o império do jogo do bicho no País

O relatório de Cunha foi rejeitado por 18 votos a 16 e fez com que a CPI encerasse os trabalhos sem um documento final. Além de votos contrários do PSDB e de partidos menores, o documento foi recusado por alguns parlamentes do PMDB, partido da base do governo. O documento derrotado envolvia 41 pessoas. Todas suspeitas de ligação direta com o esquema ilegal de Carlinhos Cachoeira, acusado de comandar quadrilha de exploração de jogos ilegais, em parceria com servidores públicos. O diretor da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, e o governador Marconi Perillo estavam na lista.

"O que vocês assistiram aqui é pior do que pizza. Os governadores Sérgio Cabral (RJ) e Marconi Perillo (GO), além da empreiteira Delta, se uniram para derrotar o relatório e impedir que a investigação seguisse em frente. O dia de hoje ficará como o dia da infâmia. Um dia em que o Congresso Nacional brasileiro protagonizou uma das maiores vergonhas da sua história", disse o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP).

O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno, também criticou o resultado final da CPI. "O parlamento não cumpre com seu papel de investigar, apurar e encaminhar a quem deve tomar providências. De mais de cinco mil páginas, nós tivemos uma página e meia no voto separado do deputado Luiz Pittman (PMDB-DF), o que é lamentável sob todos os aspectos. Como estamos em véspera de Natal, é uma presepada o que foi aprovado hoje pela Comissão Parlamentar de Inquérito", criticou Rubens Bueno.

"A única vitória daqueles que querem a investigação de um esquema de corrupção, que perpassa o governo federal e vários governos estaduais, foi compartilhamento (de informações) com o Ministério Público Federal", avaliou do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Ele acredita que, apesar do resultado final da comissão, o compartilhamento dos sigilos recebidos pela CPI fará com que as investigações sigam em frente. O ponto citado pelo deputado foi o único de consenso hoje na CPI.

Os parlamentares aprovaram requerimento do deputado Odair Cunha para que os sigilos levantados pela CPI - fiscais, bancários e telefônicos, sejam levados à Procuradoria-Geral da República e ao Ministério Público Federal de Goiás. O compartilhamento está previsto também no voto separado do deputado Luiz Pittman. Com uma página e meia, o documento aprovado na comissão inclui a Polícia Federal, e é considerado o resultado final da CPI.

"As investigações continuarão e serão aprofundadas. E, aí sim, em ambiente sem as influências, que nós aqui tivemos, e isentas por completo, as investigações poderão aprofundar e trazer aos brasileiros os verdadeiros fatos, da mesma forma que Supremo Tribunal Federal trouxe os últimos fatos do mensalão", afirmou Pittman.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

 
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
 
Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
 
Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.
 
Em 21 de novembro, após 265 dias preso, Carlinhos Cachoeira, deixou a penitenciária da Papuda, em Brasília. No mesmo dia, o contraventor foi condenado pela 5ª Vara Criminal do Distrito Federal a uma pena de 5 anos de prisão por tráfico de influência e formação de quadrilha. Como a sentença é inferior a 8 anos, a juíza Ana Claudia Barreto decidiu soltar Cachoeira, que cumpriria a pena em regime semiaberto.
 
No dia seguinte, o Ministério Público Federal (MPF) de Goiás pediu nova prisão do bicheiro, com base em uma segunda denúncia contra ele e outras 16 pessoas, todos suspeitos de participar de uma intensificação de ações criminosas em Brasília. O pedido foi negado pela Justiça.
No dia 7 de dezembro, Cachoeira voltou a ser preso. O juiz Alderico Rocha Santos, da 11ª Vara Federal de Goiás, condenou o bicheiro a 39 anos, 8 meses e 10 dias de reclusão por diversos crimes relativos à Operação Monte Carlo e determinou sua prisão preventiva. A defesa ainda pode recorrer da decisão.
Agência Brasil Agência Brasil
Compartilhar
Publicidade
Publicidade